Hábitos quotidianos, como a alimentação, o movimento ou a qualidade do sono, podem “ligar” ou “desligar” genes, influenciando a forma como se manifestam no nosso organismo. A epigenética funciona como um interruptor: não muda o código genético, mas regula a sua atividade, ajudando a prevenir algumas doenças crónicas, a promover o bem-estar emocional e a favorecer um envelhecimento mais saudável.

A ideia de que nascemos com um destino genético imutável está cada vez mais a ser substituída pela visão da epigenética, uma disciplina científica relativamente recente e pouco conhecida que revela como os nossos comportamentos e ambiente podem influenciar a forma como os genes se expressam. Em vez de um determinismo biológico, a epigenética propõe uma abordagem mais otimista e transformadora: pequenas mudanças no estilo de vida podem, efetivamente, “reprogramar” os genes e contribuir para mais saúde, vitalidade e longevidade.

“A epigenética mostra-nos que não somos reféns da herança genética. Aquilo que comemos, a forma como gerimos o stress ou como dormimos pode ativar ou silenciar determinados genes. É uma ciência que nos dá um grau de controlo na nossa saúde”, explica Teresa Silva, especialista no processo de autoconhecimento e transformação.

Ainda que o código genético permaneça o mesmo, a epigenética estuda os mecanismos que modulam a sua atividade, como interruptores que podem ser ligados ou desligados por estímulos externos. Estes estímulos não se limitam a fatores químicos, mas incluem hábitos quotidianos, como a alimentação, a atividade física ou a qualidade do sono. As implicações para a saúde física e mental são vastas, uma vez que há estudos que ligam a epigenética à prevenção de doenças crónicas, à melhoria do bem-estar emocional e até ao envelhecimento mais saudável.

“O grande potencial da epigenética está na prevenção. Podemos cuidar dos nossos genes antes de os sintomas aparecerem. E a boa notícia é que não se trata de intervenções complexas, mas pequenas ações consistentes no dia a dia e que têm efeitos cumulativos surpreendentes”, sublinha a responsável, que é também fundadora da Clínica Magna, onde se desenvolvem programas personalizados com base nesta abordagem.

Para quem procura viver de forma mais consciente e informada, a epigenética oferece um novo mapa para o bem-estar. De acordo com Teresa Silva, este mapa começa com “pequenas decisões diárias”, mas que podem ter grande impacto na saúde. A especialista revela cinco estratégias acessíveis para apoiar os genes e potenciar uma vida mais longa, vital e alinhada com o bem-estar.

1. Alimente os genes com inteligência

A alimentação não é apenas uma questão de calorias ou nutrientes, mas também é informação para os nossos genes. Alimentos como brócolos, couve, frutas vermelhas, chá verde ou açafrão contêm compostos que interagem diretamente com os genes e que podem ativar mecanismos de defesa, proteger o ADN e modular a inflamação, um dos principais inimigos da longevidade. E se quiser evitar mutações prejudiciais, mantenha distância de açúcares refinados, gorduras processadas e aditivos artificiais.

2. Mexa-se para estimular as células

O exercício físico atua como um modulador epigenético. Movimentar o corpo, seja com caminhadas, dança ou treino de força, ativa genes ligados à regeneração celular, ao metabolismo e à regulação do humor. Além disso, o exercício regular ajuda a manter a integridade dos cromossomas, o que está associado a um envelhecimento mais lento.

3. Use o sono para fazer um “restart” aos genes

Dormir bem é uma das formas mais eficazes de proteger a saúde genética. Durante o sono profundo, o organismo realiza processos essenciais de reparação celular e regulação hormonal. Dormir menos de seis horas por noite de forma crónica pode alterar a expressão de centenas de genes, afetando o sistema imunitário, o humor e a cognição.

4. Reduza o stress para abrandar o envelhecimento

O stress crónico é um dos principais disruptores epigenéticos. A exposição prolongada ao cortisol, a hormona do stress, pode desregular genes associados à imunidade, à inflamação e ao envelhecimento precoce. A meditação, respiração consciente, tempo na natureza ou atividades criativas ajudam a reequilibrar o sistema nervoso.

5. Proteja os seus genes dos poluentes invisíveis

Vivemos rodeados de toxinas invisíveis, desde os pesticidas nos alimentos até aos disruptores endócrinos presentes em plásticos e cosméticos. Estes agentes químicos podem interferir na expressão genética, especialmente quando a exposição é crónica. Optar por produtos de higiene mais naturais, privilegiar alimentos biológicos sempre que possível e arejar a casa diariamente são estratégias que reduzem significativamente a carga tóxica a que os nossos genes estão sujeitos.

Se, por um lado, não podemos reescrever o código genético que recebemos, por outro, temos nas mãos o poder de influenciar a forma como ele se expressa. A epigenética prova-nos que pequenas decisões no presente podem transformar a forma como os nossos genes se manifestam no futuro. Afinal, os genes podem ser a herança, mas o estilo de vida é a escolha, e essa está nas nossas mãos.