Conheça algumas das doenças oculares mais comuns e como a tecnologia contribuiu para o seu diagnóstico e tratamento mais preciso e cada vez menos invasivo.

Artigo da responsabilidade do Dr. Tiago Monteiro. Oftalmologista no Hospital CUF Porto

 

A visão é um dos cinco sentidos mais utilizado no dia a dia e tem um grande impacto no nosso bem-estar. Conservar a saúde dos nossos olhos é, por isso, essencial. A Oftalmologia é o ramo da Medicina encarregue do diagnóstico e tratamento das doenças oculares que afetam a visão.

A propósito do Dia Mundial da Visão, que se assinala a 13 de outubro, importa abordar os avanços tecnológicos que permitiram que, nos últimos anos, fossem desenvolvidos e criados métodos de diagnóstico e tratamento inovadores e que permitem a melhoria significativa dos cuidados de saúde ocular.

Conheça algumas das doenças oculares mais comuns e como a tecnologia contribuiu para o seu diagnóstico e tratamento mais preciso e cada vez menos invasivo. 

ERROS REFRATIVOS E PRESBIOPIA

Os erros refrativos (miopia, hipermetropia, astigmatismo) são defeitos oculares que obrigam ao uso de correção ótica (óculos, lentes de contacto) ou tratamento cirúrgico para se obter a melhor acuidade visual.

Um erro refrativo resulta da incapacidade do globo ocular efetuar a adequada refração da luz. Como a luz não se foca corretamente, as imagens não se formam de forma nítida.

A presbiopia, conhecida como a falta de capacidade de ver ao perto, é um defeito fisiológico que se manifesta, no olho normal, pelos 45 anos, piorando de forma constante até estabilizar por volta dos 60 a 70 anos de idade.

A tecnologia associada ao tratamento de erros refrativos e presbiopia sofreu desenvolvimentos significativos nos últimos 10 a 15 anos. Em relação às idades mais jovens, abaixo dos 50 anos de idade, a eficácia e segurança dos aparelhos de Laser Excimer é nos dias de hoje muito elevada, atingindo taxas de eficácia superiores a 95%.

A cirurgia LASIK para a miopia, hipermetropia ou astigmatismo é, neste momento, capaz de corrigir com alta eficácia erros refrativos leves a moderados.

Por outro lado, o tratamento de erros refrativos mais elevados, tais como a miopia acima de 6.0 dioptrias, tem como principal tratamento o implante de uma lente intraocular dobrável, que permanece no interior do olho em perfeita harmonia com todas as outras estruturas.

A avaliação pré-operatória com instrumentos de grande precisão, tal como a tomografia de coerência ótica (OCT) e a topografia de córnea permite definir se um determinado indivíduo é um candidato favorável a qualquer destes procedimentos. No ano corrente de 2022, foram ultrapassados um milhão e duzentas mil pessoas implantadas com este tipo de lentes em todo o mundo. 

CATARATA

A catarata é uma doença crónica, irreversível, que pode ser definida como a diminuição da acuidade visual provocada pela opacificação do cristalino. Sendo uma doença multifatorial associada à idade, é uma das principais causas de diminuição da visão. O progressivo envelhecimento da população tem sido acompanhado pelo aumento da incidência e prevalência da catarata.

A extração cirúrgica da catarata e implante de lente intraocular é, talvez, o procedimento cirúrgico mais frequentemente realizado na atualidade nos países desenvolvidos. A cirurgia decorre sob anestesia local, em regime de ambulatório e sem necessidade de anestesia geral ou internamento, na grande maioria dos casos.

A inovação tecnológica na área da cirurgia da catarata permitiu, nos últimos anos, uma maior personalização da cirurgia, especialmente em relação às características da lente intraocular que se coloca no olho do doente no final da intervenção cirúrgica.

Após a remoção da catarata, é necessário substituí-la por uma lente intraocular “artificial”, que permanece até ao fim da vida, sem necessidade de ser trocada ou substituída.

As características da lente intraocular são escolhidas mediante a realização de exames antes da cirurgia, que avaliam as características do olho e mediante a vontade dos doentes em corrigir outros aspetos da sua disfunção visual em conjunto com a cirurgia de catarata. As lentes intraoculares podem também incorporar a correção do astigmatismo (presentes em 15 a 20% dos doentes com catarata) e da presbiopia. Assim, após a cirurgia de catarata, o doente pode ver melhorada a sua visão para todas as distâncias, sem a necessidade do uso de óculos ou lentes de contacto.

GLAUCOMA

O termo glaucoma designa um grupo de doenças que afetam o nervo ótico, geralmente associado a um aumento da pressão intraocular, originando uma perda da visão periférica, que não dá sintomas e é irreversível, e que pode progredir para uma perda da visão central e consequente cegueira total. O tratamento, numa fase inicial, evita a perda adicional de visão e garante a manutenção da qualidade de vida dos que sofrem desta doença.

Cerca de 70 milhões de pessoas no mundo sofrem de glaucoma; na Europa, o número estimado é de cerca de 7 milhões. Constituindo a segunda principal causa de cegueira no mundo, é a principal causa de cegueira irreversível. A prevalência aumenta com a idade, de modo que, acima dos 65 anos, a prevalência atinge os 5%. Um familiar de primeiro grau com glaucoma tem também um risco aumentado, cerca de 4 vezes superior em relação à população geral.

O diagnóstico de glaucoma é feito pelo médico oftalmologista a partir do exame oftalmológico, que deve incluir a medição da pressão intraocular, a gonioscopia e a fundoscopia. O recurso a exames complementares de diagnóstico é sempre necessário, não só para confirmar ou excluir o diagnóstico, mas também para monitorizar a progressão da doença.

A evolução tecnológica atual e disponível nas consultas de Oftalmologia permite realizar diagnósticos precisos e bem fundamentados da doença, bem como orientar outros doentes para a necessidade de vigilância sem recurso a tratamento.

O tratamento do glaucoma pode ser realizado através do uso de medicamentos tópicos (colírios) para a redução da pressão intraocular; em determinados doentes ou tipo de glaucoma, também é de extrema utilidade a realização de tratamento cirúrgicos com laser ou através de cirurgias que visam diminuir o valor da pressão intraocular.

TRANSPLANTAÇÃO

A córnea é uma estrutura transparente, localizada na superfície anterior do globo ocular, que possibilita que a imagem seja visualizada adequadamente na retina. Quando ocorre perda da transparência ou da regularidade corneana, é necessário, muitas vezes, efetuar um transplante de córnea.

As doenças que mais frequentemente levam a transplante de córnea são: queratocone (deformação progressiva da córnea com alteração da sua curvatura); distrofias corneanas (doença progressiva corneana que por norma leva a opacidade); infeções corneanas graves (virais, bacterianas); opacidade corneana por traumatismo físico ou químico.

O transplante de córnea é uma cirurgia que consiste na substituição total ou parcial de uma córnea doente por uma córnea saudável proveniente de um dador. Os resultados dos transplantes de córnea são altamente satisfatórios, na maioria das situações. A taxa de sucesso depende da qualidade do tecido dador e da condição ocular do recetor e situa-se entre 90 e 100 por cento.

Leia o artigo completo na edição de outubro 2022 (nº 331)