Educar, prevenir, identificar, tratar, reabilitar e reintegrar são elos essenciais no combate ao AVC e às suas consequências.

Artigo da responsabilidade do Dr. Alexandre Amaral e Silva. Neurologista no Hospital CUF Santarém e no Hospital CUF Tejo

 

Quando pensamos na nossa velhice, imaginamo-nos pessoas enérgicas e saudáveis, rodeadas de família e amigos, a gozar todos os pequenos prazeres da vida. Ninguém gosta de pensar na velhice associada a doenças, limitações e incapacidades.

No entanto, não raramente, vivemos o dia a dia numa correria sem fim, atrás da estabilidade económica, dos sucessos profissionais e das realizações pessoais, negligenciando os hábitos saudáveis que permitem almejar essa ambicionada vitalidade nas fases mais avançadas da vida. Muitos acabam, inadvertidamente, a contribuir com essa negligência para a sua própria infelicidade, descurando os cuidados com a sua própria saúde.

CAUSA DE INCAPACIDADE E MORTE

Quando falamos de causas potenciais de mortalidade precoce e incapacidade em Portugal, o acidente vascular cerebral (AVC) continua a destacar-se como a doença mais representativa, condicionando cerca de 25.000 internamentos anuais e perto de 6000 mortes.

Apesar das campanhas de formação e educação para a saúde e de todos os esforços dos profissionais de saúde, sociedades científicas ou elementos da sociedade civil na promoção das medidas de prevenção, a cada hora que passa 3 portugueses sofrem um AVC.

Não obstante os enormes progressos no diagnóstico e tratamento, um destes 3 doentes acaba por morrer e metade fica com algum grau de incapacidade. O AVC representa, portanto, um peso muito grande, não só em termos pessoais, mas também familiares, sociais e económicos. Importa, pois, conhecer um pouco mais sobre esta doença, de forma que possamos ser todos agentes ativos no seu combate.

O QUE É UM AVC?

O AVC é uma doença súbita que afeta uma zona limitada do cérebro em resultado de uma alteração da circulação sanguínea, a qual impede a chegada do oxigénio e dos nutrientes. Essa interrupção pode ser causada por um entupimento (AVC isquémico ou trombose) ou por uma rotura dos vasos (AVC hemorrágico ou derrame), sendo os primeiros os mais frequentes, correspondendo a cerca de 85% dos casos.

O AVC É UMA DOENÇA DOS IDOSOS?

Apesar de a probabilidade de ter um AVC ir aumentando com a idade, o AVC pode ocorrer em qualquer fase da vida, incluindo em crianças. Nas idades mais jovens, os casos estão frequentemente relacionados com fatores não modificáveis, nomeadamente doenças hereditárias ou de forte influência genética.

À medida que a idade avança, os fatores modificáveis – como a hipertensão arterial, o colesterol elevado ou a diabetes – ganham relevância enquanto fatores de risco e são responsáveis pela maior parte dos casos.

É POSSÍVEL PREVENIR UM AVC?

Se é verdade que existem fatores de risco não modificáveis, como sejam a idade, o sexo ou a herança genética, a esmagadora maioria dos casos de AVC são preveníveis, pois estão relacionados com as consequências de fatores modificáveis. Entre os mais comuns estão a hipertensão arterial, o colesterol elevado, a diabetes, o tabagismo, a obesidade, o sedentarismo ou as arritmias, como a fibrilhação auricular.

A prevenção do AVC passa pela adoção de estilos de vida saudáveis. Privilegiar a tradicional dieta mediterrânica, rica em frutas e legumes frescos, pobre em gorduras e em sal, a prática regular de exercício físico, a cessação tabágica e a redução do consumo de álcool são alguns dos fatores determinantes e que devem ser promovidos ativamente.

Se queremos que as gerações futuras sejam mais saudáveis, devemos incutir estes princípios desde as idades mais precoces, quer no seio familiar, quer através de programas de educação para a saúde nas escolas.

COMO POSSO RECONHECER UM AVC?

O reconhecimento atempado dos sinais de alerta do AVC é um passo decisivo para o rápido encaminhamento dos doentes para o hospital, de forma que possam ser tratados eficazmente.

Fala (dificuldade em falar), Face (boca ao lado ou desvio da face) e Força (falta de força num membro ou de um lado do corpo) são os chamados 3 Fs, os sinais de alarme do AVC. Na presença de um ou mais destes sinais, devemos contactar o INEM, através da linha 112. Desta forma, será possível ativar a chamada Via Verde do AVC e encaminhar o doente para o hospital mais próximo com capacidade para realizar os tratamentos adequados.

Leia o artigo completo na edição de março 2023 (nº 336)