Artigo da responsabilidade da Dra. Marisa Marques, Psicóloga Clínica e da Saúde

Depois de muitas semanas de confinamento, muitos são os portugueses que regressam ao mundo do trabalho. Muitos revelam “nem dormi direito esta noite” com o receio de voltarem “à sociedade” e serem contagiados. Outros, noite após noite, receiam o que o futuro lhes reserva: desemprego, dificuldades económicas, dificuldades em lidar com os filhos e com a tele-escola… Tudo é ansiedade!!

Por um lado, “o medo e a ansiedade foram úteis para cumprir o isolamento” mas, por outro, serão “bloqueadores na hora de sair”. Porque no dia-a-dia passamos, não só a lavar as mãos muitas vezes, a tapar o nariz e a boca quando se tosse, mas também começa-se a verificar os comportamento de evitamento de espaços públicos e mesmo o contacto com as outras pessoas. Estes são comportamentos protetores que, pela repetição, tornar-se-ão

instintivos e rotineiros. No entanto, é importante alertar para as consequências que acarretam: obsessões, desconfiança, estigma e ansiedade social, com pessoas a ter medo de sair de casa e a recolherem-se mais, mais e mais…

Sentimentos de taquicardia, sudorese, perda de apetite, dificuldade em respirar, problemas de concentração e sono, tristeza, raiva e culpa serão mencionados por grande parte da população portuguesa, se não toda, em algum momento. E em quadros extremamente severos poderão desenvolver ideações suicidas e adoção de comportamentos de risco (consumo de substâncias).

Tendo em conta cenários de pandemia anteriormente vividos, sabemos que a população em geral irá experienciar quadros de depressão e ansiedade . Sendo que as vítimas de infeção COVID-19, profissionais de saúde e outros profissionais de 1º linha poderão desenvolver quadros mais complexos, como a perturbação de stress pós-traumático (PSPT), devido à sua exposição prolongada e risco de saúde desde o aparecimento do primeiro caso de COVID-19 até aos dias de hoje.

Todas essas preocupações são fenómenos universais e que todos nós vivenciamos hoje. Mas quando começam a afetar o nosso dia, a nossa noite e a causar sofrimento e ansiedade, devemos mesmo procurar ajuda. Frequentemente, pequenas alterações no quotidiano ou nos hábitos podem diminuir ou mesmo eliminar as reações ansiosas. São exemplos disso as técnicas de relaxamento e meditação, uma boa gestão e organização do tempo, uma comunicação regular e eficaz com os outros (tanto no trabalho como em casa).

No entanto, em 90% dos casos pode ser necessário o recurso a medicação e apoio psicológico. Este tipo de tratamento é, habitualmente, de longa duração e deve ser cuidadosamente acompanhado. Devendo sempre ser evitada a automedicação, uma vez que para além de poder causar dependência e potenciar o aparecimento de vários efeitos secundários, por si não é a solução eficaz. Na maioria dos casos, trabalhar as causas da Ansiedade é sim a solução mais adequada, no entanto ainda haverá casos que é necessário a conjugação dos dois meios de tratamento (psicológico e farmacológico).

Não se esqueça de que é essencial não descuidar a sua Saúde! Se se encontra nesta situação, deixo-lhe 3 regras de sobrevivência:

  1. Peça ajuda , nomeadamente, psicológica . Lembre-se que o primeiro passo

para que possa melhorar a sua condição, é aceitá-la, olhá-la de frente e

erguer-se perante ela.

  1. Procurar manter sempre a calma e, por muito difícil que seja, substituir os

seus pensamentos negativos por pensamentos positivos.

  1. Não se isole!

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