Conheça a relação entre o exercício físico e o cancro da próstata, bem como as recomendações sobre o tipo, a intensidade e a frequência do exercício físico, tanto para a prevenção como para a gestão da doença.
Artigo da responsabilidade da Profª Ana Ricardo. Mestre em Exercício e Saúde FMH. Personal Trainer e Group Trainer do Holmes Place Tejo
Com a colaboração especial da Dra Tayrine Filgueira. Personal Trainer com doutoramento em Biologia Aplicada à Saúde
O cancro da próstata é o segundo tipo mais comum de cancro nos homens em todo o mundo e representa, por isso, uma grande preocupação de saúde pública. Fatores de risco como a idade, o histórico familiar e a etnia estão bem estabelecidos, mas o papel de fatores modificáveis, como o estilo de vida, têm vindo a despertar atenção. Neste contexto, o exercício físico tem sido identificado como uma intervenção importante, tanto para a prevenção como para o tratamento do cancro da próstata, melhorando o prognóstico e a qualidade de vida dos seus sobreviventes.
PREVENÇÃO
Diversos estudos epidemiológicos sugerem que homens fisicamente ativos apresentam menor risco de desenvolver cancro da próstata. Uma revisão sistemática com metanálise de Friedenreich et al. (2020) concluiu que a prática regular de exercício físico de intensidade moderada a vigorosa está associada a uma redução de 10% a 20% no risco de desenvolvimento de cancro da próstata, especialmente na forma agressiva da doença.
Entretanto, os mecanismos pelos quais o exercício físico pode prevenir o cancro da próstata ainda estão a ser amplamente investigados. Algumas hipóteses incluem a melhoria na sensibilidade à insulina, a redução dos níveis de inflamação sistémica e a modulação das hormonas sexuais, como a testosterona e o fator de crescimento semelhante à insulina (IGF-1), ambos relacionados à progressão deste cancro.
TRATAMENTO E SOBREVIVÊNCIA
O exercício físico também oferece benefícios significativos em homens diagnosticados e em tratamento para o cancro da próstata. Estudos clínicos, como o de Gardner et al. (2014), demonstram que a prática regular de exercício pode melhorar a qualidade de vida de pacientes em tratamento, reduzindo a fadiga, melhorando a função física e psicológica, além de mitigar os efeitos colaterais da terapia de privação androgénica (TPA) e da radioterapia, comuns no tratamento da doença.
Além disso, o exercício físico melhora a força e massa muscular, aptidão cardiovascular e a saúde óssea em homens em tratamento para o cancro da próstata. Esses efeitos são particularmente importantes, já que o tratamento para este cancro pode causar perda de massa muscular e densidade óssea, aumentando o risco de sarcopenia e fraturas.
Finalmente, há indícios de que o exercício físico pode exercer um efeito protetor sobre a progressão do cancro da próstata e a mortalidade relacionada. Um estudo de Muniz et al. (2021) indicou que homens com cancro de próstata que praticavam três ou mais horas semanais de atividade física vigorosa apresentaram uma redução de 61% na mortalidade específica por cancro de próstata, em comparação com aqueles que realizavam menos de uma hora de atividade física semanal.
MECANISMOS BIOLÓGICOS
Os efeitos protetores do exercício físico no cancro da próstata parecem ser mediados por múltiplos mecanismos biológicos. Primeiramente, o exercício regula os níveis de citocinas inflamatórias, reduzindo o ambiente inflamatório sistémico, que pode contribuir para o desenvolvimento e progressão do cancro. O exercício também melhora o perfil metabólico, modulando a resistência à insulina e os níveis de glicose, o que é relevante, pois níveis elevados de insulina e obesidade estão relacionados a um pior prognóstico no cancro da próstata.
Outro mecanismo proposto é a modulação das hormonas sexuais e do fator de crescimento IGF-1, ambos implicados na carcinogénese prostática. O exercício regular pode diminuir os níveis circulantes de IGF-1, e possivelmente de testosterona, reduzindo o estímulo proliferativo em células tumorais.
RECOMENDAÇÕES DE EXERCÍCIO PARA PREVENÇÃO E TRATAMENTO
Recomenda-se que o sobrevivente de cancro da próstata use a perceção subjetiva de esforço (PSE).
- Exercício aeróbico
O exercício aeróbico, como caminhada rápida, corrida, ciclismo ou natação, deve ser realizado de forma moderada a vigorosa, e é especialmente eficaz na prevenção e no tratamento do cancro da próstata.
Recomenda-se que os homens realizem, pelo menos, 150 minutos semanais de atividade aeróbica moderada (40 a 60% VO2R ou PSE de 12 a 13 numa escala de 6 a 20) ou 75 minutos semanais de atividade vigorosa (60 a 85% VO2R ou PSE de 12 a 16 numa escala de 6 a 20), distribuídos em 3 a 5 dias da semana.
- Exercícios de resistência
Para homens em tratamento, particularmente aqueles em TPA, exercícios resistidos – comummente conhecidos como musculação – são essenciais para preservar e aumentar a massa muscular e óssea. A recomendação é incluir 2 a 3 dias por semana de exercícios de resistência, focando nos grandes grupos musculares, com intensidade ajustada às condições de saúde, principalmente de intensidade moderada (60 a 70% de 1RM), aumentando lentamente conforme aumente a tolerância ao exercício físico e o nível de aptidão física do paciente.
- Exercícios de flexibilidade e alongamento
Exercícios de flexibilidade e alongamento podem ser incorporados na rotina, para melhorar a mobilidade, prevenir lesões e aliviar a tensão muscular. Recomenda-se incluir 15 a 20 minutos diários de alongamentos, principalmente nos dias em que forem realizados exercícios mais intensos.
ADAPTAÇÃO INDIVIDUAL
As recomendações de exercício devem sempre ser personalizadas, tendo em conta a fase do cancro, o tipo de tratamento em curso, a condição física geral e possíveis limitações do paciente.
É crucial que homens em tratamento oncológico procurem a orientação de um profissional de saúde, como um profissional de exercício físico especializado em doentes oncológicos, para que prescreva e monitorize um plano de exercícios seguro e eficaz.
CONCLUSÃO
O exercício físico desempenha um papel fundamental tanto na prevenção como no tratamento e sobrevivência do cancro da próstata, com evidências sólidas de que atividades regulares, como exercícios aeróbicos e de resistência, podem reduzir o risco de desenvolvimento, melhorar a qualidade de vida durante o tratamento e, possivelmente, retardar a progressão da doença.
Assim, a promoção de hábitos de vida ativos deve ser uma prioridade para homens de todas as idades, especialmente aqueles em grupos de risco para o cancro da próstata ou já diagnosticados com a doença.
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