O verão pode representar um desafio para quem vive com lúpus devido ao aumento da sensibilidade à luz solar e às altas temperaturas. O lúpus eritematoso sistémico (LES) é uma doença autoimune crónica que pode afetar diversos órgãos e sistemas do corpo. No entanto, com cuidados preventivos, nomeadamente através do uso de proteção adequada e acompanhamento médico regular, é possível aproveitar a estação com segurança e bem-estar.
Artigo da responsabilidade do Dr. Carlos Carneiro. Médico especialista em Medicina Interna. Coordenador do Núcleo de Estudos de Doenças Autoimunes da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI)
Como qualquer doença crónica, o LES implica uma disciplina rigorosa na adoção de comportamentos que minimizem o aparecimento de sintomas e/ou o seu agravamento. Assim, a prática de exercício físico melhora as queixas articulares, enquanto que a cessação tabágica otimiza a resposta dos medicamentos aos sintomas de LES.
Outro cuidado particular que as pessoas diagnosticadas com LES devem ter é com a exposição solar. Na praia devem permanecer à sombra e sempre protegidos com protetor solar, sobretudo nas horas de maior índice de raios UV (entre as 11h e as 16h). Aliás, a utilização de protetor solar é recomendada sempre que se estiver ao ar livre. A sensibilidade à luz do sol pode desencadear sintomas como erupções cutâneas ou até lesões graves nos órgãos internos.
Por outro lado, não é recomendada a contraceção oral à base de estrogénios, não só porque pode desencadear uma crise, como também aumenta o risco de trombose.
Paralelamente, a adoção de determinados cuidados com a alimentação pode ajudar a prevenir efeitos colaterais da doença ou decorrentes da medicação utilizada para mitigar os sintomas. Nesse sentido, é recomendada uma dieta com:
- Baixo teor de sal, de modo a prevenir subidas de tensão;
- Baixo teor de açúcares, para prevenir o aparecimento da diabetes e o aumento de peso;
- Alimentos ricos em cálcio e com pouca gordura animal, de modo a prevenir a osteoporose, excesso de colesterol e obesidade;
- Alimentos ricos em vitamina D ou suplementação de vitamina D, devido ao decréscimo de exposição solar, assim como para mitigar eventuais efeitos adversos da toma de antimaláricos.
Com a chegada do verão, é fundamental que os doentes estejam atentos a certos cuidados para evitar o agravamento dos sintomas e complicações.
A consciencialização e o planeamento são essenciais para evitar complicações e manter a qualidade de vida durante os meses mais quentes do ano.
- Fotossensibilidade e reações cutâneas
Muitos doentes com lúpus apresentam fotossensibilidade, ou seja, reações adversas à exposição à luz UV. Essa sensibilidade pode desencadear ou agravar manifestações cutâneas, como a clássica erupção em forma de borboleta no rosto, além de outras lesões na pele. Essas reações podem ser dolorosas, causar desconforto e deixar marcas permanentes.
- Agravamento dos sintomas sistémicos
Além das manifestações cutâneas, a exposição solar excessiva pode levar ao aumento da fadiga, dores nas articulações e febre, além de potenciar a inflamação sistémica, agravando o quadro clínico do LES.
- Risco de complicações
O calor intenso pode levar à desidratação, exaustão pelo calor e agravamento de condições associadas, como problemas renais ou cardiovasculares, comuns em doentes com LES.
Para minimizar os riscos e manter a qualidade de vida, os doentes devem adotar um conjunto cuidados extra durante os meses de verão:
- Utilizar protetor solar de amplo espectro (FPS 50 ou superior), reaplicando a cada duas horas, especialmente após sudorese ou contato com água. Optar por roupas de proteção, como camisas de manga longa, chapéus de aba larga e óculos com proteção UV.
- Evitar exposição direta ao sol. Permanecer em ambientes sombreados entre as 10h e 16h, período de maior intensidade solar e/ou usar toldos e guarda-sóis.
- Promover a hidratação constante, bebendo bastante água ao longo do dia para evitar desidratação, que pode agravar sintomas e comprometer a saúde geral.
- Manter-se em ambientes frescos, evitando o calor excessivo. Uso de ventiladores ou ar-condicionado pode ajudar a controlar a temperatura corporal.
- Consultar o seu médico assistente ou equipa médica que o segue para ajustes na medicação e orientações específicas, caso surjam novas ou agravamento das manifestações sistémicas ou de órgão alvo. Alerta-se para o facto do uso de certos medicamentos poderem aumentar a sensibilidade à luz solar pelo que se reforça a importância do uso de proteção adequada.
Os doentes com LES devem seguir as orientações do seu médico e adaptar seu estilo de vida às necessidades específicas da sua condição.
Cuidados preventivos fazem toda a diferença!
Saiba também mais sobre o LES em:
You must be logged in to post a comment.