Os últimos anos apresentaram grandes avanços no tratamento da diabetes. A tecnologia, associada à adequada educação terapêutica, tem sido fundamental no rigor que permite proporcionar às pessoas no tratamento da doença. Descubra este admirável mundo novo.

Artigo da responsabilidade da Dra. Joana Queirós, endocrinologista; Direção da Sociedade Portuguesa de Diabetologia

Mais de 1 milhão de portugueses convivem atualmente com a diabetes. De acordo com o relatório do Observatório Nacional de Diabetes, da Sociedade Portuguesa de Diabetologia, a prevalência estimada da patologia na população portuguesa é de 13,3%. A este número somam-se mais de dois milhões de pessoas com pré-diabetes.

Apesar dos investimentos no diagnóstico precoce e dos avanços terapêuticos, a diabetes continua a condicionar elevados custos económicos, sociais e humanos.

AVANÇOS DA MEDICINA

Os avanços na Medicina têm tentado proporcionar a todas as pessoas com diabetes uma vida mais próxima do normal. Encontrar novas possibilidades de tratamento, mais eficazes, com maior comodidade e melhor controlo dos níveis de açúcar no sangue, têm constituído os objetivos dos múltiplos estudos realizados nas últimas décadas.

Em Portugal, o acesso à inovação nesta área tem tido diversas limitações, nomeadamente no acesso às novas insulinas, o que não permite a sua adequada utilização, ao contrário do que acontece nos restantes países europeus. Continuam a existir limites orçamentais no Serviço Nacional de Saúde, de que também é exemplo a dificuldade de acesso a bombas infusoras de insulina nos doentes com diabetes tipo 1, realidade que não estimula o controlo adequado dos doentes.

Neste artigo, vou falar de algumas destas novidades. Prepare-se, pois é, de facto, um admirável mundo novo que se abre diante dos nossos olhos!

NOVAS TERAPÊUTICAS

INSULINA ASPÁRTICO DE AÇÃO ULTRA RÁPIDA

Existe apenas uma única insulina deste tipo aprovada e começou a ser comercializada em Portugal há apenas cerca de 3 meses. É uma insulina de administração às refeições, que imita de forma mais natural a resposta fisiológica à insulina após uma refeição. Esta insulina demonstrou melhoria do controlo da diabetes e, ainda, uma menor taxa de hipoglicemias graves.

INSULINA DEGLUDEC

É uma insulina basal de administração diária, com uma duração de ação que ultrapassa as 42 horas, com um efeito mais estável na redução da glicose, associando-se também a menos hipoglicemias, nomeadamente no período noturno. Esta insulina ficou disponível no nosso país no início deste ano.

FÁRMACOS COM ATUAÇÃO NO RIM

Recentemente, foi lançada no mercado uma nova classe de medicamentos, os inibidores do SLGT2.

O alvo destes medicamentos é bloquear uma proteína localizada a nível renal chamada co-transportador da glicose sódica 2 (SGLT2). O SGLT2 reabsorve de volta para a corrente sanguínea a glicose do sangue filtrada nos rins. Ao bloquear a ação do SGLT2, estes fármacos fazem com que a glicose seja removida pela urina, reduzindo os seus níveis no sangue. Vários medicamentos desta classe foram desenvolvidos nos últimos anos: empagliflozina, dapagliflozina, canagliflozina e ertugliflozina.

A redução da glicose no sangue acontece de forma independente da insulina. Estes fármacos promovem, ainda, a redução de peso e redução da pressão arterial.

ANÁLOGOS GLP-1

Os análogos do GLP-1 são fármacos injetáveis, não insulina, para o tratamento da diabetes tipo 2. O liraglutido e o dulaglutido são comercializados em Portugal há algum tempo. O semaglutido é novo análogo do GLP-1 de administração semanal, responsável por maiores reduções da HbA1c e do peso corporal, comparativamente com fármacos do mesmo grupo.

Existem também medicamentos compostos, como por exemplo a insulina degludec com liraglutido, em que o paciente tem o tratamento com dois medicamentos numa mesma caneta de aplicação, diminuindo o número de ‘picadas’ e reduzindo também a quantidade de insulina. Esta modalidade terapêutica não está ainda disponível no nosso país.

NOVAS TECNOLOGIAS

As bombas infusoras de insulina, os sensores de monitorização da glicose (retrospetiva ou em tempo real), as aplicações para contagem de equivalentes alimentares, de calorias e escolha de alimento, são apenas algumas das mais recentes novidades no campo terapêutico da diabetes. As bombas infusoras de insulina têm uma utilização preferencial na diabetes tipo 1, enquanto os restantes produtos podem ser utilizados na diabetes tipo 1 e tipo 2.

BOMBAS INFUSORAS DE INSULINA

As bombas infusoras de insulina são aparelhos de pequenas dimensões, que dispõem de reservatórios e de um mecanismo de perfusão subcutânea de insulina através de um catéter, com débitos variáveis programáveis durante as 24 horas, e que têm demostrado eficácia na redução dos episódios de hipoglicemia, na melhoria do controlo metabólico e maior flexibilidade da qualidade de vida das pessoas com diabetes.

MONITORIZAÇÃO CONTÍNUA DA GLICOSE

Os dispositivos de monitorização contínua da glicose (MCG) em tempo real permitem obter uma grande quantidade de dados, alarmes para hipo e hiperglicemia, cobertura de 24 horas durante os 7 dias da semana e capacidade para caracterizar a variabilidade glicémica, mas requerem calibração diária.

Leia o artigo completo na edição de novembro 2019 (nº 299)