O médico especialista em Medicina Geral e Familiar Dr. Tiago Maricoto alerta para a necessidade de proteção para outros agentes infeciosos e toxinas nos meses mais quentes e que todos os anos fazem aumentar os casos de gastroenterites em adultos e crianças, tanto nas urgências como nos centros de saúde.

“Os meses de verão são aqueles em que as pessoas passam mais tempo fora de casa. O foco está no coronavírus, mas este não deve ser a única preocupação ao nível da prevenção. As diarreias de verão, além de muito incómodas, desregulam a flora intestinal e enfraquecem o sistema imunitário”, sublinha o médico.

O médico explica que neste contexto das diarreias agudas, mais frequentes nesta época do ano, está “a diarreia do viajante (muitas vezes associada a viagens para países de clima tropical e com diferente microbiota ambiental), as toxinas alimentares (que no verão se devem a alimentos mal conservados e contaminados por microrganismos que proliferam devido às condições climatéricas) ou as parasitoses intestinais, que apesar de pouco prevalentes em Portugal, afetam regularmente as crianças que contactam com animais em ambiente selvagem”.

URGÊNCIAS? TOME NOTA DESTES SINAIS DE ALERTA 

De acordo com o Dr. Tiago Maricoto, a diarreia caracteriza-se por um aumento do número de evacuações intestinais e pela perda da consistência das fezes. Frisa que a maioria dos episódios são agudos, com duração de cinco a sete dias e resolvem-se espontaneamente com cuidados gerais de saúde. No entanto, alerta que há “quadros que se fazem acompanhar por outros sintomas, como náuseas, vómitos, dores abdominais e musculares, febre, ou mesmo sangue e muco nas fezes”.

“Alguns destes quadros de diarreia podem estar associados a condições clínicas mais graves, necessitando de observação e tratamento médico adequado. A ajuda médica deve ser procurada em situações de diarreia prolongada e persistente, ou associada a vómitos repetitivos que impeçam a adequada hidratação e nutrição, na presença de febre elevada e persistente, confusão e desorientação, ou se também houver perda de sangue nas fezes”, esclarece. E acrescenta que “os idosos, as crianças com menos de 2 anos e as pessoas com doenças crónicas graves são mais vulneráveis e, como tal, deverão ter atenção especial nestes casos”.

COMO PREVENIR E TRATAR? 

Segundo o Dr. Tiago Maricoto, a melhor forma de prevenir episódios de diarreia “é através de cuidados de higiene e alimentação adequados, evitando o risco de contágio, quer por agentes infeciosos quer por alimentos contaminados ou mal conservados”. Por esse motivo, salienta que deve haver uma atenção especial para a forma de conservação dos alimentos, privilegiando alimentos frescos, reforçando a hidratação regular, principalmente nas crianças mais ativas e nos idosos frágeis”. Além disso, o médico recomenda higienizar regularmente as mãos e evitar ambientes de potencial contágio (como praias de água não controlada) e o contacto com animais selvagens. Acrescenta que, em caso de viagem para o estrangeiro, deve-se privilegiar água engarrafada e restaurantes de confeção internacional.

 COMO REEQUILIBRAR O INTESTINO? 

“Uma hidratação adequada é de crucial importância durante o período de verão, quer para prevenir eventuais episódios de diarreia, mas também durante o tratamento da mesma”, afirma o médico. Habitualmente, do ponto de vista médico, a chamada diarreia de verão não necessita de tratamentos farmacológicos, bastando para tal uma alimentação adequada, com alimentos neutros e de digestão fácil (como maçã, banana, carnes magras e peixe, arroz, batata e sopa) e evitar alimentos de pH ácido, ricos em gorduras ou com especiarias. “No entanto, para uma recuperação mais rápida que permita usufruir mais das férias podemos recorrer a tratamentos farmacológicos”, refere.

O Dr. Tiago Maricoto sublinha que “a toma de medicamentos para ‘travar’ a diarreia, como a loperamida, não é por norma recomendada, uma vez que impede o sistema digestivo de ‘expulsar’ adequadamente a causa do problema, estando associada a outros efeitos adversos e podendo mesmo agravar a desregulação da microbiota intestinal e o seu normal funcionamento”.

Em vez disso, recomenda os probióticos, uma vez que têm um papel muito importante no reequilíbrio da microbiota intestinal. “O seu papel passa não só pelo normal equilíbrio da flora bacteriana intestinal, mas também pelo funcionamento adequado do sistema imunitário, estando por isso recomendados pelas sociedades médicas internacionais de gastroenterologia”, explica. Entre as opções que considera mais eficazes e mais recomendadas encontra-se o Saccharomyces boulardii CNCM I-745, estudado desde há muitos anos e muito utilizado em Portugal, e que ajuda a diminuir a duração do episódio de diarreia, bem como a promover uma recuperação mais rápida e natural.