A 4 de fevereiro, celebra-se o Dia Mundial do Cancro. Essa doença temível, que a todos assusta, já é a segunda causa de morte em Portugal, a seguir às doenças cardiovasculares. No nosso país, o cancro colorretal é o segundo tipo de cancro mais frequente e também um dos que mais mortes provoca. Falar sobre este cancro e esclarecer as principais dúvidas da população é fundamental.

Artigo da responsabilidade do Dr. Manuel Limbert. Coordenador de Cirurgia Geral no Hospital CUF Cascais

 

No passado dia 15 de Janeiro, foram divulgados os dados do nosso Registo Oncológico Nacional (RON), relativos a 2020. Neste ano, que ficou marcado pela pandemia de Covid-19, os resultados, em relação ao cancro, foram aqueles que se temiam: uma diminuição do número de diagnósticos, que foram mais tardios, levando ao aparecimento de mais casos em fases mais avançadas e mais difíceis de tratar. Assim, em vez dos 60 000 a 65 000 casos de cancro previstos, foram apenas diagnosticados 52 723 casos, menos 9% que em 2019, e com uma diferença de 15 a 24% face à previsão. Consequentemente, espera-se, agora, que os dados relativos a 2021 e 2022 registem pior morbilidade e maior mortalidade.

Através da análise do RON, em termos de novos casos diagnosticados, em 2020, verificamos que os cancros da mama (7504), colorretal (6680), próstata (5776) e pulmão (4737) foram os mais frequentes, com o cancro colorretal a ocupar igualmente o segundo lugar em termos de mortalidade – foi responsável por 13,3% das mortes por cancro, em Portugal. Embora existam cancros mais agressivos do que o colorretal, esta posição deve-se ao facto de atingir um grande número de pessoas.

Mas o que é o cancro colorretal e como é diagnosticado?

O cancro colorretal é aquele que surge no nosso intestino grosso, sobretudo em pessoas com idade superior a 50 anos. Atualmente, recomenda-se a realização regular de exames de pesquisa de sangue nas fezes e colonoscopia, a partir dos 50 anos, em pessoas sem sintomas, com o objetivo de detetar lesões precursoras do cancro (os pólipos), que podem ser removidas através da colonoscopia e, assim, diminuir drasticamente o risco de desenvolver um cancro do cólon e do reto. Além disso, sendo feito em pessoas ainda sem sintomas, mas que eventualmente já tenham um cancro, permite uma deteção do mesmo numa fase mais precoce, sendo mais facilmente tratado e com maiores hipóteses de cura. Nos últimos anos, tem havido um aumento da incidência do cancro colorretal na população com menos de 50 anos, levando a que alguns especialistas recomendem a realização destes exames cada vez mais cedo, por vezes, a partir dos 45 anos.

Além destes, a biópsia líquida, que consiste na remoção de uma amostra de sangue para pesquisa de células cancerígenas ou do ADN de um cancro que ainda está para aparecer, será eventualmente o exame mais usado, no futuro, para garantir o diagnóstico precoce, a caracterização genética do cancro em desenvolvimento (permitindo, assim, selecionar o tratamento mais adequado a cada caso), bem como para avaliar a resposta ao tratamento e, assim, orientar para a necessidade, ou não, de outros tratamentos.

Que fatores aumentam o risco de ter este tipo de cancro?

O cancro colorretal pode aparecer de uma forma esporádica – estima-se que 90% dos novos casos surjam sem nenhuma história familiar conhecida – ou, em cerca de 10% dos casos, por hereditariedade. Nestes casos, há antecedentes deste tipo de cancro na família, e no caso de ser identificada uma alteração dos genes que aumenta a predisposição para o cancro colorretal, designamos mesmo como cancro familiar hereditário, que se calcula que corresponda a cerca de 5% do total de novos casos.

Até à data, ainda não se sabe ao certo o que está na origem do cancro colorretal. Estão, contudo, identificados alguns fatores que aumentam o risco de desenvolver este tipo de cancro. Entre eles, o excesso de gordura corporal (sobretudo, gordura abdominal) e a obesidade, o consumo de carne processada (enlatados, enchidos e charcutaria), de bebidas alcoólicas e de tabaco, ter uma doença inflamatória do intestino (colite ulcerosa ou doença de Crohn), fazer uma dieta rica em carnes vermelhas e, claro, ter história familiar de cancro colorretal.

E como o podemos prevenir?

Tal como existem fatores de risco, também existem fatores protetores: praticar atividade física regular e fazer uma dieta rica em fibra, cereais integrais, laticínios e cálcio contribui para preservar a saúde do intestino grosso e prevenir o cancro colorretal.

A que sinais de alerta devemos estar atentos?

Embora numa fase inicial seja, muitas vezes, silencioso, as possíveis queixas que um cancro do cólon e do reto pode provocar são, fundamentalmente, anemia, alterações do padrão do habitual trânsito intestinal, dor abdominal e sangue nas fezes. Nestas situações, deve consultar de imediato o seu médico.

Assim, neste Dia Mundial do Cancro, estas são as mensagens que deve reter, em relação ao cancro colorretal: se tem mais de 45 anos, não deixe para depois os exames de deteção precoce (em especial, a colonoscopia), evite os fatores de risco e aposte nos fatores protetores, adotando um estilo de vida saudável.