Tem aumentado de forma impressionante, sobretudo nos últimos 15 anos, a evidência sobre o impacto que a microbiota intestinal tem nos mecanismos moleculares que levam à doença.
Artigo da responsabilidade da Profª. Conceição Calhau, Professora Associada com Agregação, Nutrição e Metabolismo NOVA Medical School, UNL

 

O excesso de peso, a obesidade e as doenças metabólicas são condições muito associadas ao estilo de vida e muito aos hábitos alimentares que hoje se assumem inadequados.

O que significa na prática, não só hábitos alimentares que assentam em erros por excesso ou por deficiência, mas também por não respeitarem o relógio biológico, o ritmo circadiano.

Tudo isto no seu conjunto, com o consumo excessivo de açúcar e de sal, consumo insuficiente de hortofrutícolas e ainda uma distribuição de refeições que não respeita o ciclo circadiano, leva a um impacto imediato e crónico na população de micro-organismos que co-habitam o nosso organismo, a chamada microbiota.

Sabe-se que a microbiota representa cerca de metade da carga genética – ou ainda em maior percentagem –, conforme a condição de saúde e a idade, entre outros fatores, e que se reconhece hoje uma enorme importância para a regulação do metabolismo, sobretudo se estivermos a considerar a microbiota intestinal.

IMPACTO NA SAÚDE E NA DOENÇA

Tem aumentado de forma impressionante, sobretudo nos últimos 15 anos, a evidência sobre o impacto que a microbiota intestinal tem, quer na saúde, quer nos mecanismos moleculares que levam à doença.

Assim, e muito concretamente pensando nesta relação, facilmente se compreende o interesse da comunidade científica e médica para a necessidade de intervenções na microbiota intestinal como promissoras, desafiantes e muito provavelmente determinantes em muitos cenários, quer ao nível da sintomatologia, quer da(s) causa(s) da doença.

Cada vez mais a medicina aposta nos estilos de vida como uma variável altamente influenciadora de saúde e que devemos centrar a nossa atenção de investigação e clínica no tratamento das causas e não apenas no tratamento de sintomas.

FATORES MODIFICADORES

Sabendo que o tipo de parto (cesariana ou parto eutócito), a idade gestacional, o tipo de primeiro alimento (leite materno versus leite de fórmula e, dentro destes, que tipo de pre/probiótico podem conter), a exposição a antibióticos, sobretudo nos primeiros anos de vida e os padrões alimentares adotados na diversificação alimentar são fatores-chave que modificam o ecossistema microbiota intestinal.

Na vida adulta acrescentam-se outros fatores modificadores da microbiota, como a preponderância que podem ter os hortícolas no dia alimentar, os produtos de origem animal, a toma de antibióticos, a toma de medicamentos em geral, a exposição crónica a adoçantes artificiais não calóricos (adoçantes), a prática ou não de exercício físico, o stress, o jejum, os hábitos de sono e as horas da refeição (ritmo circadiano).

Leia o artigo completo na edição de setembro 2019 (nº 297)