O tratamento fisioterapêutico tem um papel fundamental na abordagem das disfunções sexuais, contribuindo para uma maior saúde íntima.

Artigo da responsabilidade da Dra. Fabiane Dell`Antônio. Mestrado em Ciência da Saúde Humana. Especializações em Neuropsicologia (PUC-PR); Fisioterapia em Uroginecologia (INSPIRAR-PR); Sexualidade Humana (USP-SP). Professora de Curso de Pós-Graduação em Fisioterapia na Saúde da Mulher. Palestrante e consultora. Criadora linha terapêutica Peridell.

 

 

A qualidade de vida de uma pessoa é altamente influenciada pela função e satisfação sexual, uma vez que está associada, não somente ao ato sexual, mas também aos pensamentos, desejos, fantasias. A sexualidade está fortemente relacionada a fatores biológicos, psicológicos, sociais e culturais, económicos, religiosos e éticos, que são herdados de geração em geração (VIEIRA et al., 2016).

Tendo em vista este alto poder de influência sobre a qualidade de vida, é correto afirmar que possivelmente índices baixos de função e satisfação sexual impactam negativamente na qualidade de vida (RODRIGUES et al., 2019).

A saúde sexual – ou íntima – é definida pela Organização Mundial de Saúde como sendo um direito de todo ser humano, motivadora de intimidade, contacto e amor. Ela interfere no modo como sentimos, tocamos e somos tocados, nos nossos pensamentos, sentimentos, ações e interações.

A desigualdade, a pobreza e a falta de acesso à educação são os três fatores sociais determinantes na influência da saúde sexual.

Uma pessoa terá saúde íntima quando está satisfeita com a sua vida sexual. Por fim, a nossa sexualidade influencia a nossa saúde física e mental.

SEXUALIDADE NÃO É SÓ SEXO!

A sexualidade faz parte da personalidade da pessoa, não é só sexo! Inclui bem-estar, autoestima, autocuidado e interfere nos relacionamentos gerais.

A sexualidade é um aspeto central do ser humano ao longo da vida. Engloba sexo, identidades e papéis de género, orientação sexual, erotismo, prazer, intimidade e reprodução. A sexualidade é vivida e expressada por meio de pensamentos, fantasias, desejos, crenças, atitudes, valores, comportamentos, práticas, papéis e relacionamentos. Embora a sexualidade possa incluir todas essas dimensões, nem sempre todas elas são vividas ou expressas.

IMPORTÂNCIA DOS MÚSCULOS PÉLVICOS

A pessoa terá capacidade de sentir prazer e satisfação sexual enquanto seus MAP (músculos do assoalho pélvico) forem saudáveis, com tónus normalizado, elasticidade, força e capacidade de adaptar-se ao ato sexual praticado para evitar dor ou algum constrangimento. Deste modo, no caso das mulheres, elas sentirão prazer e/ou orgasmo, e isso irá contribuir para ter desejo sexual (libido), ter uma adequada lubrificação vaginal quando estiver excitada e boa sensibilidade local para sentir prazer. Isso tudo favorecerá o orgasmo e prevenirá alterações e queixas sexuais.

Mas quando a saúde íntima for alterada ou perdida, terá alterações nos seus músculos íntimos e comprometimento nas sensações de prazer e orgasmo. Com o tempo, haverá alterações na lubrificação, no desejo e, possivelmente, surgirão queixas. Por fim, não terá satisfação sexual.

PAPEL DA FISIOTERAPIA PÉLVICA

A Fisioterapia Pélvica é conhecida como uma área que atua em Uroginecologia, Obstetrícia e Proctologia. Todas estas denominações ocorrem porque a Fisioterapia Pélvica atua em distúrbios cinético-funcionais da pelve humana, tanto em homens, quanto em mulheres e em crianças.

O fisioterapeuta que atende na área pélvica deve ter uma especialização para saber avaliar, prevenir e tratar disfunções locais, incluindo ossos, articulações, órgãos pélvicos, músculos e fáscias na região do períneo. Esta especialização é reconhecida como Saúde da Mulher – mesmo atuando também na saúde do homem.

O tratamento fisioterapêutico tem um papel fundamental na abordagem das disfunções sexuais. O treino dos músculos do assoalho pélvico pode combinar técnicas simples e de baixo custo, que são importantes para aquisição de controlo sobre os músculos que circundam o introito vaginal, favorecendo a contração e o relaxamento da musculatura do assoalho pélvico.

GINÁSTICA ÍNTIMA

Exercícios pélvicos ou exercícios de Kegel são exercícios realizados com os músculos íntimos, ou seja, com os músculos do assoalho pélvico, com o objetivo de melhorar a saúde local, adquirir coordenação e elasticidade nos movimentos, melhorar a sensibilidade e o relaxamento, aumentar a força local e a capacidade de realizar exercícios durante as práticas sexuais, além de, com o tempo, melhorar muito o prazer e a performance sexual.

Os exercícios pélvicos devem ser ensinados por um profissional capacitado, com conhecimento em anatomia e fisiologia, com compreensão das limitações da aprendizagem e da realização, assim como das necessidades individuais de cada mulher.

Os exercícios íntimos, de modo geral, possuem efeitos positivos na vida da pessoa, nomeadamente: facilitar o conhecimento da sua intimidade e compreender melhor a sua anatomia, desejos, necessidades, limites e dificuldades sexuais.

Leia o artigo completo na edição de fevereiro 2023 (nº 335)