Na consulta de Oftalmologia, avalia-se a saúde ocular como um todo, desde patologias simples a casos complexos. Daí a necessidade de avaliação por um médico especialista, que pode pedir a realização de exames complementares de diagnóstico. Vejamos quais são os mais frequentes e para que servem.

 

Artigo da responsabilidade da Dra. Cláudia Bacalhau. Médica oftalmologista. Com o apoio da equipa de Ortóptica do Hospital da Luz Setúbal

 

 

 

Os exames complementares de diagnóstico, tal como o nome indica, são um complemento à consulta de Oftalmologia e fornecem informações adicionais importantes. São pedidos caso a caso, de acordo com a avaliação inicial.

Dentro da grande variedade de exames que existem no âmbito da Oftalmologia, serão abordados, neste pequeno guia, seis dos mais frequentes. São exames realizados diariamente em múltiplos serviços do País, mas sobre os quais existe ainda algum desconhecimento. Muitos deles são realizados com o apoio técnico de ortoptistas.

PERIMETRIA

A perimetria é um exame que avalia o campo visual, daí muitas vezes se designar por “estudo dos campos visuais”. Existem diferentes tipos de perimetria, mas a globalmente mais usada, hoje em dia, é a perimetria estática computadorizada (PEC).

COMO SE FAZ? O exame é realizado em cada olho separadamente. É indolor e não invasivo. O paciente posiciona-se de frente a uma cúpula que representa o campo visual. Depois, são apresentados estímulos luminosos de diferentes intensidades em várias localizações, com o paciente sempre a fixar um ponto central. O paciente carrega num botão quando deteta que na visão periférica surgiu um estímulo. O programa informático irá recriar um mapa do campo visual, podendo identificar-se áreas com baixa sensibilidade visual.

PARA QUE SERVE? É um exame fundamental no estudo de algumas patologias oftalmológicas, como o glaucoma ou doenças neuroftalmológicas. No glaucoma, por exemplo, existe uma visão em túnel, com perda de visão na periferia. O padrão da perda de campo visual pode indicar potenciais zonas cerebrais afetadas em doenças do foro da neuroftalmologia. É um exame que tem interesse no acompanhamento e monitorização de patologias, logo é repetido de forma periódica, podendo predizer se a doença está estabilizada ou a progredir.

VANTAGENS – Exame não invasivo, sem necessidade de dilatação pupilar.

DESVANTAGENS – é um exame dependente da colaboração do paciente, e a sua fiabilidade depende disso. Assim, em crianças pequenas ou adultos não colaborantes não é possível ser realizado.

Exemplo de perimetria (campos visuais)

 

BIOMETRIA COM CÁLCULO DE LENTE INTRA-OCULAR

PARA QUE SERVE? Corresponde a um exame pré-operatório, no caso de cirurgia de catarata ou no caso de cirurgia refrativa com implante de lente. Nestas cirurgias, é colocada uma lente intra-ocular que é calculada para cada olho. A biometria permite avaliar qual a potência indicada, bem como ajudar na seleção da tipologia de lente. Hoje, existem lentes que permitem corrigir astigmatismo e oferecer multifocalidade (visão ao perto e ao longe). O exame costuma ser realizado aos dois olhos, de modo sequencial.

COMO SE FAZ? Existem diferentes técnicas, mas a mais recente e usual é a biometria ótica (de não contacto). É um exame muito rápido e não invasivo, em que o paciente apenas precisa de fixar um ponto dentro de um aparelho. O biómetro avalia vários parâmetros do olho e, através de fórmulas de cálculo, permite determinar a melhor lente.

VANTAGENS – Rápido, não invasivo e de não contacto. Boa fiabilidade.

DESVANTAGENS – Como qualquer estimativa de cálculo pré-operatório, existe uma margem de erro, embora seja pequeno com a tecnologia de que dispomos. No caso de pessoas submetidas a cirurgia refrativa por LASER previamente, a biometria tem, obrigatoriamente, que ser ajustada a esses dados.

Exemplo de biómetro ótico de não contacto

 

TOMOGRAFIA DE COERÊNCIA ÓTICA (OCT)

Exame que teve um enorme avanço na última década. É um exame de imagem não invasivo, de não contacto, que fornece imagens de alta definição de diferentes estruturas oculares. Dispõe de vários modos de aquisição de imagem, nomeadamente o mais recente OCT-A, onde é possível estudar a microcirculação retiniana. A apresentação clássica é a apresentação de cortes tomográficos, tal como numa TAC, embora nos modelos mais recentes se consiga fazer uma reconstrução 3D das estruturas.

PARA QUE SERVE? É usado para o diagnóstico e monitorização de várias doenças oftalmológicas. Nas doenças da retina, é fundamental para o estudo da mácula (onde é obtida a visão central), fazendo diagnóstico e seguimento de patologias como buraco macular, membrana epirretiniana, edema macular diabético ou degenerescência macular ligada à idade.

No glaucoma, o OCT permite aferir possível dano morfológico, nomeadamente no anel neuro-retiniano, células ganglionares e fibras nervosas peripapilares.

COMO SE FAZ? O paciente apenas precisa fixar um ponto pré-definido dentro do aparelho. A dilatação pupilar não é obrigatória. Demora, em média, cerca de 10 minutos.

VANTAGENS – Exame rápido e não invasivo, com ótima fiabilidade, que depende pouco da cooperação do paciente. Permite monitorizar a evolução ao longo do tempo e da doença.

DESVANTAGENS – Não permite avaliar bem áreas periféricas da retina. No caso de cataratas muito densas, a qualidade das imagens é mais baixa e a aquisição mais difícil.

Estudo das fibras nervosas ao redor do nervo ótico

 

Leia o artigo completo na edição de janeiro 2021 (nº 312)