O Dia Mundial do Cuidador Informal, celebrado anualmente a 5 de novembro, representa uma oportunidade de valorização da ação daqueles que, muitas vezes de forma subtil, dedicam as suas vidas a cuidar dos Seus.

Artigo da responsabilidade da Profª Rita Marques, com a colaboração da Profª. Isabel Lucas (autoras do livro do livro “Cuidar, Confortar e Recuperar”)

 

O cuidador, de uma forma dedicada e resiliente, assume a responsabilidade de cuidar de familiares ou amigos em situações de dependência, na maioria das vezes, sem qualquer formação. São pais, filhos, cônjuges, irmãos, vizinhos e até amigos que, diariamente, desempenham um papel fundamental na vida do Outro, oferecendo apoio, conforto e acompanhando-o em momentos de fragilidade. Neste contexto, a ação conjunta do cuidador informal com a equipa de saúde e em particular com o enfermeiro torna-se basilar para a prestação de cuidados, promoção do conforto e recuperação da pessoa cuidada.

Cuidar: um compromisso humano

Cuidar do Outro é uma das experiências mais dignas e gratificantes. Implica comunicar com o outro de forma otimista, transmitindo‐lhe segurança, confiança e respeito, de modo a criar uma relação positiva, com ganhos para ambos.

Este ato de amor e compaixão exige compromisso e paciência, bem como uma presença constante nos bons e nos maus momentos. Para muitos cuidadores, essa responsabilidade é imposta por um acidente ou por uma doença inesperada ou prolongada. O esforço e as limitações da pessoa cuidada, acrescidos ao impacto na vida social e profissional do cuidador, criam uma sobrecarga que necessita de apoio e suporte.

A parceria com o enfermeiro deve ser contínua neste processo. Os enfermeiros podem sugerir um conjunto de estratégias para lidar com o dia-a-dia, tanto para cuidar do Outro como para lidar com a exigência do cuidado.

Confortar: uma necessidade recíproca

Confortar é acolher o outro na sua fragilidade, oferecendo um ambiente seguro e tranquilo. É escutar, validar os sentimentos e proporcionar momentos de descanso e relaxamento. O conforto emocional é tão importante quanto o cuidado físico e ambos contribuem para a recuperação e bem-estar da pessoa cuidada.

No entanto, não é apenas a pessoa cuidada que necessita de conforto, mas também o próprio cuidador. Este é uma necessidade constante na vida das pessoas, ainda mais em situações de fragilidade, sobrecarga e dependência que não se esgotam na dimensão física, indo muito além desta. O conforto é uma necessidade sentida em vários domínios, desde o físico ao psico-espiritual, socio-cultural e ambiental.

O enfermeiro, pela escuta ativa e empática, promove um espaço onde tanto a pessoa cuidada, como o cuidador informal podem expressar as suas dúvidas, angústias e expetativas. Com um olhar humanizado, o enfermeiro pode atuar como mediador de ações, facilitando o alinhar das expetativas e até a organização das rotinas e dinâmicas familiares, que tragam maior conforto tanto para a pessoa como para o cuidador.

Recuperar: um caminho compartilhado

A recuperação é um processo gradual e individualizado que requer tempo e persistência. O cuidador informal tem um papel vital para manter a autonomia da pessoa cuidada, proporcionando-lhe qualidade de vida. A sua ação constitui um elemento facilitador da recuperação, seja ela física, emocional ou psicológica.

Em cada etapa, o cuidador partilha dúvidas, experiências e conta com a orientação dos enfermeiros, em particular com os Enfermeiros Especialistas de Reabilitação, que podem conjuntamente desenvolver planos específicos para estimular o movimento, a adaptação a novas rotinas e o reforço da autoestima. Os enfermeiros podem ainda capacitar o cuidador para que ele realize atividades seguras, prevenindo sobrecarga e riscos. Essa cooperação alivia a pressão sobre ele e, simultaneamente, reforça o impacto positivo da sua intervenção na recuperação do seu ente querido.

Enfermeiro e Cuidador: uma parceria de cuidados

A relação entre o cuidador informal e o enfermeiro é, portanto, uma verdadeira parceria que permite cuidados seguros e menos desgastantes. Com o apoio técnico e emocional da equipa de enfermagem, o cuidador sente-se mais confiante nas suas ações e confortado. Estudos mostram que os cuidadores informais que recebem esse tipo de orientação apresentam menor exaustão e uma maior sensação de segurança.

No Dia Mundial do Cuidador Informal é essencial reconhecer a importância de fornecer aos cuidadores o apoio e a capacitação que eles tanto necessitam e merecem. Este dia é também um convite para que a sociedade e os profissionais de saúde os escutem, atendam e criem estratégias que melhorem o seu bem-estar, proporcionando-lhes reconhecimento e as ferramentas para cuidar com segurança. Em síntese, deve ser um trabalho colaborativo entre o cuidador informal e o enfermeiro, que proporcione às pessoas o cuidado que merecem, ajudando a trilhar o caminho da recuperação e do bem-estar com dignidade e conforto.

Ao celebrar o ato de cuidar, confortar e recuperar, homenageamos cada pessoa que dedica a sua vida a amparar os seus em momentos difíceis. Que possamos, como sociedade, reconhecer o seu valor e oferecer-lhes os recursos necessários para que desempenhem essa missão com dignidade e confiança.

 

Rita Marques – Professora Coordenadora da Escola Superior de Saúde da Cruz Vermelha Portuguesa – Lisboa. Doutorada em Enfermagem. Mestre e especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica e de Reabilitação. Coautora do livro “Cuidar, Confortar e Recuperar” (LIDEL Saúde e bem-estar).

Isabel Lucas – Professora Coordenadora da Escola Superior de Saúde da Cruz Vermelha Portuguesa – Lisboa; Doutorada em Psicologia. Mestre em Gestão de Recursos e especialista em Enfermagem de Reabilitação.