Portugal apresenta a segunda maior prevalência de diabetes nos países da União Europeia. Estes dados são deveras preocupantes e alertam-nos para o facto de ser extremamente importante apostar na prevenção desta doença.

Artigo da responsabilidade do Enfº. Bruno Nunes. Co-fundador e atual membro da Direção da GIROHC

 

A diabetes mellitus – ou só diabetes, como costuma ser denominada – é normalmente causada pela produção deficiente ou não produção de insulina pelo organismo, ou porque este não a consegue utilizar devidamente. Portanto, esta doença crónica afeta a forma como o nosso corpo transforma o alimento em energia, alterando, assim, os valores de açúcar no sangue.

Isto pode gerar diversas complicações, se não for tratada ou devidamente controlada, nomeadamente problemas oculares (retinopatia, cataratas, cegueira), renais (mau funcionamento dos rins, micção excessiva) e, principalmente, a nível circulatório ( AVC, má circulação periférica, com úlceras nos pés difíceis de cicatrizar, levando, em casos mais graves, a amputações).

Existem três principais tipos de diabetes: diabetes tipo 1, diabetes tipo 2 e diabetes gestacional.

TIPOS DE DIABETES

Em termos práticos, na diabetes tipo 1 o organismo não consegue produzir insulina ou produz pouca, enquanto na diabetes tipo 2 o organismo não produz insulina suficiente ou as células não reagem à insulina como deviam.

Por outro lado, o que acontece na diabetes gestacional é um aumento significativo do açúcar no sangue na mulher grávida, podendo aparecer em qualquer estágio da gravidez, mas sendo mais comum no segundo ou terceiro trimestre. Normalmente, desaparece após o nascimento.

FATORES DE RISCO

Os fatores de risco inerentes a esta patologia são vários e, de forma geral, aplicados a outras doenças também. “Bons garfos”, “chaminés” e/ou “atletas de sofá” são os três alvos mais relevantes, ou seja, presença de obesidade, maus hábitos (tabaco/álcool) e sedentarismo.

No entanto, a diabetes tipo 1 também pode aparecer por influência genética ou infeções virais na infância. A diabetes tipo 2 pode ser devida, igualmente, a influências genéticas, mas não só, estando mais ligada ao facto de a pessoa ter hipertensão arterial, maus hábitos de vida, colesterol elevado ou até mesmo por privação do sono.

SINTOMAS

Os principais sintomas da diabetes são sede excessiva (polidipsia), grande produção de urina (poliúria), cansaço e perda de peso. Outros sintomas podem incluir comichão na zona da vagina ou do pénis e visão desfocada. No entanto, alguns sintomas diferem de acordo com o tipo de diabetes, a saber:

Diabetes tipo 1 – Se os níveis de glicose aumentarem demasiado, pode sofrer um ataque de hiperglicemia – excesso de açúcar e desidratação, que levam à fraqueza e, em casos mais graves, a convulsões. Isto acontece devido a falta de controlo entre o tipo/quantidade de alimentos ingeridos e a quantidade de insulina administrada, ou a falta dela.

Se os níveis de açúcar no sangue baixarem demasiado, é denominado hipoglicemia. Quando a dose de insulina administrada é superior à que o corpo necessita, ou quando a pessoa não come nada durante algum tempo, poderá sentir tremores, suor excessivo e até desmaio.

Diabetes tipo 2 Os sintomas da diabetes tipo 2, normalmente, desenvolvem-se durante semanas ou meses. Algumas pessoas com diabetes tipo 2 têm poucos ou nenhum desses sintomas. Contudo, continuam a precisar de tratamento para que não se desenvolvam problemas graves, como doenças renais, por exemplo.

PÉ DIABÉTICO

A Organização Mundial de Saúde define o pé diabético como: “A infeção, ulceração e/ou destruição de tecidos profundos, que está associada a alterações neurológicas e/ou vários graus de doença arterial oclusiva na extremidade inferior”.

O doente diabético deve ter em atenção que manter a diabetes controlada é muito importante para evitar complicações nos pés e não só. Existem inúmeros cuidados que devemos ter no que diz respeito aos pés, entre eles o tipo de calçado/meias a usar, uma boa higienização e hidratação, observar os pés para ver se há alterações e ter especial cuidado com as unhas. Como pode haver uma perda de sensibilidade, devido a má circulação sanguínea, também se deve ter muita atenção com a utilização de fontes de calor muito próximas dos pés. Em casos mais graves, pode ser necessária a amputação.

