Muito se sabe hoje sobre os malefícios do hábito tabágico, mas poucos são aqueles que conseguem abandoná-lo definitivamente. A sessão de perguntas e respostas que se segue talvez ajude…

 

Artigo da responsabilidade da Dra. Paula Rosa, Comissão de Trabalho de Tabagismo da Sociedade Portuguesa de Pneumologia

 

Como se explica que ainda existam tantos fumadores, quando se conhecem tão bem os malefícios do tabaco?

Em primeiro lugar, existe em todos nós uma irracionalidade que nos convence de que o mal acontece sempre aos outros. Por isso, apesar de a maioria dos fumadores estar consciente de que o tabaco é responsável por muitas doenças, acredita que a ele (ela) nada lhe acontecerá.

Por outro lado, sabe que quando não pode fumar fica ansioso, irritado, inquieto, tem dificuldade em pensar e em concentrar-se… enfim, sente-se mal e só o cigarro lhe mitiga este mal-estar. Isso faz com que pense que, se deixar de fumar, vai sentir-se sempre assim, mal… e isso também lhe tira a vontade de parar de fumar.

Porque razão os fumadores que já têm alguma doença provocada pelo tabaco continuam a fumar?

O tabagismo é uma doença, uma dependência! O fumador tem muita dificuldade em aceitar que tem uma dependência. Ouvimos frequentemente os fumadores dizerem: “Eu acho que não sou viciado na nicotina”, “eu tenho é vício de boca”, “eu não engulo o fumo”, “eu fumo por prazer”, “eu fumo para estar entretido, para ter companhia”, entre outros exemplos. Nestes casos, os fumadores não têm verdadeira consciência de que têm uma dependência e por isso não se determinam a tratar essa dependência.

Há pessoas que deixam de fumar sem qualquer tipo de tratamento?

Sim, claro! Como também há pessoas que decidem parar de consumir drogas ou de beber, e param sem qualquer tratamento ou apoio, “a frio” como dizem. Mas uma percentagem significativa precisa de apoio para resistir à privação do cigarro, que pode ser muito difícil de suportar. Os fumadores, muitas vezes, não procuram ajuda porque lhes parece que isso é sinal de fraqueza. Na verdade, é ao contrário: quando temos uma doença, o que faz sentido é encontrar o tratamento adequado para essa doença. No caso do tabagismo, é encontrar o tratamento adequado para lidar com a síndrome de abstinência tabágica.

Basta tomar medicamentos para parar de fumar?

O tratamento pode incluir fármacos, o que acontece em grande número de casos, mas o mais importante é aprender a lidar com a vontade de fumar. O tratamento inclui a aprendizagem de estratégias que ajudam a resistir ao cigarro.

Com frequência, os fumadores tomam um medicamento que alguém lhe indicou ou que compraram na farmácia e dizem que não funcionou. Isto acontece porque o fumador está à espera que o medicamento lhe tire a necessidade e a lembrança de fumar, como num passe de mágica. Mas não é assim que funciona. Os medicamentos tiram a necessidade de fumar, ao controlar os sintomas da privação da nicotina, mas a lembrança de fumar permanece. Eu costumo explicar aos fumadores que precisar do cigarro é diferente de lembrar-se de fumar: precisar é ficar ansioso, irritado, com dificuldade de concentração, ter taquicardia ou sensação de mal-estar quando não se pode fumar; lembrar-se é apenas a associação mental do cigarro a certas rotinas do fumador. Essa lembrança permanece mesmo depois de parar de fumar e é frequentemente responsável pela recaída nos ex-fumadores.

Leia o artigo completo na edição de novembro 2017 (nº 277)