O número de pessoas com excesso de peso e alterações metabólicas tem vindo a aumentar significativamente, em grande parte devido ao estilo de vida atual: alimentação pouco equilibrada, consumo frequente de alimentos altamente processados, falta de atividade física e rotinas sedentárias.

Artigo da responsabilidade do Prof. Dr. Nicolai Worm

Estas escolhas, quando prolongadas no tempo, podem comprometer o equilíbrio natural do organismo. Por isso, a atenção à alimentação e ao estilo de vida torna-se essencial para apoiar a saúde de forma global.

Um dos pontos-chave é ajustar o consumo de hidratos de carbono ao nível de atividade física, promovendo um equilíbrio energético mais adequado. Outro aspeto importante é a inclusão de nutrientes com funções comprovadas no organismo, como os ácidos gordos ómega-3 EPA e DHA, presentes em peixes gordos e suplementos de origem marinha. Estes nutrientes contribuem para o normal funcionamento do coração, do cérebro e da visão.

Aliados a uma alimentação equilibrada, a prática regular de exercício físico e o descanso adequado são pilares fundamentais para apoiar o bem-estar a longo prazo.

O AÇÚCAR COMO FONTE DE ENERGIA

Os hidratos de carbono dos alimentos transformam-se, durante a digestão, em açúcar simples, que passa para o sangue através do intestino. O açúcar no sangue aumenta e é levado até aos músculos e ao fígado.

Para que o açúcar entre nas células, precisamos de insulina. A insulina funciona como uma chave que abre a célula e deixa o açúcar entrar. O açúcar que não é usado de imediato é armazenado sob a forma de glicogénio, que pode ser utilizado quando os músculos ou o fígado precisam de energia.

As reservas de glicogénio nos músculos e no fígado são limitadas. Apenas com atividade física é possível esgotá-las temporariamente, para depois serem repostas.

SOBRECARGA DO SISTEMA

O que acontece no corpo quando as reservas de energia estão cheias e continuamos a ingerir hidratos de carbono? O excesso de açúcar pode ser transformado em gordura, num processo chamado lipogénese, que ocorre no fígado e nos músculos. Além disso, as células de gordura conseguem absorver a glicose, transformá-la em gordura e armazená-la.

Com o tempo, a gordura tende a acumular-se no abdómen, nos glúteos e nas pernas. Enquanto as células de gordura conseguem armazenar o excesso, permanecemos saudáveis. Mas um estilo de vida pouco saudável por longos períodos pode levar as células de gordura a perder capacidade de armazenamento e a inflamar. Quando isto acontece, a gordura armazenada é libertada para o sangue e o corpo procura novos locais para a guardar. O primeiro local é a cavidade abdominal, que consegue armazenar grandes quantidades de gordura.

Porém, a gordura pode acumular-se nos órgãos da cavidade abdominal, como o fígado, o pâncreas, e até nos rins e no coração. A presença de gordura nestes órgãos favorece a inflamação, que a longo prazo pode prejudicar o seu funcionamento. Com o tempo, instala-se uma inflamação silenciosa no tecido adiposo e nos órgãos, agravando ainda mais a saúde metabólica do organismo.

RESULTADO: DOENÇAS METABÓLICAS

O acúmulo excessivo de gordura no fígado, que não é causado pelo consumo de álcool, resulta muitas vezes do estilo de vida moderno e é conhecido como doença hepática gordurosa não alcoólica – ou fígado gordo.

O problema é que esta doença pode não causar sintomas durante muito tempo e afeta também pessoas aparentemente magras e saudáveis, que não estão acima do peso, mas consomem muitos hidratos de carbono e têm gordura acumulada internamente.

Quanto mais gordura se acumula no fígado, maior é a tendência deste órgão para libertar gordura para o sangue. Isto pode contribuir para a chamada síndrome metabólica, associada a níveis elevados de triglicerídeos, baixos níveis de colesterol “bom” (HDL) e níveis altos de colesterol “mau” (LDL).

Normalmente, a insulina controla a quantidade de açúcar que o fígado liberta para o sangue. Quando há fígado gordo, as células do fígado tornam-se resistentes à insulina e deixam de regular corretamente a libertação de açúcar. Como resultado, o fígado liberta demasiado açúcar para o sangue, não só à noite, mas também após as refeições. Isto leva a níveis elevados de açúcar no sangue em jejum e a picos de açúcar após comer. Por isso, o fígado gordo é um fator de risco importante para o desenvolvimento de diabetes tipo 2.

