A prevenção deverá ser o foco da atenção nas políticas de saúde, sendo extraordinariamente eficaz na redução da mortalidade por cancro colorretal. E, no âmbito do rastreio, deverá ser enaltecido o papel central da colonoscopia.

Artigo da responsabilidade do Dr. Miguel Bispo. Médico gastrenterologista na Fundação Champalimaud, Lisboa. Em representação da Comissão Editorial da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia.

 

O cancro colorretal constitui a principal causa de morte por cancro digestivo em Portugal, documentando-se mais de 8 mil novos casos por ano. É o segundo cancro mais frequente nas mulheres (depois do cancro da mama) e o segundo cancro mais frequente nos homens (depois do cancro da próstata).

Pensa-se que o aumento da incidência do cancro colorretal esteja, por um lado, associado ao envelhecimento da população, uma vez que estes tumores são mais frequentes nas faixas etárias mais avançadas. Por outro lado, também deverá estar associado ao aumento da prevalência de determinados fatores de risco, maioritariamente relacionados com o estilo de vida, como a obesidade, o sedentarismo, o tabaco e as dietas hipercalóricas e pobres em fibras.

INCIDÊNCIA TAMBÉM ESTÁ A AUMENTAR ENTRE OS JOVENS

É verdade que a incidência do cancro colorretal está a aumentar abaixo dos 50 anos, não só em Portugal, mas na generalidade dos países desenvolvidos, como nos Estados Unidos e por toda a Europa Ocidental. É o chamado “early-onset colon cancer” (cancro do cólon de aparecimento precoce).

Há uma década, a proporção de casos de cancro colorretal abaixo dos 50 anos era de 5% da totalidade destes tumores e agora é de 10%. Em apenas 10 anos, houve uma duplicação dos casos de cancro colorretal em pessoas com menos de 50 anos.

Esta questão é particularmente preocupante pelo pior prognóstico associado ao cancro colorretal em idade jovem, o que poderá estar associado às características moleculares destes tumores (que lhes confere um comportamento biológico mais agressivo), mas também ao diagnóstico frequentemente tardio na população mais jovem, que tende a desvalorizar os primeiros sintomas, como a perda de sangue nas fezes.

É POSSÍVEL PREVENIR O SEU APARECIMENTO

Deve ser salientada a importância da prevenção nos seus diferentes domínios. No âmbito da prevenção primária, que inclui medidas preventivas ao nível do estilo de vida, é particularmente relevante a evicção tabágica e a prática de uma alimentação completa e equilibrada. É recomendada uma dieta mediterrânica, rica em fibras e pobre em gorduras e carnes vermelhas, a par da prática regular de exercício físico. Sabemos que o tabaco e a obesidade são fatores de risco transversais a todos os tipos de cancro digestivo.

Salienta-se também a importância da prevenção secundária, através da adesão a métodos de rastreio eficazes. Atualmente, o risco médio de uma pessoa desenvolver cancro colorretal ao longo da vida é de cerca de 5%, podendo ser maior na presença de determinados fatores de risco. Este é um dos tumores em que o rastreio demonstrou ser mais eficaz!

Importa, assim, sensibilizar a população para esta questão, bem como facilitar o acesso a métodos de rastreio eficazes, nomeadamente à colonoscopia.

QUEM DEVE REALIZAR O RASTREIO E EM QUE IDADE?

O prognóstico do cancro colorretal depende, essencialmente, do estadio no momento do diagnóstico. Uma vez que uma proporção significativa de casos continua a ser diagnosticada numa fase avançada da doença, geralmente após o aparecimento de sintomas, a mortalidade global aos 5 anos mantém-se elevada, aproximando-se dos 50%. No entanto, quando este tumor é diagnosticado numa fase precoce, nomeadamente antes de ocorrer disseminação linfática, a sobrevivência aos 5 anos aproxima-se dos 90 por cento.

Estes dados reforçam a importância do rastreio do cancro colorretal e do diagnóstico precoce, antes do aparecimento dos primeiros sintomas. Apesar da relevância do rastreio, que é recomendado por várias sociedades científicas, a adesão da população ainda é claramente insuficiente.

Atualmente, várias sociedades científicas aconselham o início do rastreio aos 45 anos, pela incidência crescente do cancro colorretal e das suas lesões precursoras (designadas pólipos) nos grupos etários mais jovens.

A antecipação do rastreio deve ser considerada para idades ainda mais jovens na presença de história familiar de cancro colorretal ou na presença de determinadas doenças genéticas que incrementam o risco oncológico.

Leia o artigo completo na edição de março 2024 (nº 347)