Com a sua presença diária, a doença crónica obriga-nos a refletir sobre a vida, as suas imperfeições e as condições em que somos nós próprios chamados a enfrentá-la.
Propor um modelo de saúde perfeito e de bem-estar total, que ignore o limite, o defeito, as imperfeições, as inevitáveis carências inerentes a cada pessoa, é o mito de uma perfeição inatingível. Esquece que as limitações, os condicionalismos e as insuficiências são as condições normais em que se realiza a existência de cada um.
Embora saudável, a vida humana é, por definição, imperfeita e mortal. É no interior destes condicionamentos, maiores ou menores, de acordo com cada pessoa, que todos nós somos chamados a viver.
UM GRANDE DESAFIO
A doença crónica representa um grande desafio porque impõe limitações físicas. Ela é duradoura, não têm cura e, frequentemente, requer tratamentos complicados. A partir do seu aparecimento, deve-se enfrentar diariamente com ânimo, apesar de ser uma condição de incapacidade e mal-estar, de menor ou maior gravidade, com tendência para piorar.
O doente crónico deve ser o exemplo da possibilidade de se viver com grandes condicionalismos físicos. Ainda que, por vezes, com graves deficiências e em momentos de dificuldade e de desequilíbrio, este deverá retirar daí oportunidades de realização pessoal. Perante a doença crónica, não curável ou com tendência a piorar, o que importa é tudo aquilo que lhe permita viver da melhor maneira e em toda a sua dimensão.
PORQUÊ EU?
Perante o diagnóstico da doença é frequente a pessoa questionar-se: “porquê eu?”. Aceitamos a doença com dificuldade e procuramos sempre encontrar uma explicação. A doença é incompreensível, insensata, inexplicável e injusta.
Como realidade inevitável, a aceitação requer tempo. É um processo de maturação onde a irritação e a depressão se estruturam; embora, muitas vezes, não desapareçam totalmente.
Não existe qualquer passividade nesta profunda aceitação da própria doença, mas sim a consciência de que apenas a partir do reconhecimento de tal condição é possível ver os seus limites e condicionalismos e, igualmente, as oportunidades.
Este processo de aceitação é moroso e pode ser posto várias vezes em causa, ao longo do percurso de vida do doente crónico. Este processo é longo e denso em acontecimentos, é um vaivém, que frequentemente põe em perigo uma aceitação que já parecia consolidada.
Leia o artigo completo na edição de junho 2016 (nº 262)