A diabetes gestacional está associada a complicações, quer para a mãe quer para o bebé. Por isso, é importante um acompanhamento em consulta de alto risco obstétrico.
Artigo da responsabilidade da Dra. Luísa Martins, coordenadora da Unidade de Alto Risco Obstétrico no Hospital CUF Descobertas
Diabetes gestacional define-se como a intolerância aos hidratos de carbono que é diagnosticada pela primeira vez durante a gravidez. Tem uma incidência de 14%, a qual têm vindo a aumentar ao longo dos anos, principalmente pelo adiar da maternidade e pelo aumento da obesidade a nível mundial.
A diabetes gestacional está associada a complicações, quer para a mãe quer para o bebé. Por isso, é importante um acompanhamento em consulta de alto risco obstétrico.
PORQUE SURGE?
Durante a gravidez, as hormonas produzidas pela placenta atuam de modo a aumentar os níveis de açúcar no sangue da mãe e, assim, proporcionar um ambiente adequado ao desenvolvimento do feto. O pâncreas tem de aumentar a produção de insulina de modo a compensar o excesso de açúcar. Quando a produção de insulina não consegue colmatar o aumento dos níveis de açúcar, estamos perante uma diabetes gestacional.
QUEM TEM RISCO DE DESENVOLVER DIABETES GESTACIONAL?
Existem vários fatores que contribuem para o aparecimento de diabetes gestacional. A idade materna superior a 35 anos e o excesso de peso são fatores importantes. De salientar que, na Europa, 20% das grávidas têm mais de 35 anos e 10% são obesas.
A diabetes gestacional em gravidez anterior, filhos com peso ao nascer superior a 4kg, a multiparidade e familiares em primeiro grau com diabetes são outros fatores de risco.
QUE COMPLICAÇÕES PODEM SURGIR?
Na diabetes gestacional, o feto está sujeito a um excesso de açúcar e este ambiente poderá levar ao aparecimento de várias complicações. A macrossomia fetal – peso estimado maior que o percentil 95 – e o aumento do líquido amniótico são as mais frequentes e podem condicionar outras complicações, como, por exemplo, o parto instrumentado ou por cesariana, a distocia de ombros e a hipoglicemia no recém-nascido.
Contudo, quando existe um bom controlo metabólico, as complicações graves da diabetes na gravidez são raras.
COMO É REALIZADO O DIAGNÓSTICO?
O rastreio da diabetes gestacional faz-se em dois momentos da gravidez. No primeiro trimestre, avalia-se a glicemia em jejum e, quando o valor é igual ou superior a 92mg/dl, temos o diagnóstico de diabetes gestacional.
Se o valor for normal, realiza-se a prova de tolerância à glucose oral (PTGO), entre as 24 e as 48 semanas. Esta prova consiste em fazer três colheitas de sangue, em jejum, 60 e 120 minutos após ingestão de uma solução com 75g de glucose. Durante o intervalo entre as colheitas, a grávida deve manter-se em repouso. Considera-se uma PTGO positiva quando um ou mais valores estão alterados: jejum igual ou superior a 92 mg/dl; 60 minutos igual ou superior a 180mg/dl; 120 minutos igual ou superior a 153 mg/dl.
Quando a glicemia em jejum é superior a 126mg/dl ou uma glicemia ocasional é maior que 200mg/dl, estamos perante uma diabetes prévia à gravidez não identificada até à data.
O QUE FAZER?
As grávidas com diabetes gestacional devem ter um acompanhamento diferenciado por uma equipa multidisciplinar formada por obstetra, endocrinologista, nutricionista, enfermeira e neonatalogista, de modo a prevenir e corrigir possíveis complicações, com objetivo de, no final da gravidez, a mãe e o filho estejam saudáveis.
Para um bom desfecho da gravidez, é fundamental que os níveis de glicemia estejam dentro dos valores normais, é importante o conhecimento da glicemia ao longo do dia, recomendando-se a autovigilância deste parâmetro. A grávida deve avaliar a glicemia capilar 4 vezes por dia, em jejum e 1 hora após o início das três principais refeições.
A dieta e o exercício físico são as principais armas para um bom controlo metabólico. Deve ser elaborado um plano alimentar, personalizado, de acordo com o peso da grávida, tendo em conta os seus hábitos alimentares e socioculturais. Este plano deve ser equilibrado e distribuídos por 6 refeições ao longo do dia, de modo a minimizar as variações da glicemia.
Associado à dieta, recomenda-se exercício físico moderado, 20 a 60 minutos por dia, principalmente após as refeições. A marcha, a bicicleta estática, hidroginástica e a natação são os exercícios aconselhados. Quando não se consegue um bom controlo metabólico com a dieta e o exercício físico, temos de recorrer a medicação com antidiabéticos orais e insulina.
QUAL A MELHOR ALTURA PARA O PARTO?
O prolongar da gravidez pode levar ao aparecimento de complicações, por isso, é importante definir a altura do parto e esta tem de ser adequada à situação clínica.
De uma forma geral, preconiza-se terminar a gravidez entre as 39 e as 40 semanas. Nos casos de difícil controlo metabólico ou na presença de complicações, pode ser necessário terminar mais cedo.
COMO DEVE SER O PARTO?
Devemos privilegiar o parto vaginal, no entanto, há situações em que está indicada cesariana eletiva, como no caso de estimativa ponderal do feto maior que 4500g.
Durante o trabalho de parto, é importante a manutenção dos valores de açúcar estáveis, sendo, por vezes, necessário tratamento com insulina.
Após o parto, devemos promover contacto pele-pele e alimentação precoce. A maioria dos recém-nascidos, filhos de mães com diabetes gestacional bem controlada, têm um percurso sem incidente.
Leia o artigo completo na edição de novembro 2022 (nº 332)
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