O tratamento da artrite reumatoide deve contemplar a associação dos planos terapêuticos convencionais, traçados pelas equipas médicas ocidentais, com a complementaridade de uma dieta adequada ao perfil inflamatório da doença, baseada nos princípios da Medicina Tradicional Chinesa, e o efeito da acupuntura.
Artigo da responsabilidade da Dra. Diana Seixas. Doutorada em Ciências Biomédicas. Especialista em Medicina Tradicional Chinesa, com formação em Medicina Complementar na Prática Clínica
A artrite reumatoide (AR) é uma doença inflamatória, sistémica, poliarticular, crónica, autoimune, multifatorial e de causa desconhecida, prevalente em 0,5% a 1,0% da população mundial. Afeta principalmente as articulações, sobretudo das mãos e dos pés, provocando dor, edema (inchaço) e rigidez, que conduzem a longo prazo à destruição articular e, consequentemente, à limitação e incapacidade funcional.
AVANÇOS MÉDICOS E EFEITOS SECUNDÁRIOS
Atualmente, o paradigma do tratamento da AR assenta nos princípios da estratégia “treat-to-target”, T2T, onde o alvo é a remissão ou, pelo menos, a diminuição da atividade da doença, o mais rápido e consistentemente possível. Este caminho para o diagnóstico e tratamento precoce integra a avaliação clínica, a quantificação da atividade da doença, assim como os reajustes terapêuticos necessários. Desta forma, o desenvolvimento sustentado da terapia medicamentosa tradicional e os avanços médicos das estratégias terapêuticas têm permitido alcançar resultados significativos na melhoria da progressão e no impacto da AR.
No entanto, embora o estado clínico dos doentes tenha melhorado, alguns mostram ainda uma resposta limitada aos novos fármacos que, em doses elevadas e administrações frequentes, provocam efeitos secundários indesejáveis e valores de atividade da doença longe da remissão. Aqui, os doentes referem, ainda, manter a dor, o edema, a diminuição da capacidade funcional e também da qualidade de vida.
PORTA ABERTA PARA NOVAS TERAPIAS
A tomada de consciência crescente face aos efeitos secundários e indesejáveis dos fármacos, a par com a complexidade do mecanismo fisiopatológico da AR, e o facto de este não estar, ainda, completamente esclarecido, exige uma abordagem multidisciplinar para uma melhor gestão da doença, que abre portas a novos requisitos e a novas terapias. É aqui que a acupuntura aparece e ganha destaque, como tratamento concomitante e/ou primordial.
Enquanto forma de atuação da Medicina Tradicional Chinesa (MTC), a acupuntura surge como uma terapia complementar aos tratamentos convencionais já instituídos, sendo recomendada pela Organização Mundial de Saúde pelo seu efeito terapêutico.
A sua integração no tratamento da AR tem acontecido gradualmente. Hoje, é bastante utilizada na prática clínica, de forma a controlar a doença e a melhorar a qualidade de vida dos doentes, estando diretamente associada ao tratamento da dor, enquanto processo agudo ou crónico, e às doenças neurodegenerativas, caminhando de mãos dadas com um plano alimentar adequado, à luz dos princípios da MTC, crucial para atingir melhores resultados.
EFEITO ANALGÉSICO
O tratamento com acupuntura proporciona um efeito analgésico geral, através da regulação dos níveis de opiáceos endógenos, serotonina, norepinefrina, e pela inibição dos nociceptores viscerais, citoquinas inflamatórias e ativação do sistema nervoso central.
Na artrite reumatoide, o processo inflamatório crónico, que afeta as articulações e provoca deformidades, causa uma dor articular típica, associada a esse desconforto articular, que é bastante variável e subjetiva. Em consulta, na avaliação do doente e da doença, deparamo-nos, muitas vezes, com a divergência entre as alterações articulares, a evidência radiológica e a dor.
Atualmente sabe-se que estas alterações são motivadas pela plasticidade neural que ocorre no sistema nervoso periférico e central dos doentes; e a acupuntura revela ter a capacidade de estimular as regiões sensoriais periféricas, produzindo um efeito analgésico transitório, que a torna num provável mediador de plasticidade neural e também de regulação do processo infamatório.
A manutenção deste efeito de neuromodulação excessiva produzido pela acupuntura realiza-se todas as semanas em situações agudas ou em tratamentos quinzenais ou mensais. É importante referir que à luz da MTC, cada doente é avaliado e tratado individualmente, com recomendações de tratamento específicas à sua situação clínica, estabelecidas após o diagnóstico diferencial.
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