… uma pergunta, crua e impactante, que ecoa como um lembrete das nossas limitações.

Artigo da responsabilidade do Dr. Eurico Silva, Medicina Geral e Familiar

Na Semana Europeia da Vacinação, somos chamados a refletir sobre o poder transformador da prevenção – uma simples vacina pode significar a diferença entre a saúde e a doença, a autonomia e a dependência, a vida e a morte.

Mais do que um escudo contra doenças potencialmente fatais, as vacinas são um investimento na vida e na capacidade a aproveitarmos em pleno. Ao vacinarmo-nos, estamos, não só a reduzir a incidência de infeções, como a sua intensidade. Hoje sabemos que em muitos casos, muitos mais do que gostaríamos, a ausência de vacinação pode precipitar um quadro aparentemente controlado, para um estado de dependência avassalador, com perda de autonomia e de funções dificilmente recuperáveis.

Quantas histórias conhecemos de vidas encurtadas ou de famílias destroçadas por doenças que poderiam ter sido travadas com uma mera vacina? Morre-se, infelizmente, por patologias evitáveis, e esta é uma realidade que não podemos ignorar.

E se acredita que os benefícios da vacinação se limitam à proteção direta contra um agente específico, surpreenda-se: está cientificamente provado que muitas vacinas reduzem, posterior e indiretamente, o risco de eventos cardiovasculares graves como enfartes e AVCs. Para além de nos protegerem, primariamente, de doenças como a gripe ou a pneumonia, por exemplo, as vacinas reduzem significativamente a probabilidade desenvolvimento de processos inflamatórios que podem desencadear complicações cardíacas e vasculares.

O investimento numa vacina é infinitamente menor do que os custos humanos, sociais e económicos de lidar com as consequências de uma doença grave. Pense nas pessoas que ama, na sua própria saúde e na proteção dos vossos futuros. Fruto da complexa interação entre o nosso sistema imunitário e diferentes patologias, sabemos hoje que a vacinação contra uma doença pode impedir indiretamente o desenvolvimento de outras complicações de saúde a longo prazo. A investigação científica tem revelado benefícios adicionais da vacinação, como o impacto positivo na prevenção doenças que não imaginávamos estarem relacionadas.

Mais acrescento que, se no ano passado enfrentou um problema de saúde, lembre-se que este ano, com mais 365 dias de vida, os benefícios da vacinação vão ser ainda mais significativos. Proteger-se agora é salvaguardar a sua saúde no futuro. Existe, inegavelmente, um tempo económico para vacinar: agora, enquanto estamos saudáveis e podemos investir na nossa proteção. Não podemos, nem devemos esperar até estarmos em risco, numa cadeira de rodas ou num caixão para reconhecer o valor inestimável da prevenção.

Informe-se, converse com o seu médico e planeie. Ao longo do ano, enfrentamos a sazonalidade de doenças como infeção por vírus sincicial respiratório (VSR) ou a gripe. Mas existem outras vacinas importantes, como as que nos protegem contra a pneumonia ou contra o herpes zoster, que podem ser administradas em qualquer estação. Trace um plano de imunização e cumpra-o.

Acima de tudo, informa-se e evite aconselhar-se no café. É alarmante a quantidade de mitos infundados e informações erróneas que circulam em conversas informais, minando a confiança na vacinação. Perante a decisão de vacinar ou não, devemos recorrer a profissionais de saúde qualificados e a fontes de informação credíveis.

Existem vários sites e instituições que disponibilizam informação rigorosa e atualizada. São exemplo entidades oficiais nacionais e internacionais como a Direção-Geral da Saúde ou a Organização Mundial da Saúde, sociedades científicas e associações médicas ou de doentes, sites institucionais e plataformas validadas por profissionais reconhecidos, como é o caso de Inxpira, dedicada às doenças respiratórias e disponível em www.inxpira.pt.

Nesta Semana Europeia da Vacinação, o apelo é claro: informemo-nos junto de fontes seguras, consultemos os nossos médicos e façamos uma escolha consciente pela vida. O ato de nos vacinarmos pode parecer um gesto pequeno, mas o seu impacto no nosso bem-estar e no futuro da nossa saúde é imenso. Ao escolhermos a vacina, estamos a optar pela vida.