A gestão das doenças reumáticas inflamatórias constitui um desafio nas mulheres em idade fértil, grávidas ou a pensar em engravidar.

Artigo da responsabilidade da Dra. Patrícia Nero. Coordenadora de Reumatologia no Hospital CUF Descobertas.

 

Classicamente, o reumatismo é associado a idades avançadas, mas, na verdade, há mais de uma centena de doenças reumáticas que podem afetar pessoas de qualquer faixa etária, incluindo bebés e crianças.

As doenças reumáticas inflamatórias são, de facto, mais frequentes nas idades médias da vida, sendo sobretudo um desafio a sua gestão nas mulheres em idade fértil, grávidas ou a pensar em engravidar. Embora a fertilidade em si não seja afetada por estas doenças, pode ser comprometida por alguns medicamentos usados para as tratar.

POSSÍVEIS COMPLICAÇÕES

Na gravidez, é importante conhecer como pode evoluir a doença reumática e o seu tratamento. O principal objetivo, na mulher grávida com doença reumática, é manter a doença controlada, com fármacos que não afetem a mãe ou o bebé, não se podendo ignorar o facto de que a doença não controlada também tem riscos para ambos. As doenças reumáticas classicamente influenciadas pela gravidez são a artrite reumatoide, o lúpus eritematoso sistémico e a síndrome do anticorpo antifosfolípido.

A artrite reumatoide é uma doença que, habitualmente, melhora durante a gravidez, sendo possível reduzir a medicação, neste período, mas agrava no pós-parto, tão cedo como no primeiro mês.

Já a grávida com lúpus, geralmente, tem um agravamento da doença, com crises de gravidade ligeira a moderada, mas são raras as situações que colocam em risco a vida da mãe ou do feto.

Na síndrome do anticorpo antifosfolípido, a formação de coágulos nas artérias e/ou veias origina a ocorrência de tromboses e, na gravidez, aumenta a probabilidade de ocorrência de aborto, nascimento prematuro, hipertensão arterial e consequente pré-eclampsia, ou atraso de crescimento intrauterino.

DOENÇA CONTROLADA

É do senso comum que é sempre preferível uma gravidez livre de fármacos. Mas, quando há doença, é mandatório que esta esteja controlada, a partir do período pré-concecional. Uma mulher com doença reumática que pretenda engravidar, deve fazê-lo após 3 a 6 meses com a sua doença em remissão ou bem controlada, mantendo depois a medicação que faz, desde que não seja nociva para o feto.

Alguns fármacos são teratogénicos, isto é, podem provocar malformações no feto, pelo que devem ser interrompidos, antes da gravidez. Contudo, há medicamentos, como alguns imunossupressores e fármacos biológicos, que são efetivamente seguros na gravidez e devem ser mantidos, para o adequado controlo da doença. Alguns são seguros durante todo o tempo de gestação, outros apenas num período (habitualmente, há fármacos que não devem ser usados no primeiro trimestre, quando se forma o embrião, ou no último, por interferirem com o desenvolvimento do aparelho cardiovascular ou por aumentarem o risco de infeção no bebé, após o nascimento).

É fundamental que a gravidez seja sempre planeada, na mulher com doença reumática, em estreita colaboração com os médicos reumatologista e obstetra que a seguem, para manter a saúde da mãe e do bebé e tornar assim possível o tão desejado desfecho feliz.

Leia o dossier completo na edição de setembro 2023 (nº 341)