Estudo internacional liderado por Elsa Lamy, investigadora do Instituto Mediterrâneo para Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento (MED), com a participação de Maria Raquel Lucas, da Escola de Ciências Sociais e Fernando Capela e Silva e Sofia Tavares, da Escola de Ciências da Saúde e Desenvolvimento Humano, da Universidade de Évora (UÉ), aponta diferenças no comportamento do consumo alimentar no primeiro período de confinamento devido à pandemia de covid-19.
Os resultados mostram que houve um aumento no consumo de alimentos doces, como bolos e bolachas, principalmente em países desenvolvidos e sobretudo no grupo de pessoas em que as motivações ligadas à busca de prazer e conforto, nos alimentos, é maior. Por outro lado, houve um aumento do consumo de hortícolas, frutas frescas e lacticínios no grupo de pessoas com maior escolaridade e mais motivadas pela saúde, destaca a investigadora que liderou este estudo que teve como base 3.332 respostas recolhidos em 16 países, sendo 72,8% na Europa, 12,8% na África, 2,2% na América do Norte (EUA) e 12,2% na América do Sul.
Os resultados do estudo agora publicado sugerem que as principais motivações percebidas para impulsionar a ingestão alimentar foram a familiaridade e o gosto, identificando-se dois clusters diferentes, com base na frequência de consumo alimentar, os quais foram classificados como “mais saudável” e “não saudável”. Elsa Lamy, sublinha que, também a este respeito, “a formação é essencial na promoção de uma alimentação saudável. A escolaridade, para além de contribuir para esta formação contribui também para maior segurança económica e menos ansiedade e isso reflete-se em menor necessidade de alimentos “de conforto”, como são os alimentos altamente palatáveis. Igualmente importante de distinguir o que são efeitos mais ou menos generalizados, e grandemente condicionados pelas limitações no acesso e na saída de casa, como são os casos de um aumento da confeção de alimentos em casa e o menor consumo de alimentos pré-preparados, apresentando resultados diferentes entre os tipos de grupos.
Um dos aspetos deste estudo que maior interesse suscitou à investigadora foi verificar a existência de dois grupos de participantes, ou seja, “um em que as mudanças foram no sentido de uma alimentação mais saudável e outro cuja mudança induzida pela situação de confinamento resultou numa pioria dos hábitos alimentares”, sendo muito “interessante” verificar “que são os indivíduos com taxa de escolaridade mais elevada e cujo comportamento alimentar é motivado por fatores relacionados com a saúde e ambiente que conseguiram esta mudança positiva”, enquanto que, pelo contrário, menor taxa de escolaridade ficou associado a “alterações no sentido de uma alimentação menos saudável em indivíduos cujas escolhas são principalmente motivadas pelo prazer, e regulação afetiva”.
É muito importante verificar que as alterações alimentares nestas circunstâncias “não devem ser generalizadas a toda a população observando-se variações em sentido diferente, consoante os fatores que motivam o consumo. Pensa-se que este conhecimento possa ajudar a definir estratégias mais eficazes, na medida em que as mesmas possam ser ajustadas em função das características de cada indivíduo”, sugerindo que o mesmo possa ajudar em situações futuras, “e seja adotado para a promoção de uma alimentação saudável e sustentável”, sublinha.
Com este estudo, foi possível constatar que se as pessoas tiveram condições vão cozinhar mais em casa, aumentam o consumo de hortícolas e até consomem mais alimentos em comércio de proximidade (o que também se observou) e esse facto é de extrema importância no contexto atual, em que há uma grande pressão para a promoção de hábitos alimentares mais saudáveis e sustentáveis”, considerando ainda que o estudo “tem a grande mais-valia de ter permitido recolher dados em 16 países e dar uma imagem mais global daquilo que são alterações nos hábitos alimentares provocados por uma situação extrema como a vivida em março-maio de 2020”.