A Hematologia tem experimentado avanços recentes e significativos, que se traduzem na introdução de terapias inovadoras, métodos de diagnóstico mais rápidos e precisos, bem como desenvolvimento de fármacos que alteram substancialmente o prognóstico destas doenças.
Artigo da responsabilidade da Dra. Cátia Lino Gaspar. Médica hematologista
A Hematologia Clínica é a especialidade médica dedicada ao diagnóstico e tratamento das doenças do sangue e dos órgãos hematopoiéticos, como a medula óssea e os gânglios linfáticos.
Além de tratar de patologias como anemia, leucemia, linfoma e mieloma múltiplo, a Hematologia desempenha um papel fundamental na investigação e aplicação de novas abordagens terapêuticas. E, neste âmbito, tem testemunhado avanços extraordinários.
Entre as terapêuticas inovadoras que têm vindo a surgir destacam-se a imunoterapia, que utiliza o próprio sistema imunitário para combater as células malignas; e as terapias-alvo, que interferem em mecanismos moleculares específicos das células doentes, que sendo mais específicas aumentam a taxa de sucesso dos tratamentos. A terapia celular, como o transplante de medula óssea e, mais recentemente, as terapias com células CAR-T revolucionaram o tratamento de várias doenças hematológicas, proporcionando uma esperança renovada e melhores resultados.
DOENÇAS DO SANGUE
As doenças do sangue podem afetar diferentes componentes do sangue, incluindo os glóbulos vermelhos, as plaquetas, os glóbulos brancos e o plasma. Alterações hematológicas prevalentes incluem:
A ANEMIA, definida como uma diminuição quantitativa de glóbulos vermelhos ou hemoglobina, resultando em sintomas como fadiga, astenia e distúrbios do sono.
A TROMBOCITOPENIA, por seu lado, corresponde à redução do número de plaquetas circulantes, podendo ser decorrente de mecanismos autoimunes, etiologias infeciosas ou insuficiência da medula óssea.
Já a LEUCEMIA – com uma incidência inferior – é uma neoplasia hematológica que compromete a medula óssea e o sangue periférico, caracterizando-se pela produção desregulada de glóbulos brancos e apresentando forma aguda, de curso agressivo, e crónica, com uma evolução mais indolente.
O LINFOMA corresponde à neoplasia maligna do sistema linfático mais comum. Esta condição resulta da proliferação clonal e desregulada de linfócitos em diferentes fases de maturação, podendo originar-se em qualquer território linfático, como gânglios (cervicais, axilares, mediastínicos, abdominais ou inguinais) e em órgãos extra-ganglionares. As manifestações clínicas mais comuns englobam o aparecimento de nódulos indolores (aumento do volume dos gânglios linfáticos), frequentemente associadas a sintomas sistémicos denominados sintomas B (febre não explicada, suores noturnos e perda ponderal).
O MIELOMA MÚLTIPLO é outro tipo de neoplasia hematológica maligna, caracterizada pela proliferação clonal de plasmócitos na medula óssea. Esta doença resulta da produção excessiva de imunoglobulinas monoclonais, o que pode levar ao aparecimento de queixas de dor óssea decorrente de lesões líticas, fraturas patológicas, anemia, aumento do cálcio e insuficiência renal relacionada com a precipitação de cadeias leves nas vias urinárias e ao depósito de proteínas anormais nos rins. É uma doença progressiva e que requer abordagem terapêutica multidisciplinar.
AVANÇOS SIGNIFICATIVOS
Recentemente, a Hematologia tem experimentado avanços significativos, que se traduzem na introdução de terapias inovadoras, métodos diagnósticos mais rápidos e precisos, bem como desenvolvimento de fármacos que alteram substancialmente o prognóstico destas doenças.
Durante décadas, a quimioterapia foi a principal arma contra as doenças hematológicas, a qual, apesar de eficaz, afeta também as células saudáveis, provocando efeitos secundários significativos.
Neste contexto, surgiram as terapêuticas dirigidas, também designadas por “targeted therapies“, fármacos desenvolvidos com o objetivo de atuar de forma seletiva sobre as células tumorais, inibindo proteínas específicas ou mutações genéticas cruciais para a proliferação neoplásica. O Imatinib constituiu o primeiro exemplo paradigmático deste grupo terapêutico, tendo revolucionado o tratamento da leucemia mieloide crónica até aos dias de hoje.
Estas estratégias demonstram ser capazes de manter o controlo das doenças durante longos períodos, associando-se a um perfil de efeitos secundários consideravelmente mais reduzido em comparação com a quimioterapia tradicional.
Leia o artigo completo na edição de setembro 2025 (nº 363)
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