Se chegar a casa ao fim do dia com as pernas inchadas, pesadas e doridas é normal para si, é importante que saiba duas coisas: a primeira é que não está sozinha, já que essa sensação atinge 35% da população adulta portuguesa; e a segunda é que esses sinais que o seu corpo está a dar são sintomas de uma patologia, a doença venosa crónica (dvc).

 

Artigo da responsabilidade da Dra. Joana Ferreira, Médica especialista em Angiologia e Cirurgia Vascular

 

Atingindo cerca de 3 milhões de portugueses, dos quais 60% são mulheres, a doença venosa crónica (DVC) é frequentemente minimizada e o seu diagnóstico e tratamento estão muito aquém do desejável. Este constitui um problema grave para as pessoas afetadas e para o sistema de saúde, já que as consequências da DVC não tratada têm um elevado impacto na qualidade de vida dos doentes, levando mesmo, em situações mais graves, a reformas antecipadas.

 PATOLOGIA CRÓNICA E EVOLUTIVA

A doença venosa crónica é uma patologia crónica e evolutiva. Ou seja, é para a vida e, se não for tratada, evolui de maneira irreversível.

Mas porque é que acontece? Explicando de um forma simples, o sistema circulatório inclui artérias que bombeiam o sangue do coração para o resto do corpo, e veias que trazem o sangue de volta ao coração. A DVC afeta as veias das pernas que transportam o sangue para o coração – que já de si têm a sua tarefa dificultada pela força da gravidade. Na presença da patologia, esta tarefa não é muito bem sucedida – e é por isso que é comum dizermos que temos “má circulação”.

Quando não diagnosticada e tratada, com a evolução, a DVC pode resultar em varizes, edema (pernas extremamente inchadas), alteração da cor da pele ou mesmo úlceras venosas.

É por isso que é fundamental estar atenta aos sinais: dores nas pernas, pernas inchadas e cansadas, ardor, cãibras noturnas, comichão ou dormência são alguns dos primeiros sintomas que surgem. São também minimizados por serem tão comuns.

IDEIAS ERRADAS

Além desta minimização dos alertas das nossas pernas, oiço, por vezes, às vezes outras ideias erradas que penso ser importante clarificar.

  • Só quem tem uma profissão em que passa muito tempo em pé tem que ter atenção às pernas

Nada mais errado. Estar muito tempo parada, em pé, mas também sentada, é igualmente prejudicial. Ambas as situações provocam estagnação do sangue nas veias.

  • É uma doença, não posso fazer nada para evitar

Se é verdade que alguns fatores de risco não dependem do próprio doente, como o historial familiar, o avançar da idade ou o número de gravidezes, outros dependem diretamente do estilo de vida, como o excesso de peso, o tabagismo e o sedentarismo.

  • Este é um problema de mulheres

É um facto que se estima que, pelo menos, 2 milhões de portuguesas sofram de DVC. No entanto, esta é uma patologia que afeta também muitos homens. O importante é não ignorar os sinais.

  • O grande problema é estético

Não podemos negar que pernas inchadas, varizes ou os vulgarmente chamados derrames são muito inestéticos. Mas a DVC é muito mais do que isso. Acarreta uma inflamação crónica das veias das pernas que, se não for tratada, pode evoluir de forma muito negativa, como a úlcera venosa ou a trombose venosa superficial (tromboflebite).  Nunca é demais sublinhar que este é um problema médico.

  • Sim, tenho as pernas inchadas, mas faço umas massagens de vez em quando e ajuda

É importante, para aliviar os sintomas da DVC, fazer massagens regulares, mesmo automassagem, em movimentos ascendentes e circulares. No entanto, este alívio circunscreve-se aos sinais da DVC e é localizado no tempo. É importante diagnosticar e tratar adequadamente a doença.

Leia o artigo completo na edição de julho/agosto 2019 (nº 296)