A principal fonte de vitamina D é o sol. Mas, por vezes, não é suficiente. É importante perceber se estamos em risco de défice e o que podemos fazer.

 

Artigo da responsabilidade da Prof. Dra. Sofia Magina. Dermatologista no Hospital São João

 

 

 

A principal fonte de vitamina D é a síntese na pele após a exposição solar, ou seja, a nossa pele tem a capacidade de produzir vitamina D. No entanto, não se pode afirmar que, quanto mais exposição solar, maiores os níveis de vitamina D, uma vez que a nossa pele tem uma capacidade limitada de produzir esta vitamina.

Por exemplo: ao fim de 10 ou 15 minutos de exposição solar, pensa-se que o nosso organismo já terá atingido a capacidade máxima de produção de vitamina D. Assim, não é por ficarmos muitas horas ao sol que iremos produzir mais vitamina. Não há uma relação linear entre o tempo de exposição e a produção de vitamina D, há um limite, ou seja, a partir de uma determinada altura já não conseguimos produzir mais, porque a nossa pele se autorregula de forma a evitar o excesso.

ALIMENTOS ONDE PODEMOS ENCONTRAR ESTA VITAMINA

Outra fonte de vitamina D é a alimentação, através da ingestão de alimentos como peixes mais gordos (sardinha, cavala, salmão), ovos e cogumelos. Portanto, são alimentos que podem não fazer parte da nossa ingestão diária, o que limita a aquisição desta vitamina através da alimentação. Na prática, esta representa apenas 10 a 20% das nossas necessidades diárias.

Sempre que possível, deve dar-se preferência a peixes selvagens e a ovos de galinhas criadas no campo, pois os alimentos destas origens são melhores fontes de vitamina D.

Por outro lado, existe ainda a ideia de que o leite é muito rico em vitamina D. No entanto, se não for suplementado com esta vitamina, o leite não constitui uma fonte de vitamina D.

NÍVEIS DE VITAMINA D NA POPULAÇÃO PORTUGUESA

Os portugueses, tal como outros povos europeus, têm um elevado défice de vitamina D. Estudos atuais têm revelado que o défice de vitamina D é quase uma pandemia. Provavelmente, isto estará relacionado com o facto de vivermos mais fechados dentro de casa e nos escritórios, e, por outro lado, porque as fontes de vitamina D na alimentação são limitadas. Por isso, se não houver suplementação, quer através de alimentos enriquecidos, quer da própria vitamina D, há um risco de desenvolvimento de défice.

Portugal é um país soalheiro, mas não estamos sempre ao sol. Como já percebemos, a nossa pele tem algumas limitações e a forma como a pele produz vitamina D é influenciada por  alguns fatores:

  • ambientais – latitude, hora do dia;
  • individuais – por exemplo, os idosos são grupo de risco para défice de vitamina D, pois a capacidade de síntese pela pele vai diminuindo com a idade;
  • obesidade; e
  • pele mais escura.

Há, portanto, muitas variáveis que fazem com que não seja evidente que, por vivermos num país com sol, tenhamos todos níveis de vitamina D satisfatórios.

Outros grupos de risco são as crianças e pessoas que, pelas suas profissões ou problemas de saúde, não têm a possibilidade de se expor ao sol.

Finalmente, não nos podemos esquecer dos meses de outono e inverno, durante os quais não se produz vitamina D de forma satisfatória. Portanto, nunca poderemos pensar que o sol chegará para manter os níveis adequados durante todo o ano.

CONSEQUÊNCIAS DO DÉFICE

A vitamina D é determinante para a fixação de cálcio e, por isso, para a saúde óssea, mas é também importante para o sistema imunitário. Na realidade, sabe-se que todas as células têm recetores para a vitamina D e que esta tem funções muito abrangentes no nosso organismo.

Há muitos mecanismos de regulação em que a vitamina D intervém, que não são ainda conhecidos na totalidade.

Perante uma situação de défice grave de vitamina D, o impacto mais direto é ao nível do osso, aumentando o risco de fratura, especialmente em grupos de risco. No entanto, acredita-se que a vitamina tenha efeitos a nível celular muito mais abrangentes.

A vitamina D tem um papel importante também na regulação do sistema imunológico e isso acaba por envolvê-la em doenças de caráter diferente, desde situações agudas, como infeções, doenças autoimunes ou doenças cardiovasculares.

Atualmente, têm sido realizados diversos estudos, que, muitas vezes, têm resultados contraditórios, o que não nos permite afirmar com segurança as consequências dos baixos níveis desta vitamina.

EM QUE SITUAÇÕES SE RECOMENDA A SUPLEMENTAÇÃO?

Os grupos identificados com um maior risco de défice de vitamina D incluem grávidas, obesos, idosos e crianças.  E, portanto, estes devem ser suplementados de acordo com as suas necessidades individuais. Para além destes grupos, as pessoas que têm doenças de pele, como lúpus (em que o sol é um fator de agravamento da sua doença, levando-as a fecharem-se em casa), também devem ser aconselhadas a tomar vitamina D.

Importante ressalvar que, para uma suplementação adequada, é necessário o acompanhamento médico.

SOL: BENEFÍCIOS E PREJUÍZOS

Como já referido, a principal fonte de vitamina D é o Sol. Assim, se por um lado a exposição solar é fundamental para a síntese de vitamina D num adulto jovem e saudável, por outro, não podemos deixar de salientar que esta fonte apenas é válida para os meses de primavera e verão. Durante este período, cerca de 15 minutos de exposição solar são suficientes para atingir o máximo de capacidade de produção da pele. Não se recomenda, por isso, a exposição solar prolongada e sem proteção, com o objetivo de se obter uma reserva de vitamina D, pois isso não vai acontecer.

A exposição solar não pode ser vista como a solução para o problema do défice de vitamina D. E é preciso não esquecer que a exposição solar excessiva tem riscos elevados, como o cancro de pele ou o envelhecimento precoce. Estes riscos são cumulativos e revelam-se a longo prazo, não no imediato.

A solução passa por fazer uma vida saudável ao ar livre, sem exposição solar exagerada e com as devidas precauções, e pela avaliação da necessidade de suplementação em grupos de risco ou indivíduos com pouca exposição solar.