A sexualidade durante a gravidez é um assunto que suscita bastantes dúvidas e medos entre a todos os casais “grávidos”. Dúvidas e medos que urge eliminar.

Artigo da responsabilidade da Dra. Marisa Marques. Psicóloga Clínica e da Saúde; Trofa Saúde Hospital de Barcelos e Trofa Saúde Hospital de Braga Norte

 

Hoje sabemos que a sexualidade representa saúde e bem-estar na vida de qualquer um de nós. A importância da sexualidade deve ser devidamente reconhecida, nomeadamente durante a gravidez, uma etapa marcante e única na vida de uma mulher e do seu companheiro, bem como de toda a sua família.

Este momento especial comporta diversas mudanças a nível físico, psicológico e hormonal, e por este motivo, torna-se essencial promover uma boa relação sexual, de forma a facilitar e harmonizar a passagem desta fase tão importante da vida de um casal.

Neste sentido, é importante viver a gravidez sem culpas, com tolerância mútua, descomplicar e estar bem informado. Estes são, sem dúvida, fatores decisivos para manter e reforçar a cumplicidade entre o casal.

FALTA DE INFORMAÇÃO, MITOS E TABUS

A sexualidade durante a gravidez é um assunto que suscita bastantes dúvidas e medos entre todos os casais “grávidos”.

Durante a gestação, surge sempre uma série de preocupações e ansiedades que são, maioritariamente, alimentadas pela falta de informação, mitos e tabus. A persistência até aos dias de hoje destes mitos e tabus faz como que nem os vários estudos científicos realizados até ao momento alterem a visão acerca da sexualidade na gravidez.

Na verdade, numa gravidez normal, a relação sexual em nada prejudica ou aumenta o risco de complicações para a saúde materno-fetal; bem pelo contrário, torna-se imprescindível continuar a trabalhar e dedicar-se à sexualidade durante a gravidez.

DIMINUIÇÃO DA ATIVIDADE SEXUAL

Esta informação torna-se cada vez mais relevante, uma vez que, ao que parece, atualmente os casais têm algum receio de pedir informações, detetando-se na maioria deles uma diminuição da atividade sexual entre 40 a 60 por cento.

No trabalho apresentado em “Sexualidade na Gravidez e Após o Parto” (Editora Clínica Psiquiátrica dos Hospitais Universitários de Coimbra), Ana Isabel Silva e Bárbara Figueiredo escrevem que “o período de gravidez e pós-parto é caracterizado por mudanças biológicas, psicológicas, relacionais e sociais intensas, que podem ter uma influência direta e indireta na vivência da sexualidade”.

Várias investigações neste âmbito revelaram que a gravidez e o pós-parto “constituem uma fase crítica para o início ou o agravamento de problemas sexuais”, uma vez que o desejo e o interesse sexual “tendem a diminuir”.

Ainda segundo Ana Isabel Silva, investigadora no Departamento de Psicologia da Universidade do Minho e na Maternidade Júlio Dinis, no Porto, e Bárbara Figueiredo, professora associada do Departamento de Psicologia da Universidade do Minho, as alterações que ocorrem no corpo da mulher ao longo do tempo de gestação, por vezes, dão lugar “a sentimentos de perda de autoestima, devido a perceções subjetivas de fraca atratividade física e incapacidade de sedução”, escrevem na tese “Sexualidade na Gravidez e Após o Parto”.

Ora, quando este sentimento ocorre, é bem possível que o desejo sexual tenha tendência a retrair-se e, consequentemente, a ligação e intimidade do casal sejam inevitavelmente afetadas.

VIVÊNCIA DA SEXUALIDADE

Os principais mitos e medos em relação à sexualidade durante a gravidez focam-se na preocupação de poder magoar o bebé, tendo como consequências, alegadamente, afetar a gravidez, provocar aborto ou parto prematuro.

No entanto, estudos realizados por colegas obstetras concluíram que não existe uma relação entre os níveis de oxitocina aumentados – devido ao orgasmo e prazer – e a indução do trabalho de parto e da maturação cervical, pelo que o sexo na gravidez não evidencia qualquer impacto negativo no crescimento e bem-estar do feto, nem em questões relacionadas com o parto.

No entanto, o aumento do volume da barriga e da sensibilidade do peito, a fadiga e o sono, alterações hormonais, alterações emocionais e da libido são condições que podem interferir com o desejo sexual da mulher, influenciando a forma como passa a viver a sua sexualidade durante o período de gestação, nomeadamente no terceiro trimestre.

EXPLORAR OUTRAS FORMAS

Posto isto, é importante que os casais tenham consciência que as mudanças e flutuações do interesse sexual são comuns e que as atividades sexuais devem ser permitidas e até estimuladas, podendo inclusive explorar outras formas de sexualidade. A masturbação mútua ou solitária, posições sexuais alternativas e outras modalidades sexuais deverão ser exploradas pelo casal.

No primeiro trimestre, para promover a intimidade sexual do casal, o homem pode acariciar, massajar e acompanhar a mulher em consultas e aulas pré-natais. Quando entramos no segundo trimestre, a gravidez já se encontra implementada e aí começam a sentir-se os medos e anseios no casal, especialmente a preocupação de magoar o feto durante o ato sexual. Neste momento, o médico obstetra deverá estar atento a qualquer contraindicação à atividade sexual e esclarecer todas as dúvidas e medos dos pais.

Por último, no terceiro trimestre, a atividade sexual costuma decrescer significativamente, especialmente devido ao medo da indução do parto prematuro. Nesta situação, o casal deverá ser esclarecido que não existem evidências destas consequências, que o mais relevante neste momento deverá ser a preparação psicológica do casal para o parto e para o futuro filho, e que uma boa intimidade e a coesão entre ambos levará, sem dúvida, a um maior sucesso nesta tarefa.

Leia o artigo completo na edição de fevereiro 2023 (nº 335)