O verão chegou em força e nunca é demais relembrar o perigo que as vagas de calor podem representar para os doentes crónicos e para os mais velhos.

Artigo da responsabilidade da Dra. Carla Dinis da Silva. Especialista em Medicina Geral e Familiar no Hospital CUF Tejo

 

Em condições normais, o corpo humano tem a capacidade de manter a sua temperatura mais ou menos inalterada, mesmo quando exposto ao calor extremo. Neste processo, chamado termorregulação, está envolvido o cérebro (hipotálamo), os sistemas cardiovascular e respiratório, os rins, a pele e o sistema endócrino.

Como responde o nosso corpo ao calor?

A primeira resposta do nosso corpo ao calor é a dilatação dos vasos sanguíneos e o aumento da frequência cardíaca. Segue-se uma segunda linha de resposta, que leva ao aumento da produção de suor e, ao mesmo tempo, de hormona antidiurética, para compensar a perda de líquidos e sais. Por fim, dá-se um aumento da perda de calor no ar que expiramos, através da hiperventilação.

Contudo, nem sempre o corpo tem a capacidade de regular corretamente a nossa temperatura. Nesses casos, a exposição prolongada ao calor pode levar a desidratação, falência de órgãos ou a uma subida demasiado rápida da temperatura corporal e consequente diminuição das capacidades físicas e mentais.

Capacidade de adaptação ao calor é menor nos doentes crónicos?

A diminuição da capacidade de adaptação ao calor é especialmente comum nos doentes crónicos, em particular nos idosos, que têm, frequentemente, doenças crónicas conjugadas com outras patologias. Seja uma consequência das doenças em questão, da medicação ou dos tratamentos utilizados, ou mesmo pela perda natural de funções com a idade, o processo de termorregulação do corpo é menos eficaz e pode conduzir à descompensação das suas patologias.

A que sinais de alerta devem estes doentes estar atentos?

Nos doentes crónicos, a produção de suor é mais demorada e o seu efeito termorregulador é mais lento, o que pode levar a um maior aumento das frequências cardíaca e respiratória e da dilatação dos vasos, para compensar. Consequentemente, surgem sinais como inchaço das pernas e descida da tensão arterial, que pode provocar tonturas e mal-estar, seguidos de desmaio. Uma descida excessiva da tensão arterial pode, ainda, ter efeitos negativos sobre determinados órgãos vitais, como o cérebro, o coração ou o rim, ao reduzir a quantidade de sangue que chega aos mesmos. Assim, perante estes sinais, é fundamental consultar o médico, para avaliação e eventual ajuste do tratamento ou da medicação.

Não só a doença cardíaca, mas também a doença renal crónica, as doenças respiratórias e a diabetes aumentam a probabilidade de complicações decorrentes da exposição ao calor, especialmente, de desidratação. A sensação de boca seca, a descida da tensão arterial com ou sem tonturas associadas, os olhos encovados e a diminuição da urina são sinais precoces de desidratação, a que os doentes crónicos e seus cuidadores devem ficar atentos. Quando surgem, o doente deve ser imediatamente reavaliado pelo médico.

Como prevenir complicações?

A chave para a evitar as complicações associadas ao calor é a prevenção. No caso dos doentes crónicos, implica, geralmente, uma adaptação dos hábitos de vida e da rotina diária, especialmente no verão:

  • O ambiente em que o doente se encontra deve ser mantido fresco, idealmente climatizado, evitando permanecer no exterior nas horas mais quentes (entre as 11:00 e as 17:00). Na impossibilidade de climatização, as persianas e as janelas devem ficar fechadas, nas horas de maior calor e sempre que a temperatura exterior for superior à do espaço interior. Nas horas de menor calor e à noite, aproveite para arejar o local.
  • Evitar esforços físicos em ambiente de calor. Isto inclui tanto a prática de exercício físico, como esforços em contexto laboral ou doméstico.
  • O vestuário também deve ser adaptado. É aconselhável o uso de tecidos frescos, como o algodão e o linho. Caso a pessoa tenha necessidade de permanecer no exterior, deve usar chapéu de abas largas e roupa larga e opaca, que cubra a maior parte da superfície corporal.
  • Uma hidratação adequada é fundamental, e a água mineral fresca é a melhor opção. A ingestão de água deve ser feita, preferencialmente, entre as refeições, numa medida de cerca de 8 copos de água por dia, sem excessos, de forma a evitar a retenção ou distúrbios ao nível dos sais minerais.

Relembro que o acompanhamento médico regular de pessoas com doenças crónicas é fundamental, sendo aconselhável que sejam reavaliados de 6 em 6 meses e, em especial, após a entrada da estação quente.