As doenças reumáticas podem afetar os olhos de várias formas, causando condições como olho seco, episclerite, esclerite e uveíte.

Artigo da responsabilidade da Dra. Marta Guedes. Oftalmologista no Hospital CUF Tejo e na Clínica CUF Belém

 

O olho seco – também conhecido como queratoconjuntivite seca – causa desconforto, ardor e a sensação de “areia nos olhos”. Em casos graves, pode levar a problemas de visão e dor intensa. Esta situação está frequentemente associada a doenças como lúpus, artrite reumatoide e síndrome de Sjogren primário. Existe uma inflamação crónica das glândulas lacrimais, que conduz a uma produção diminuída de lágrima e lubrificação ocular insuficiente.

Além de controlar a doença subjacente, é importante a utilização de colírios (gotas oftálmicas) e géis de lubrificação ocular, diariamente. Em alguns casos, pode ser necessário tratamento com soro autólogo ou imunossupressores.

INFLAMAÇÕES COM IMPACTO OCULAR

A episclerite e a esclerite são inflamações no tecido fibroso e vascular que reveste o globo ocular. Causam vermelhidão localizada no olho e dor que agrava com os movimentos oculares. A esclerite pode ser especialmente dolorosa e debilitante.

Embora estas condições, em 50% dos casos, sejam idiopáticas (isto é, sem uma causa aparente), podem surgir associadas a doenças reumáticas, como a artrite reumatoide, lúpus, artrite psoriática ou granulomatose de Wegener, entre outras.

O tratamento passa pelo uso de colírios para reduzir a inflamação, além de anti-inflamatórios para controlar a dor.

No caso das espondilartropatias soronegativas, como espondilite anquilosante ou artrite psoriática, a complicação ocular mais frequente é a uveíte. A uveíte é uma inflamação da úvea (a zona pigmentada do olho, composta pela íris, corpo ciliar e coroide), que pode causar dor, olho vermelho, fotofobia (sensibilidade à luz) e diminuição significativa da visão.

É essencial diagnosticar a uveíte precocemente e iniciar o tratamento o mais rápido possível, pois a inflamação descontrolada pode levar a complicações oculares a longo prazo, como catarata e glaucoma. O tratamento inclui o uso de corticoides e, em alguns casos, podem ser necessários imunossupressores. Em situações mais graves, é recomendada terapêutica com anticorpos monoclonais.

ACOMPANHAMENTO OFTALMOLÓGICO

Outra situação em que é fundamental o seguimento pela Oftalmologia é a de crianças diagnosticadas com artrite idiopática juvenil. Nesta patologia, a uveíte é frequentemente assintomática e é, por isso, importante que o envolvimento ocular seja excluído, mesmo quando a criança não tem queixas do foro oftalmológico.

É crucial que as pessoas com doença reumática diagnosticada fiquem atentas a possíveis sintomas oculares, já que o tratamento destas condições é tanto mais eficaz quanto mais atempado. O aconselhamento e orientação terapêutica feitos pelo oftalmologista são fundamentais, para prevenir ou tratar as consequências oculares das doenças reumáticas e manter a saúde dos olhos.

Leia o dossier completo na edição de setembro 2023 (nº 341)