A diabetes mellitus é uma doença metabólica crónica que está a aumentar em todo o mundo. Para a evitar, há que adotar estilos de vida saudáveis e vigiar a saúde, com acompanhamento médico regular, para que, em caso de doença, o diagnóstico seja feito atempadamente e o tratamento adequado seja instituído. 

 

Artigo da responsabilidade da Dra. Maria Raquel Carvalho, endocrinologista no Hospital CUF Tejo

 

A diabetes mellitus é uma doença metabólica crónica que se caracteriza por níveis elevados de açúcar no sangue (hiperglicemia). Afeta mais de 13% da população adulta portuguesa, estima-se que haja mais de 500 milhões de pessoas com diabetes a nível mundial e que esse número venha a aumentar mais de 40% nos próximos 20 anos.

Há vários tipos de diabetes, dos quais se destacam:

Diabetes tipo 1 –  Resulta de uma incapacidade do pâncreas em produzir insulina, ou seja, há uma carência absoluta desta hormona que é a responsável por manter os níveis de glicose no sangue (glicemia) controlados.

Pessoas com diabetes tipo 1 têm que fazer insulina desde o início da doença. Surge, tipicamente, em crianças ou jovens adultos, embora possa surgir em qualquer idade.

Diabetes tipo 2 – É o tipo de diabetes mais frequente: cerca de 90% dos casos de diabetes na população adulta portuguesa são do tipo 2. A obesidade e o sedentarismo são fatores de risco para o seu surgimento.

SINAIS E SINTOMAS

Os sinais e sintomas podem variar consoante o tipo de diabetes.

Na diabetes tipo 1, as pessoas costumam ter sintomas relativamente exuberantes que levam ao diagnóstico: sede e vontade de urinar excessivas e perda de peso, apesar de apetite aumentado. O diagnóstico confirma-se avaliando o valor de glicemia.

Na diabetes tipo 2, os sintomas só ocorrem em fases avançadas da doença. Por isso, é fundamental que, sobretudo os indivíduos de risco (obesos, pessoas com familiares diabéticos, mulheres que tenham tido diabetes gestacional, por exemplo), mantenham seguimento médico regular e façam análises anualmente.

Sabe-se que em Portugal 5,9% da população adulta é diabética, mas não está diagnosticada, ou seja, desconhece que tem a doença e, como tal, não está a fazer qualquer tratamento, deixando que a diabetes e as suas complicações evoluam. Por vezes, o diagnóstico só é feito numa altura em que as complicações da diabetes já se instalaram de forma irreversível.

PREVENÇÃO INDIVIDUAL E DE SAÚDE PÚBLICA

As medidas preventivas da diabetes são, sobretudo, direcionadas para a diabetes tipo 2. Previne-se a diabetes através da adoção de hábitos dietéticos saudáveis, do controlo de peso e de combate ao sedentarismo. Perdas modestas de peso (5kg) diminuem já, efetivamente, o risco de desenvolver diabetes.

Para além das medidas que cada pessoa pode adotar, há medidas de saúde pública que têm impacto positivo na prevenção da diabetes. Por exemplo, controlar a venda de produtos alimentares altamente calóricos em escolas, promover o desporto escolar ou associativo e construir e preservar espaços verdes públicos para a prática de exercício físico são alguma delas.

COMPLICAÇÕES DA DOENÇA

Mais importante ainda que a diabetes em si são as complicações que dela podem decorrer. As causas de morte em pessoas com diabetes são, maioritariamente, devidas a doença cardiovascular, que resulta de controlo inadequado da doença durante períodos prolongados.

Quando falamos em doença cardiovascular e em complicações crónicas da diabetes, falamos de: doença cerebrovascular (acidente vascular cerebral), doença coronária (enfarte agudo do miocárdio), doença renal crónica, retinopatia diabética (causa importante de cegueira) e pé diabético, que é causa de amputações e de grande limitação na qualidade de vida.

Para que se tenha uma ideia do seu impacto real, podemos dizer que, segundo dados do Observatório da Diabetes, cerca de 28% dos doentes que fazem hemodiálise são diabéticos; cerca de 18% dos doentes transplantados renais são diabéticos; cerca de 30% dos doentes internados por AVC são diabéticos; e 30% dos doentes internados por enfarte agudo do miocárdio são diabéticos.

Para prevenir tais situações, há que controlar os níveis de glicemia, há que ser acompanhado por profissionais de saúde dedicados a esta área, fazer análises e cumprir os rastreios adequados (rastreio da retinopatia, rastreio da doença renal e rastreio do pé diabético).

NOVOS TRATAMENTOS

A diabetes é uma doença crónica, ou seja, é uma doença permanente e, como tal, exige uma formação e uma motivação especiais do doente para o tratamento.

Para além das medidas farmacológicas (os medicamentos), o tratamento da diabetes passa pela adoção de estilos de vida saudáveis: alimentação adequada, atividade física adaptada a cada pessoa e controlo de outros fatores de risco cardiovascular, como o tabagismo, a hipertensão arterial ou a dislipidemia.

Nos últimos anos, têm surgido cada vez mais fármacos para a diabetes, alguns com benefícios não apenas no controlo da glicemia, mas também na prevenção das complicações e mesmo diminuindo o risco de morte por causa cardiovascular. Assim, é hoje possível, de forma mais eficaz, individualizar a terapêutica para cada doente, de acordo com o seu perfil e as suas necessidades.

IMPORTÂNCIA DA MONITORIZAÇÃO

Uma parte importante dos diabéticos beneficia da monitorização regular de glicemias, sobretudo os doentes que fazem insulina ou outros fármacos que se associem a risco acrescido de hipoglicemias.

Para fazer esta vigilância, dispomos de máquinas que determinam a glicemia a partir de uma gota de sangue e, atualmente, existem aparelhos que permitem fazer a monitorização dos níveis de glicose de forma contínua e sem necessidade de picar o dedo. Este tipo de sistemas são especialmente indicados para as pessoas com diabetes que fazem várias administrações de insulina por dia. Permitem que o doente ou os seus cuidadores e os profissionais de saúde que os acompanham percebam como varia a glicemia ao longo do dia em função das horas, da alimentação ou da atividade física. Isto tem enorme utilidade nas adaptações terapêuticas, nomeadamente nos ajustes de dose de insulina. Esta monitorização não trata a diabetes, mas ao tornar a doença e suas variações mais visíveis, é um instrumento precioso como auxiliar do tratamento.

Em jeito de conclusão, diria que devemos apostar em estilos de vida saudáveis e vigiar a nossa saúde, com acompanhamento médico regular, para que, em caso de doença, como a diabetes, o diagnóstico seja feito atempadamente e o tratamento adequado seja instituído. Só assim se conseguirá preservar qualidade de vida e minimizar complicações.

Leia o artigo completo na edição de novembro 2022 (nº 332)