A osteoporose é uma doença comum, com consequências significativas, quer ao nível da mortalidade, quer da morbilidade. A melhor forma de a contrariar é através de uma abordagem preventiva.

 

Artigo da responsabilidade do Dr. Carlos Vaz, reumatologista no Hospital de Santa Maria, Porto.

 

 

A osteoporose é, por definição, uma doença do esqueleto em que, por alterações da estrutura (qualidade) e da quantidade do osso, este se torna mais frágil e tende a partir com a mais pequena solicitação.

O que se verifica é que, com o avançar da idade, o risco de um indivíduo vir a sofrer uma fratura na sequência de um traumatismo ligeiro aumenta.

As fraturas mais características da osteoporose são, numa fase mais precoce da vida, as do punho e as das vértebras e, numa idade mais avançada, as da anca.

UMA FRATURA A CADA 3 SEGUNDOS

A osteoporose é uma doença comum, mas progride de uma maneira silenciosa. Como não há sintomas associados à perda óssea, que é uma característica relevante desta doença, isto permite que a sua evolução passe despercebida, acabando por ser feito o diagnóstico apenas na sequência de uma fratura. Estas também são muito comuns neste contexto.

Sabemos que, a nível mundial, ocorrem por ano cerca de 9 milhões de novas fraturas osteoporóticas, sendo que 1,6 milhões são da anca, 1,7 milhões do punho e 1,4 milhões das vértebras. Isto corresponde, aproximadamente, à ocorrência de uma nova fratura a cada 3 segundos. Daí a necessidade de investir na sua prevenção e tratamento.

Apesar de esta doença estar associada ao sexo feminino, os homens também podem vir a ter osteoporose e a sofrer uma fratura. De facto, 1 em cada 3 mulheres e 1 em cada 5 homens com mais de 50 anos de idade virão a ter uma fratura de fragilidade.

Em Portugal, segundo o EpiReumaPt – Estudo Epidemiológico das Doenças Reumáticas em Portugal, 10,2% da população portuguesa tem osteoporose, sendo que nas mulheres a prevalência é de 17% e nos homens de 2,6 por cento.

IMPACTO BASTANTE MARCADO

Poderíamos ser tentados a pensar que as fraturas não têm um grande impacto na vida de uma pessoa, já que após o tratamento e a consolidação do osso fraturado, a vida do doente retomaria o seu curso normal. A realidade não poderia ser mais diferente, pois estas fraturas causam alterações marcantes na vida de um indivíduo.

Existe um aumento de risco de mortalidade, que pode atingir os 20% no primeiro ano, no caso das fraturas da anca, o que significa que, de 5 indivíduos que sofram uma fratura, só 4 estarão vivos ao fim de 1 ano.

Mesmo sobrevivendo, o impacto na qualidade de vida é também bastante marcado, já que após uma fratura destas, uma percentagem significativa de indivíduos que eram autónomos, ficam dependentes de outrem para a realização das tarefas de vida diária e alguns necessitam mesmo de ser institucionalizados.

PREVENÇÃO PRIMÁRIA

Tendo em conta o que foi exposto, é premente identificar os indivíduos que estejam em risco, para poderem ser tratados e, consequentemente, diminuir de risco de fratura.

A identificação dos indivíduos que necessitam de terapêutica pode ser feita a dois níveis, dependendo de já existir, ou não, uma fratura resultante de um traumatismo ligeiro, chamada fratura de fragilidade ou de baixo impacto.

Caso um indivíduo não tenha tido nenhuma fratura, a identificação do risco é, normalmente, efetuada nos cuidados primários de saúde, ou seja, pelo médico de família que, durante a avaliação do doente, integra os fatores de risco (idade, doenças que possam estar associadas a osteoporose, medicação, hábitos alimentares, atividade física, etc.).

A integração desta avaliação com uma densitometria, que é o exame utilizado para diagnosticar osteoporose, permite decidir se uma pessoa necessita de tratamento e de que tipo. Este processo é designado de prevenção primária da osteoporose, porque é feita antes da ocorrência de fraturas.

PREVENÇÃO SECUNDÁRIA

Existe também um processo de prevenção secundária, em que a identificação do indivíduo com osteoporose é feita após uma fratura de fragilidade.

O tratamento destes indivíduos implica uma estratégia diferente e em várias vertentes. Por um lado, há necessidade de reforçar a estrutura óssea e torná-la mais robusta. Para este fim, existem vários fármacos que podem ser prescritos pelo médico. A par disto, o exercício físico tem também um papel relevante nesta componente do tratamento.

Por outro lado, há necessidade de evitar que os doentes caiam, já que a fratura, normalmente ocorre na sequência de uma pequena queda. Neste sentido, além do exercício físico, há necessidade de identificar outras doenças ou outras condições que facilitem as quedas. Aqui a deteção de problemas neurológicos, reumáticos, cardíacos e/ou oculares são importantes para que se possa definir uma estratégia terapêutica que minimize o risco de fratura.

Leia o artigo completo na edição de dezembro 2022 (nº 333)