O fígado gordo também interfere com o sistema de coagulação do sangue, aumentando o risco de formação de tromboses. Em conjunto com as doenças metabólicas, isto explica por que motivo esta doença representa um elevado risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares.

CONTROLE A INFLAMAÇÃO

Para o tratamento das doenças metabólicas, é essencial aumentar a atividade muscular e proceder a uma modificação equilibrada do padrão alimentar.

Uma vez que a resistência à insulina (e a síndrome metabólica) constituem sinais de perturbações do metabolismo dos hidratos de carbono, a intervenção nutricional deve centrar-se na redução da ingestão total de hidratos de carbono e na escolha criteriosa das respetivas fontes.

Deve, em particular, limitar-se de forma significativa o consumo de alimentos refinados e ricos em amido, substituindo-os por alimentos com elevado teor em fibra e água, como legumes, hortaliças, cogumelos, bagas e frutas.

Paralelamente, é igualmente importante introduzir alterações alimentares que contribuam para a modulação dos processos inflamatórios crónicos. Atualmente, a ingestão de nutrientes com papel na regulação da inflamação tende a ser insuficiente.

O equilíbrio saudável destes processos depende, em grande medida, da qualidade das gorduras consumidas, nomeadamente dos ácidos gordos polinsaturados das famílias ómega-6 e ómega-3.

Os ácidos gordos ómega-6 e ómega-3 são precursores de diversas substâncias bioativas, incluindo mediadores lipídicos envolvidos na regulação de múltiplas funções fisiológicas. O equilíbrio entre estas duas famílias é considerado relevante para o funcionamento adequado do organismo, sendo geralmente apontada uma proporção próxima de 2:1 a 3:1 (ómega-6 / ómega-3) como referência nutricional.

Contudo, este equilíbrio tem vindo a ser afetado pelos padrões alimentares modernos. A intensificação da produção animal – com o uso de rações ricas em cereais e leguminosas com elevado teor de ómega-6, como o milho e a soja – bem como a utilização generalizada de óleos vegetais ricos em ómega-6, como o óleo de girassol, na indústria alimentar e na restauração, contribuíram para um aumento significativo da ingestão deste tipo de gordura nas últimas décadas.

Paralelamente, o consumo de peixes gordos marinhos, naturalmente ricos em ácidos gordos ómega-3, tem diminuído, e o teor de ómega-3 em peixes de aquacultura também tende a ser inferior, devido às alterações na sua alimentação.

Como consequência, em vários países europeus, observa-se frequentemente uma proporção de ómega-6 / ómega-3 situada entre 12:1 e 20:1, muito acima dos valores nutricionalmente recomendados. Este desequilíbrio pode estar associado a alterações metabólicas e inflamatórias que contribuem para o aumento do risco de disfunções metabólicas e cardiovasculares.

Promover uma ingestão adequada de ómega-3 e moderar o consumo de ómega-6 são, por isso, medidas nutricionais importantes para favorecer o equilíbrio lipídico e o normal funcionamento do metabolismo.

Substituição de óleos para promover um melhor equilíbrio entre ómega-6 e ómega-3

  • Evite o consumo de óleos de girassol, grainha de uva e milho, bem como das margarinas produzidas a partir destes.
  • Prefira óleos de azeitona, linhaça, colza (canola) ou noz, que apresentam um perfil de ácidos gordos mais equilibrado.
  • Para cremes para barrar e molhos, opte por manteiga ou nata, em vez de margarina ou óleo de girassol.
  • Escolha carne, produtos lácteos e ovos provenientes de animais alimentados à base de pasto, sempre que possível.
  • Dê preferência a peixes gordos, como arenque, cavala e salmão, fontes naturais de ácidos gordos ómega-3 (EPA e DHA).
  • Em alternativa ao consumo de peixe, suplementos de ómega-3 devidamente certificados podem contribuir para uma ingestão adequada de EPA e DHA, habitualmente na ordem dos 2000 mg por dia, conforme orientação profissional.

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