Artigo da responsabilidade da Dra. Ana Correia Azevedo, interna de Formação Específica de Medicina Geral e Familiar na USF Famalicão I
A fibrilhação auricular (FA) é uma doença do ritmo cardíaco em que os batimentos cardíacos são irregulares e, habitualmente, rápidos. Trata-se da arritmia cardíaca mais comum a nível mundial e, até por consequência da maior esperança média de vida, prevê-se que venha a aumentar. Portugal não é exceção. Um estudo, que remonta a 2010, estimou que a prevalência da FA é de 2,5% sendo que o valor atinge aos 10% na população acima dos 65 anos – sim, um em cada dez portugueses com mais de 65 anos desenvolve esta arritmia!
A FA é responsável por um aumento da mortalidade, estando associada a doenças como insuficiência cardíaca e acidentes vasculares cerebrais (AVC). Esta arritmia prejudica substancialmente a qualidade de vida das pessoas, contribui para o aumento de hospitalizações e está, também, ligada ao aumento do risco de depressão e de demência.
Embora o doente possa procurar o médico por sensação de palpitações ou cansaço, a verdade é que esta doença é muitas vezes assintomática impondo-se a necessidade de ser atempadamente diagnosticada antes que surjam complicações. Assim será importante, sobretudo se tiver mais do que 65 anos, a realização de exames que avaliem o ritmo cardíaco (por exemplo: eletrocardiograma) mas, também, estar atento à palpação do seu pulso radial. Para tal, deverá colocar a mão na região do punho e avaliar, durante 60 segundos, a pulsação é fundamental para perceber se é rítmica e regular.
Efetivamente, esta arritmia é responsável por 20 a 30% dos AVC isquémicos (“trombose”) sendo este risco significativamente reduzido com os fármacos anticoagulantes. Em Portugal, à semelhança da Europa, as normas recomendam, para a maioria dos doentes, a prescrição de um anticoagulante oral direto (DOAC). Esta classe farmacológica, embora relativamente recente, já conta com vários medicamentos diferentes o que permite, ao médico, prescrever para cada doente a opção que melhor se ajusta às suas caraterísticas (às suas doenças, peso, idade…).
Os DOAC, em relação aos anticoagulantes mais antigos, trazem a vantagem de não precisarem de monitorização periódica (“controlo de sangue”), terem rápido início e fim de ação bem como dosagem fixa. Ainda a respeito da dosagem, há a referir que os DOAC podem ser tomados uma ou duas vezes por dia. Se é verdade que a toma única diária permite aumentar a adesão ao tratamento é, também, verdade que o esquema de 2 tomas minimiza o impacto se houver um incumprimento inadvertido na toma do medicamento. Assim se reduz o risco de AVC. Assim se reduz o risco de morte.
Numa doença tão comum, com riscos tão significativos para a saúde e qualidade de vida, diagnosticar e medicar é vital. Esteja atento aos sintomas, esteja atento ao seu pulso e tome de forma escrupulosa a medicação prescrita pelo seu médico.