Por que razão é tão importante falarmos sobre a tiroide e conhecê-la um pouco melhor?

Artigo da responsabilidade da Drª. Inês Sapinho. Médica endocrinologista. Coordenadora do Serviço de Endocrinologia e da Unidade da Tiroide do Hospital CUF Descobertas; endocrinologista do Centro de Dermatologia de Lisboa e do Hospital Particular do Alentejo; autora do livro “Os Segredos da sua Tiroide”

 

Na minha opinião, são quatro os principais motivos pelos quais devemos dar a importância à tiroide:

  • O papel crucial desta glândula no nosso bem-estar;
  • O elevado número de pessoas que sofrem de alguma doença da tiroide, mas que a desconhecem, perdendo qualidade de vida e o equilíbrio que podiam ser recuperados através do diagnóstico e tratamento adequados;
  • A existência de mitos relacionados com as doenças da tiroide, que devem ser esclarecidos;
  • O desenvolvimento científico e tecnológico na abordagem destas doenças (sobretudo no tratamento dos nódulos e do cancro da tiroide) que, nos últimos anos, permitiu diminuir o risco da cirurgia e melhorar o prognóstico.

HORMONAS TIROIDEIAS SÃO ESSENCIAIS À VIDA

A tiroide é uma glândula única, situada na região anterior do pescoço, cuja atividade afeta todo o nosso organismo. Produz, essencialmente, duas hormonas – a T3 (triiodotironina) e a T4 (tiroxina) –, as quais, quando libertadas para a corrente sanguínea, atuam em quase todas as células do organismo, sendo essenciais para a vida.

Atuam diretamente no crescimento e desenvolvimento de crianças e de adolescentes, na regulação dos ciclos menstruais, na fertilidade, no peso, na memória, na concentração, no humor e no controle emocional. Regulam a frequência cardíaca e a respiratória, a pressão arterial e o funcionamento do intestino. Simplificando, podemos afirmar que as hormonas tiroideias regulam a velocidade de funcionamento das células, garantindo o equilíbrio do organismo.

Se a produção de hormonas se tornar insuficiente, o metabolismo desacelera (hipotiroidismo) e, se houver excesso de produção, o metabolismo acelera (hipertiroidismo), sendo que o hipotiroidismo é cerca de 10 vezes mais frequente do que o hipertiroidismo.

A causa mais comum, em ambos, é a doença autoimune da tiroide, podendo a disfunção da tiroide manifestar-se em qualquer idade.

SINTOMAS DEBILITANTES

Num doente com hipotiroidismo, o cansaço, a apatia, o humor depressivo, as alterações da memória, a dificuldade em perder peso ou até mesmo um ligeiro aumento de peso, a obstipação, a queda de cabelo, as unhas quebradiças e a pele seca são as queixas mais frequentes.

Pelo contrário, o hipertiroidismo provoca um “aumento da velocidade” do nosso organismo, pelo que as queixas mais frequentes são agitação, ansiedade, insónias, palpitações, aumento do trânsito intestinal e emagrecimento, associado, muitas vezes, ao aumento de apetite.

Em ambas as disfunções pode haver alterações menstruais, que podem até estar associadas a infertilidade.

Os sintomas do mau funcionamento da tiroide têm, na sua maioria, uma instalação lenta e isso faz com que os doentes se vão adaptando. Simultaneamente, o facto de muitos destes sintomas serem muito inespecíficos e comuns a outras doenças ou resultado do dia a dia, como cansaço, sonolência, sensação de inchaço ou dificuldade em perder peso e obstipação, a procura por ajuda médica é adiada, levando a um atraso no diagnóstico com perda substancial da qualidade de vida.

DIAGNÓSTICO E TRATAMENTOS

Por tudo isto, é crucial conhecermos estas doenças, estarmos atentos aos sinais que o nosso corpo nos vai dando e não adiarmos a procura de ajuda médica. A avaliação clínica é um passo essencial no diagnóstico das doenças da tiroide e avaliação dos sintomas permite perceber que tipo de alteração está presente.

A confirmação do diagnóstico das disfunções da tiroide (hipotiroidismo e hipertiroidismo) é fácil, simples e acessível, com a realização de uma análise sanguínea.

O hipotiroidismo tem um tratamento simples e muito eficaz, com a toma única de hormona tiroideia em jejum. As doses dependem de vários fatores e vão sendo ajustadas com regularidade, em função das análises realizadas periodicamente.

O hipertiroidismo tem diversos tratamentos: médico (com comprimidos), com iodo radiativo ou cirúrgico. Estas opções devem ser tomadas juntamente com o doente, após esclarecimento e tendo em conta a idade, as doenças associadas ou, por exemplo, o desejo de gravidez.

Leia o artigo completo na edição de julho-agosto 2022 (nº 329)