À medida que avançamos para um futuro alimentar mais sustentável e inovador, a adoção de novas fontes de proteína pode ter um impacto profundo na saúde das populações.

Artigo da responsabilidade da Dra. Filipa Medeiros de Almeida. Licenciada em Dietética e Nutrição pela ESTeSL. Especialista em Marketing e MBA da London School of Business and Finance. Sócia da girohc

 

O mundo enfrenta vários desafios e o ecossistema alimentar não é exceção. O crescimento populacional, as alterações climáticas e a escassez de recursos naturais exigem uma transformação urgente nos sistemas alimentares.

À medida que a produção alimentar global se adapta a estas pressões, a população também se torna mais informada e exigente. Hoje, os consumidores não se preocupam apenas com o sabor e a acessibilidade dos alimentos, mas também com o impacto que os mesmos têm na saúde e no meio ambiente. Este aumento na literacia em saúde está a moldar as tendências alimentares do futuro, forçando a indústria a acelerar o desenvolvimento de soluções inovadoras e sustentáveis, apoiadas por tecnologia de ponta e regulamentações rigorosas.

IMPACTO NAS DOENÇAS CRÓNICAS

Neste contexto de mudança, é crucial analisar como estas inovações alimentares podem afetar pessoas com condições crónicas, como a diabetes. As novas opções alimentares, como insetos e carne cultivada em laboratório, oferecem promissoras alternativas que podem não só melhorar a qualidade da dieta, mas também ajudar a controlar a glicémia e a prevenir complicações associadas à diabetes.

Em Portugal, cerca de 1 milhão de pessoas tem diabetes, mais de 2 milhões têm pré-diabetes e a prevalência continua a aumentar anualmente. Como tal, é mais importante do que nunca compreender como o futuro da alimentação pode desempenhar um papel na sua prevenção e gestão.

INSETOS COMO FONTE DE PROTEÍNA

Uma das inovações mais notáveis na alimentação do futuro é a utilização de insetos como fonte de proteína. Estes insetos, como grilos, gafanhotos e larvas, são atualmente cultivados em explorações controladas, principalmente na Ásia, África e América Latina, mas a sua produção está a crescer em regiões como a Europa e América do Norte.

Em termos de formatos, já podemos encontrar insetos em pó para adicionar a alimentos, barras de proteína à base de farinha de inseto e até snacks de insetos inteiros, como grilos crocantes. Atualmente, no mercado europeu, produtos como farinhas proteicas de grilo estão à venda, e espera-se que mais produtos, como massas e bolachas fortificadas com proteína de insetos, se tornem comuns nos próximos anos.

DIFERENÇAS NUTRICIONAIS

Quando comparamos os insetos a fontes tradicionais de proteína animal, como a carne de vaca, as diferenças nutricionais são notáveis. Por exemplo, 100 gramas de grilo em pó podem conter até 65 gramas de proteína, enquanto a mesma quantidade de carne de vaca cozida contém entre 20 a 26 gramas de proteína.

Além disso, os insetos apresentam um perfil lipídico mais equilibrado, com menos gordura saturada e maior concentração de ácidos gordos insaturados, benéficos para a saúde cardiovascular. São uma fonte excecional de proteína de alta qualidade e fornecem micronutrientes essenciais, como ferro e zinco, ambos mais biodisponíveis do que nas fontes vegetais.

Embora os insetos contenham pouca ou nenhuma fibra, o seu valor nutricional destaca-se pelo elevado teor de aminoácidos essenciais, importantes para a síntese proteica e o bom funcionamento do organismo.

PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL

Para pessoas com diabetes, os alimentos à base de insetos oferecem vantagens significativas: o seu alto teor proteico promove a saciedade e ajuda no controlo do peso, enquanto o baixo teor de hidratos de carbono e a sua digestão lenta contribuem para uma resposta glicémica mais estável, ajudando a prevenir picos de glicose no sangue.

A produção de insetos é altamente sustentável, exigindo menos água, terra e recursos do que a criação de gado. Enquanto 1 kg de carne de vaca necessita de cerca de 15.000 litros de água para ser produzido, 1 kg de insetos requer apenas uma fração desse valor, o que faz dos insetos uma opção extremamente atrativa tanto do ponto de vista ambiental como nutricional.

CARNE CULTIVADA EM LABORATÓRIO

Outra tendência alimentar que está a captar a atenção global é a carne cultivada em laboratório. Ao contrário da produção convencional de carne, este processo envolve o cultivo de células musculares em biorreatores, o que elimina a necessidade de abater animais e reduz drasticamente o impacto ambiental. A carne cultivada, ainda em fases iniciais de comercialização, já está disponível em alguns países, principalmente sob a forma de hambúrgueres e nuggets de frango.

Do ponto de vista nutricional, a carne cultivada pode ser manipulada para apresentar um perfil lipídico mais equilibrado, com menos gordura saturada e mais ácidos gordos insaturados, o que é benéfico para a saúde cardiovascular e para o controlo do peso. Este fator é crucial para pessoas com diabetes, que devem manter um controlo rigoroso sobre o consumo de gorduras saturadas para reduzir o risco de complicações cardiovasculares, uma das principais causas de mortalidade entre os diabéticos.

Além disso, a carne cultivada tem o potencial de incluir fortificações adicionais, como ómega-3 ou outros nutrientes, oferecendo uma fonte de proteína mais ajustada às necessidades nutricionais de diferentes grupos populacionais. No futuro, prevê-se que a carne cultivada possa desempenhar um papel importante na alimentação global, ao reduzir a pressão sobre os recursos naturais e melhorar a qualidade da dieta.

Leia o artigo completo na edição de fevereiro 2025 (nº 357)