Artigo da responsabilidade da Dra. Marisa Marques. Psicóloga Clínica e da Saúde.
A desvalorização do psicólogo, apesar de já ter diminuído muito, ainda é grande. Algumas pessoas não aceitam que a Psicologia é importante para a nossa saúde e bem-estar e, portanto, as críticas desagradáveis são constantes. E, como tal, nós psicólogos ainda somos confundidos com um ombro amigo.
No entanto, o psicólogo não é como um amigo, nem será o seu amigo. Os amigos são fontes de afeto, atenção e acolhimento, mas não têm as competências para suportar e auxiliar nos traumas e nos sintomas sem se envolverem emocionalmente no problema, e podem adoecer com o mesmo.
Enquanto o Psicólogo é um profissional que recebeu formação teórica e prática e com fundamentação científica para intervir no problema e no sintoma, mantendo a neutralidade, a discrição e o acolhimento para que o paciente se sinta seguro. A relação entre um psicólogo e um paciente é feita através de uma complexa teia de interações. Entre o que um sabe e o que o outro quer saber ou está pronto para saber. E, como tal, é preciso entrar no mundo de cada um de nós com calma, clareza e muita sensatez.
Sabia que paciente que nos chega é um momento especial e intenso? Cada paciente é uma pessoa diferentes, com a sua própria história, as suas experiências de vida, a sua forma de ver o mundo e de se ver a si mesmo.
Poderá ser visto como algo pesado e “negro”, mas para mim é uma honra. Enquanto psicóloga, ter acesso a todas estas pessoas, a estas histórias tão únicas que em determinado momento decidiram partilhar e ganharam coragem para pedir ajuda a alguém, de forma a aprender a lidar e a cuidar da sua saúde mental e dos seus queridos.
Por norma, quando alguém recorre à Psicologia Clínica, a principal razão é o sofrimento. Sofrimento esse que resulta de uma má escolha, um acontecimento inesperado, de uma situação não controlada que acaba por ser uma fonte de dor, stress e mal-estar.
E mais do que os 5 anos universitários e a entrada na Ordem dos Psicólogos, ser se psicólogo é saber respeitar, compreender e permitir-nos conhecer profundamente a pessoa, o caminho e a história que traz ao nosso consultório.
Para mim, fazer parte do caminho de todos os que me procuram é uma imensa gratidão ao Universo, além de estar grata por me escolherem a mim para caminhar com eles, é ter a oportunidade de aprender e crescer com cada um deles e com cada história e vivência que me trazem.
Sim, esta é a razão primordial pela qual, diariamente, escolho este caminho profissional, muito desgastante, muito cansativo e exigente, mas fantástico!
Mas sabem, a nossa profissão ainda vai um pouco mais além. Por trás desta imensidão, no final de cada consulta e no final de cada dia, existe um trabalho interno que é o “desligar” e o “desconectar” temporariamente deste ou daquele caso ou daquela situação tão marcante e desafiante. E temos de o fazer, não apenas porque temos uma família e uma vida além da nossa profissão, mas também para acolhermos outros pacientes que requerem a nossa atenção total e o nosso cuidado. E é toda esta dinâmica e conexão que nos tornam estrelas.
Pelo que sinto necessidade, no dia de hoje – DIA NACIONAL DO PSICÓLOGO – ressalvar que não acredito que seja o percurso académico a única razão do sucesso na saúde mental e que nos oferece a orientação teórica suficiente para explicar o ser humano e o seu funcionamento. É também primordial adquirimos um vasto conhecimento sobre Psicologia Clínica e toda a formação complementar necessária para podermos fazer um bom trabalho, além das nossas competências pessoais e inatas.
Todos os dias acordo apaixonada pelo que meu trabalho, procurando sempre ser a minha melhor versão enquanto pessoa e enquanto psicóloga.
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