As alterações hormonais que afetam o homem e a sua sexualidade ao longo do envelhecimento são vulgarmente referidas como andropausa. Mas será que tal realmente existe?

Artigo da responsabilidade da Dra. Vanessa Vilas Boas. Urologista/andrologista no Hospital Cruz Vermelha, em Lisboa

 

Andropausa é um termo incorreto, uma vez que faz um paralelismo com a menopausa, fenómeno natural que ocorre em todas as mulheres, num período previsível da vida e que acarreta um declínio acentuado nos níveis hormonais e o fim do seu período fértil.

Nos homens saudáveis, tal não acontece, sendo a redução dos níveis de testosterona – a principal hormona masculina – de apenas cerca de 1% por ano, pelo que a idade, por si só, não é suficiente para explicar uma “andropausa”.

OUTROS FATORES

Vários outros fatores têm um peso preponderante para esta condição, corretamente designada por hipogonadismo de início tardio, que corresponde a um défice de testosterona controladamente comprovado e que condiciona vários sinais e sintomas, os quais, por sua vez, afetam diversos aspetos da saúde do homem.

A obesidade, a diabetes, a dislipidemia e a hipertensão arterial são doenças comuns que interferem na produção e manutenção dos níveis de testosterona, agravando significativamente o declínio fisiológico que acompanha a idade, uma vez que também são mais prevalentes com o envelhecimento.

SINTOMAS DO DÉFICE DE TESTOSTERONA

Os sintomas mais facilmente associados ao défice de testosterona são a diminuição do desejo sexual, da frequência de ereções espontâneas ou matinais e a disfunção erétil, acarretando uma redução global da atividade sexual.

Porém, esta hormona é fundamental a outros níveis, podendo a sua redução causar também sensação de fadiga, com perda da massa muscular, da força e da rentabilidade física, aumento da gordura corporal, alterações do humor com irritabilidade e sintomas depressivos, perturbações do sono e da memória, com dificuldades de concentração, e perda da pilosidade corporal.

COMO É FEITO O DIAGNÓSTICO?

Além da avaliação dos sinais e sintomas já mencionados, o hipogonadismo de início tardio deve ser confirmado pela dosagem de testosterona no sangue em, pelo menos, duas análises matinais.

A avaliação laboratorial deve incluir também a glicose e os lípidos no sangue, para exclusão dos fatores de risco acima mencionados, assim como o doseamento do PSA, o qual, em conjunto com o toque retal, permite avaliar a suspeita de cancro de próstata, antes de avançar para o tratamento com reposição hormonal.

TRATAMENTOS DIRECIONADOS

Uma vez que a redução da testosterona tem múltiplas causas, também o tratamento deverá ser direcionado a cada um dos fatores identificados.

Quando os níveis desta hormona são comprovadamente inferiores aos normais, pode ocorrer a sua prescrição sob diversas formas, nomeadamente injeções intramusculares ou gel de aplicação cutânea.

É fundamental obter e manter o peso ideal através da dieta e exercício físico regular, o que também tem a vantagem de promover o ganho de massa muscular e perda de gordura, assim como o controle adequado da diabetes e hipertensão arterial.

MELHORAR O DESEMPENHO SEXUAL

A disfunção erétil que surge nos homens após os 50 anos é multifatorial e nem sempre acompanhada por um défice comprovado de testosterona.

É necessário identificar e corrigir os fatores de risco para esta doença, que são comuns às doenças cardiovasculares: obesidade, diabetes, hipertensão arterial, dislipidemia, sedentarismo e tabagismo. Para tal, é necessária uma mudança verdadeira no estilo de vida, que se deve manter.

A par destas medidas, a terapêutica farmacológica é amplamente difundida e pode ser recomendada após avaliação pelo médico urologista.

Leia o artigo completo na edição de novembro 2025 (nº 365)