Os avanços tecnológicos da nova era da Medicina permitem melhorar a qualidade de vida dos doentes cardiovasculares, mas também redefinir a abordagem dos médicos no tratamento e na prevenção.

Artigo da responsabilidade do Dr. João Bicho Augusto Cardiologista no Hospital CUF Tejo

 

Desde pelo menos a segunda metade do século XX que as doenças cardiovasculares continuam a ser a principal causa de morte em Portugal. A doença arterial coronária, que inclui a angina de peito e o enfarte agudo do miocárdio, destaca-se como uma das patologias mais comuns entre as doenças cardiovasculares.

Dada a importância da deteção precoce da doença coronária e de uma abordagem proativa na prevenção cardiovascular, torna-se crucial discutir o papel das tecnologias emergentes neste cenário.

IDENTIFICAR A DOENÇA PRECOCEMENTE

A importância do diagnóstico precoce da doença coronária não pode ser subestimada. Com o envelhecimento da população e o aumento de fatores de risco cardiovascular, como a hipertensão arterial, a obesidade, o colesterol elevado ou a diabetes, a capacidade de identificar precocemente os sinais de doença coronária é fundamental.

Tipicamente, o diagnóstico culminava frequentemente em métodos invasivos. A coronariografia ou angiografia coronária invasiva, conhecida como cateterismo cardíaco, continua a ser o método padrão para o diagnóstico da doença coronária. Este procedimento invasivo permite tanto o diagnóstico quanto o tratamento da doença, mas é cada vez menos utilizado, devido aos avanços dos métodos não invasivos.

TECNOLOGIA EMERGENTE

Atualmente, a medicina cardiovascular vive uma era de transformação impulsionada pelo avanço da imagem cardíaca. A angiotomografia computorizada (angioTAC ou TC) das artérias coronárias exemplifica bem esta mudança. De maneira não invasiva, permite visualizar a presença de placas ateroscleróticas nas artérias coronárias, compostas essencialmente por gordura, fibrose e cálcio, que constituem a característica central da doença arterial coronária. Com o tempo, estas placas podem acumular-se progressivamente na parede da artéria coronária, aumentando de dimensões e estreitando a artéria, podendo levar à redução do fluxo sanguíneo para o músculo cardíaco.

O chamado “score de cálcio” é uma modalidade de TC cardíaca sem contraste e com baixa radiação, que quantifica o cálcio presente nas artérias coronárias. Esta ferramenta tornou-se valiosa, identificando doentes que, apesar de não apresentarem quaisquer sintomas, podem ter elevado risco cardiovascular. Em doentes com “score de cálcio” elevado, recomenda-se a alteração dos estilos de vida e, em alguns casos, o início de medicação precoce pode mesmo reduzir a progressão da doença.

Em outros casos, particularmente quando já existem sintomas como dor no peito, falta de ar, cansaço ou outra sintomatologia sugestiva de doença coronária, poderá estar indicada a realização de angioTC coronária – implicando a injeção de contraste. Desta vez, com contraste, é possível avaliar a presença de placas ateroscleróticas que contenham gordura (além do cálcio) e a presença de estreitamentos na artéria coronária. Nos casos em que exista um estreitamento significativo, poderá estar indicada a realização de um cateterismo cardíaco para o diagnóstico e o eventual tratamento.

Leia o artigo completo na edição de setembro 2024 (nº 352)