O sinus pilonidal, também conhecido – embora erradamente – como quisto dermoide, é uma condição clínica frequente. Embora predominante nos jovens do sexo masculino pode ocorrer em ambos os sexos e em todas as idades.

Artigo da responsabilidade do Dr. Eduardo Xavier. Médico cirurgião e proctologista

 

Embora não seja considerada uma doença grave, o sinus pilonidal afeta muitas vezes a atividade normal do dia a dia, podendo complicar-se por infeções de caráter agudo ou crónico. A cirurgia tradicional, ainda hoje praticada, assusta quem necessita ser tratado, devido à penosidade associada ao pós-operatório, geralmente longo e doloroso. Felizmente, há boas notícias, sobre as quais iremos falar.

UM POUCO DE HISTÓRIA…

As primeiras referências ao sinus pilonidal remontam a 1833, quando Herbert Mayo, um cirurgião britânico, o descreveu como um aglomerado de pelos dentro da pele da região do cóccix. A existência deste “ninho de pelos” originou, assim, a palavra “pilonidal”. Embora esta doença tivesse sido considerada congénita, as investigações efetuadas ao longo dos anos concluíram que o seu aparecimento se deve à penetração de pelos desde a superfície da pele para zonas mais profundas, vizinhas da superfície óssea do cóccix.

DEFINIÇÃO E CAUSAS

O sinus pilonidal é, então, caracterizado por uma inflamação crónica da camada mais profunda da pele, cuja causa é a já referida aglomeração de pelos que nela penetra. Este fenómeno é originado pela pressão exercida pelo peso do corpo contra superfícies onde a região coccígea assenta.

A título de curiosidade, durante a Segunda Guerra Mundial, a frequência de casos diagnosticados nos soldados sujeitos a longas viagens motivou que esta situação fosse chamada de “doença do jipe”.

Fácil será, assim, deduzir que a presença de maior quantidade de pelo, a obesidade e também a permanência na posição sentado por longos períodos, são fatores que concorrem para o aparecimento desta doença.

Apesar de poder ser observada noutras partes do corpo, a sua localização é mais frequente na região do cóccix.

REAÇÃO INFLAMATÓRIA

Esta aglomeração de pelos no interior das camadas mais profundas da pele causa uma reação inflamatória e a formação de uma espécie de quisto que comunica com o exterior por pequenos canais, que se reconhecem nos orifícios observados na superfície da pele.

A entrada de bactérias para o quisto é causa das infeções frequentemente associadas a esta doença.

A infeção é a responsável pela saída frequente de sangue e pus, podendo, em casos mais graves, haver a formação de vários trajetos que podem drenar para a superfície cutânea. Noutros casos, podem observar-se úlceras compostas de tecido infetado.

Em muitos doentes, surge uma complicação aguda muito dolorosa pela acumulação de pus e que se denomina de abcesso, a qual é uma das formas de apresentação inicial da doença.

Podemos, assim, concluir que o sinus pilonidal pode manifestar-se em vários graus de gravidade, que vão desde a ausência de sintomas até situações complicadas com trajetos múltiplos e que, com alguma frequência, podem atingir grandes dimensões.

A infeção dos tecidos pode contaminar o osso adjacente, podendo originar uma infeção crónica grave, a que se dá o nome de osteomielite.

Embora tenham sido raramente observados, estão descritos casos de aparecimento de tumores malignos da pele em doentes com sinus pilonidal de longa evolução.

 MEDIDAS A TOMAR

Dado que a existência de pelos é condição fundamental para o aparecimento da doença, a depilação definitiva com laser tem sido reconhecida pelas suas vantagens. Para além de diminuir a gravidade da doença, contribui para a diminuição de recidivas após tratamento cirúrgico.

Outras medidas que deverão ser levadas em linha de conta são a diminuição de peso e a limitação de tempo na posição sentado.

Nos dias que correm, o trabalho e o lazer que obrigam a longos períodos em frente ao computador são fatores que aumentam a incidência de sinus pilonidal, sendo convenientes medidas preventivas que possam atenuar os efeitos da pressão na zona do cóccix.

CIRURGIA TRADICIONAL

A cura do sinus pilonidal só pode ser conseguida através da cirurgia. Existem várias técnicas cirúrgicas clássicas para o tratamento desta doença, sendo que quase todas têm em comum um pós-operatório muito doloroso, uma convalescença demorada e a necessidade de pensos geralmente muito penosos para o doente. Nalguns casos, a cicatrização completa pode demorar várias semanas ou até vários meses.

Para além de tudo isto, existe ainda possibilidade de recidiva, que implica a execução de novo procedimento cirúrgico e a repetição de mais um ciclo de sofrimento.

Este panorama leva a que muitos doentes não aceitem este tipo de tratamento, levando a que, no seu quotidiano, os cuidados especiais de higiene e de desinfeção se tornem num ritual que nalguns casos necessita ser repetido várias vezes ao longo do dia.

CIRURGIA COM LASER OU A SEGUNDA INVENÇÃO DA RODA

A remoção minimamente invasiva do sinus pilonidal com o auxílio de videoscopia e energia laser veio revolucionar a forma de tratamento desta doença, pela possibilidade um pós-operatório quase isento de dor, uma recuperação rápida, cómoda e um rápido regresso à vida normal.

Leia o artigo completo na edição de dezembro 2023 (nº 344)