Ninguém duvida que o exercício físico é fundamental para se sentir bem física e emocionalmente. Mas já pensou que também tem um papel preponderante na manutenção da sua saúde digestiva?

 

Artigo da responsabilidade da Prof.ª Dra Susana Lopes. Gastrenterologista. A convite da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia.

 

O sistema digestivo tem, de uma forma sumária, a função de obter a energia necessária ao funcionamento do nosso organismo, através da degradação dos alimentos, e posterior eliminação dos resíduos resultantes do metabolismo. Os alimentos atravessam o tubo digestivo impulsionados pelos movimentos peristálticos, resultantes de contrações dos músculos existentes na sua parede.

ATIVIDADE FÍSICA ESTIMULA O SISTEMA DIGESTIVO

Um estilo de vida sedentário pode conduzir a uma variedade de alterações digestivas, como obstipação, flatulência, distensão abdominal e dificuldade em fazer a digestão.

Pelo contrário, a atividade física regular estimula o sistema digestivo, prevenindo o aparecimento de doenças e sintomas. Ao praticarmos exercício, o fluxo sanguíneo dirigido aos músculos do tubo digestivo aumenta e o sistema digestivo trabalha mais e melhor.

Todos sabemos da importância da flora intestinal na manutenção da nossa saúde e que desequilíbrios na sua composição podem desencadear várias situações de doença. Mais de 2/3 do nosso sistema imunológico está localizado no tubo digestivo, pelo que, se a sua saúde está comprometida, o mesmo acontece com a nossa imunidade e capacidade de combater doenças.

COMPROVADO POR ESTUDOS CIENTÍFICOS

Vários trabalhos científicos têm comprovado que o exercício aumenta a diversidade de microrganismos no tubo digestivo e, desse modo, contribuiu para a homeostasia do nosso corpo.

Os benefícios do exercício não se limitam ao efeito imediato de queima de calorias e desintoxicação, mas associam-se aos benefícios de um sistema digestivo saudável, que se prolongam para além do final do treino. O exercício físico regular conduz a uma diminuição dos microrganismos associados a doenças inflamatórias, obesidade, diabetes mellitus e doença cardíaca.

Vários estudos demonstraram igualmente que a atividade física tem um efeito benéfico na redução da intensidade e frequência dos sintomas em indivíduos com síndrome do intestino irritável, nomeadamente a distensão abdominal e flatulência. Este benefício resulta de uma diminuição dos níveis de stress, melhoria da qualidade do sono, dos níveis de energia e das relações sociais.

Os exercícios que fortalecem a parede abdominal atuam também no peristaltismo intestinal, controlando a sensação de inchaço e flatulência e promovendo a evacuação.

NA DOENÇA DIVERTICULAR

Sabe-se também que a doença diverticular é mais prevalente em indivíduos sedentários, sendo a incidência de complicações inferior em indivíduos fisicamente ativos, enquanto os obesos inativos são os que apresentam maior risco de doença diverticular complicada. Pensa-se que o exercício físico vigoroso, como corrida, ciclismo, natação ou ténis, seja responsável por uma diminuição da pressão cólica, aceleração do trânsito alimentar através do tubo digestivo e diminuição da obstipação, que se sabe serem fatores de risco para doença diverticular complicada.

DIMINUIÇÃO DO RISCO DE CANCRO

O cancro do cólon e reto (CCR), principal causa de morte por cancro em Portugal, pode permanecer assintomático até fases avançadas da doença. Sabe-se que a atividade física diminui o risco de desenvolvimento de neoplasias gastrointestinais, especialmente CCR. Esta diminuição deve-se, em parte, ao controlo de fatores de risco conhecidos para o desenvolvimento de CCR, como a obesidade, resistência à insulina, diminuição da função imunológica e níveis elevados de triglicerídeos.

Leia o artigo completo na edição de junho 2022 (nº 328)