A diabetes é uma doença crónica que atinge milhares de pessoas. Estima-se que existam cerca de 537 milhões de pessoas com diabetes no mundo, segundo a Federação Internacional da Diabetes (IDF) e, em Portugal, os últimos dados apontam para 14,1% da população portuguesa com diabetes, o que representa cerca de 1,1 milhão de portugueses.

Artigo da responsabilidade da Dra. Mónica Reis. Coordenadora do Núcleo de Estudos da Diabetes Mellitus da SPMI

 

 

A problemática da diabetes não se resumo ao facto da pessoa com diabetes ter uma alteração da glicemia mas sim das consequências desta alteração metabólica e de todas as lesões nos diferentes órgãos e sistemas que a hiperglicemia induz.

A hiperglicemia causa alterações nos vasos sanguíneos que conduzem a lesões micro e macrovasculares extensas que são responsáveis pelas principais complicações associadas à diabetes tais como retinopatia, neuropatia, nefropatia e ainda pelo aumento da incidência de enfarte agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral.

A propósito do Dia Mundial do Rim, a 13 de março, debruçamo-nos um pouco sobre a doença renal crónica (DRC) associada à diabetes ou nefropatia diabética.

A diabetes é uma das principais causas de doença renal crónica, sendo que 30 a 40% da população diabética tem DRC de acordo com dados da IDF. O que para Portugal representa cerca de 385 mil pessoas com nefropatia diabética. Segundo a IDF, entre 1990 e 2017 verificou-se um aumento de 74% nos novos casos de DRC associada à diabetes tipo II.

A prevalência da nefropatia diabética aumenta com a idade, com o tempo de duração da diabetes bem como com o inadequado controle metabólico.

A lesão renal resulta diretamente da hiperglicemia bem como de outras condições associadas à diabetes como hipertensão arterial, dislipidemia ou tabagismo que exacerbam o declínio da função renal. As pessoas com DRC tem maior risco de doenças cardiovasculares e morte.

Clinicamente a doença manifesta-se por um   cansaço de agravamento progressivo, falta de apetite, náuseas ou vómitos, aumento da frequência urinária, sangue na urina, edema periférico e peri-ocular, alteração da tensão arterial e hálito cetónico, já numa fase mais avançada. A primeira manifestação é a perda de albumina na urina.

O diagnóstico deve ser realizado o mais precocemente possível por forma a prevenir o avanço da doença e a reduzir a gravidade da mesma.  O diagnóstico é baseado no valor da creatinina sérica e da relação albumina/creatinina (RAC) na urina. A ecografia renal permite avaliar a estrutura do rim que também é afetada pela DRC pelo que também tem um papel diagnóstico.

A DRC divide-se em 5 estadios de gravidade sendo que o estádio terminal carece de substituição da função do rim por diálise ou por transplante de órgão, com custo económicos, sociais e familiares para os doentes e para a comunidade em geral, muito elevados.

Apenas 27 a 53% da população com DRC tem acesso a técnicas de substituição renal (diálise), sendo este acesso muito escasso   nos países de baixo desenvolvimento económico, onde a prevalência de DRC é mais elevada. Sendo uma causa de morte frequente nestes países.

As alterações da tensão arterial são consequência e também causa de doença renal crónica pelo que é fundamental o seu controle.

Atualmente existem várias classes de fármacos para o tratamento da diabetes que além de proporcionarem um bom controle da glicemia, têm por si só um efeito benéfico no declínio da função renal. No entanto, apesar de toda a melhoria na terapêutica disponível para a DRC, a melhor forma continua a ser a prevenção.

Assim a estratégia mais eficaz na redução da doença renal, além de hábitos de vida saudáveis, é prevenir e controlar, o mais precocemente possível, a diabetes e a tensão arterial.