DIAGNÓSTICO

O diagnóstico da diabetes é realizado através da análise de urina para detetar a presença de glicose e, posteriormente, confirmado através da análise ao sangue (HbA1c – hemoglobina glicosada). Caso não seja possível diagnosticar a doença através destes meios, devido a quantidade insuficiente de glicose, pode ser realizado um exame denominado prova de tolerância à glicose.

TRATAMENTO E CONTROLO

Relativamente ao tratamento/controlo desta patologia, este tem por base três elementos essenciais e que se relacionam entre si: alimentação, atividade física e medicação.

ALIMENTAÇÃO – Uma alimentação saudável e equilibrada é, obviamente, aconselhada a todas as pessoas. No entanto, pessoas com diabetes, não só devem ter em atenção aquilo que ingerem, mas principalmente a quantidade de hidratos de carbono presentes em cada refeição e, ainda, o número de refeições realizadas durante o dia.

Portanto, devem ser realizadas cerca de seis refeições diárias, não tendo um intervalo superior a três horas entre as mesmas. Os intervalos entre refeições são de extrema importância em todas pessoas com esta doença, principalmente nos insulinotratados, já que nos permite ter um padrão regular de absorção de glucose durante o dia. Um jejum noturno inferior a oito horas vai evitar potenciais hipoglicemias.

ATIVIDADE FÍSICA – Toda a gente deveria praticar um mínimo de 30 minutos de exercício, pelo menos, três vezes por semana. Pode optar por uma caminhada ou utilizar escadas em vez do elevador, o importante é que realize algum tipo de atividade física para que os valores da glicemia não subam exageradamente. No entanto, convém verificar sempre o valor da glicemia antes da prática de exercício, porque se os valores estiverem baixos, é necessário ingerir algum alimento, para não haver o risco de ocorrer uma hipoglicemia.

MEDICAÇÃO – O mais importante na medicação é ter controlo sobre a mesma, quer seja insulina ou antidiabéticos orais. A dosagem e a forma de administração do medicamento serão explicados posteriormente pelo profissional de saúde responsável.

TODOS SOMOS PRÉ-DIABÉTICOS

Desta forma, é de extrema importância que as pessoas, principalmente as que têm diabetes, percebam o quão necessário é seguir à risca os tópicos descritos nesta tríade: alimentação, exercício físico e medicação.

Ou seja, excluindo as pessoas diagnosticadas com diabetes, todos somos pré-diabéticos e todos devemos ter em atenção os nossos hábitos, para que adotemos um estilo de vida saudável, tornando assim mais improvável que esta doença se desenvolva. Devemos, portanto, repensar as nossas opções para nosso próprio benefício.

 

Aposta na prevenção

A Associação de Pessoas com Diabetes – GIROHC tem como principal objetivo a prevenção da diabetes. De acordo com a Federação Internacional de Diabetes (IDF), Portugal apresenta a segunda maior prevalência de diabetes nos países da União Europeia. Na UE, a prevalência de diabetes em 2021 foi de 6,2%, na população entre os 20 e os 79 anos, enquanto em Portugal foi de 9,1%.

Estes dados, assim como muitos outros que podemos encontrar relativamente a esta temática da diabetes, são deveras preocupantes e alertam-nos para o facto de ser extremamente importante apostar na prevenção desta doença.

Leia o dossier completo na edição de novembro 2023 (nº 343)

 

Referências bibliográficas

ANDERSON, J.M. Empowering patients: issues and strategies. Soc. Sci. Med., v.43, n.5, p.697-705, 1996.

BLOOMGARDEN Z.T. et al. Randomized, controlled trial of diabetic patient education: improved knowledge without improved metabolic status. Diabetes Care, v.10, p.263-272, 1987.

BURY, M. The sociology of chronic illness: a review of research and prospects. Sociol. Health Illn., v.13, p. 451–68, 1991.

CANGUILHEM, G. O Normal e o Patológico. 3ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1990.

CASTIEL, L.D. Força e vontade: aspectos teórico-metodológicos do risco em epidemiologia e prevenção do HIV/AIDS. Rev. Saúde Pública, v.30, n.1, p.91-100, 1996.