Apesar de a pandemia ter colocado as questões da saúde sob os holofotes da comunicação social e da opinião pública mundial, é um facto que o nível de literacia em saúde dos portugueses ainda pode ser considerado problemático.

Nas últimas duas décadas, diferentes estudos têm demonstrado que o padrão de iliteracia aumenta com a idade também, observando-se uma progressão inversa no que respeita ao nível de escolaridade, isto é, quanto maior o nível de estudos, maior o nível de literacia.

Os mesmos estudos demonstram que o défice de literacia em saúde tem implicações significativas na utilização dos serviços sanitários e, consequentemente, nos gastos nesta área. Estes traduzem-se especialmente numa maior taxa de morbilidade em doenças como diabetes, hipertensão, obesidade e infeção por VIH; numa utilização menos eficiente dos serviços de saúde; numa maior taxa de hospitalizações e de utilização das urgências hospitalares; e numa menor utilização de cuidados preventivos, como sejam os rastreios oncológicos – citologia, mamografia e colonoscopia, por exemplo – e a vacinação. Um nível de conhecimento em saúde inadequado conduz, ainda, a uma autogestão deficiente em caso de doença crónica.

Relacionando a literacia em saúde com os gastos do setor, os peritos acreditam que a promoção da literacia em saúde pode mudar o comportamento das pessoas, bem como o seu perfil de utilização do sistema e dos recursos, o que pode significar uma poupança nos gastos em saúde.

Porém, a busca individual por um aumento do conhecimento em saúde também comporta riscos. O motor de busca Google tem-se tornado um aliado de qualquer pesquisa e a internet tem sido uma das maiores fontes de informação sobre saúde, principalmente durante estes meses de pandemia. O problema é que vários estudos comprovam que a informação disponível é muitas vezes incorreta e proveniente de fontes pouco credíveis. Para além do reforço de mitos e medos infundados, não são raros os doentes que chegam ao consultório com autodiagnósticos ou soluções de tratamentos baseados no “Dr. Google”. Não quer isto dizer que seja incorreto pesquisar, porque é uma forma de promover a literacia, mas é fundamental selecionar fontes credíveis. É importante que se perceba se os sites contêm conteúdos criados por profissionais de saúde, são especializados e/ou pertencem a instituições ou sociedades científicas, que conhecemos e às quais atribuímos credibilidade.