A diabetes mellitus tipo 2 é um dos grandes problemas de saúde pública. Afeta 10% da população portuguesa entre os 25 e os 74 anos, e 23,8% no escalão etário entre 65 e os 74 anos. E é o principal fator de desenvolvimento de doenças graves. O custo socioeconómico desta doença é enorme.

 

Artigo da responsabilidade do Dr. Rui Ribeiro, coordenador da Unidade de Cirurgia Geral e do Centro Multidisciplinar da Doença Metabólica da Clínica de Stº António

 

A diabetes mellitus tipo 2 é um dos grandes problemas de Saúde Pública, juntamente com a obesidade e a hipertensão arterial. Em Portugal, segundo o Retrato da Saúde 2018, relatório oficial do Ministério da Saúde, a diabetes afeta 10% da população entre os 25 e os 74 anos, sobretudo os homens e a população mais idosa. No escalão etário entre os 65 e os 74 anos, a prevalência aumenta para 23,8%. No entanto, boa parte dos diabéticos e pré-diabéticos não sabem que o são e, como tal, não fazem a prevenção e tratamento recomendados.

O relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) de 2017 estimou que Portugal tinha, em 2015, uma taxa de prevalência de diabetes de 9,9% em adultos, valor que se encontra acima da média da OCDE35, que se situa nos 7 por cento.

CAUSAS EVITÁVEIS

As regiões de Lisboa e Vale do Tejo, bem como as Ilhas, são as áreas mais afetadas e onde devem ser implementados mais programas de rastreio e prevenção. Uma baixa condição social, provavelmente por carências no acesso à informação ou aos cuidados de saúde primários, é determinante no aparecimento da doença, sendo o fenómeno claro nos indivíduos desempregados ou sem atividade profissional, em que se registam mais casos de hipertensão arterial, obesidade e diabetes.

Estes valores são preocupantes e devem ser motivo de reflexão. As causas da diabetes são de natureza não apenas individual, mas também social. Mas todas são evitáveis. Fatores como o excesso de peso ou a obesidade, uma alimentação pouco equilibrada, o sedentarismo, o tabagismo ou o alcoolismo, as dislipidemias não dependem exclusivamente do doente e o seu controlo exige medidas mais profundas que alterem alguns aspetos prejudiciais da teia socioeconómica e cultural em que estamos imersos.

Cerca de 80% dos diabéticos portugueses têm excesso de peso ou obesidade e, desde logo, os cidadãos têm de concentrar-se em criar hábitos alimentares mais saudáveis e praticar atividade física regular. Aos governantes cabe criar as condições para que tal aconteça de forma mais fácil e célere.

FATOR DE DESENVOLVIMENTO DE DOENÇAS GRAVES

A diabetes é o principal fator de desenvolvimento das doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, sendo ainda a principal causa de cegueira. Provoca 40 a 55% dos casos de doença renal terminal, é uma causa importante de doenças do foro neurológico – polineuropatias – e provoca um flagelo chamado pé diabético, sendo responsável por 70% das amputações dos membros inferiores. Está associada a 50 a 60% dos casos de doença coronária, ao enfarte do miocárdio e acidentes vasculares cerebrais e aumenta a probabilidade de depressão e a incidência de alguns cancros.

O custo socioeconómico desta doença é enorme e em Portugal, em 2015, calculou-se que a diabetes tipo 2 foi responsável por 12% dos gastos em saúde, correspondente a 1% do PIB nacional.

Leia o artigo completo na edição de novembro 2019 (nº 299)