Quando se fala de sexo, raramente o associamos aos idosos, e este é um tema relativamente ao qual ainda existem muitos preconceitos e tabus. Mas a realidade é que a sexualidade na terceira idade existe e é tão importante nesta fase da vida como na juventude.

 

Artigo da responsabilidade da Dra. Ana Peixinho, Coordenadora da Unidade de Psiquiatria e Psicologia do Hospital Lusíadas Lisboa

 

Nos dias de hoje, já se fala mais abertamente sobre sexualidade – tanto que este é um tema já debatido com muita frequência. A progressiva exposição do tema tem despertado cada vez mais o interesse das pessoas e tem vindo a desmistificar muitos tabus e preconceitos que ainda afetam a nossa sociedade.

A sexualidade acompanha os indivíduos ao longo da sua vida e é um processo global que não deve ser apenas entendido com o ato sexual por si só, mas também como o desejo, a procura de afeto, os sentimentos, o carinho e o prazer entre duas pessoas, independentemente da sua idade.

TERÁ A SEXUALIDADE UM PRAZO?

Obviamente que não. No entanto, quando se fala sobre sexo, raramente o associamos aos idosos e aqui, sim, existem muitos preconceitos e o tema ainda é tabu. Mas a realidade é que a sexualidade na terceira idade existe e é tão importante nesta fase da vida como na juventude. Os idosos não são seres assexuados e continuam a relacionar-se física e emocionalmente, procurando igualmente o prazer e a satisfação.

A questão que torna este assunto tabu é a falta de informação, tanto em relação ao processo de envelhecimento como à sexualidade, que leva as pessoas a criar estereótipos e a não falar abertamente do tema. Por outro lado, o problema também passa, muitas vezes, pela vergonha em admitir que com a idade começam a existir limitações inevitáveis neste campo. Os próprios idosos sentem constrangimentos em falar abertamente do assunto com os profissionais de saúde.

ENTENDER O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO

Como é sabido, a população portuguesa caracteriza-se pelo seu elevado grau de envelhecimento, sendo este um processo natural da vida, progressivo e irreversível, influenciado por diversos fatores sociais e individuais. Esta é uma fase singular e vivida de forma diferente por cada pessoa. E é na terceira idade que começam, novamente, as mudanças físicas e psicológicas que alteram e condicionam a maneira de ser e de estar dos indivíduos.

Por isso, é importante compreendermos este processo e percebermos que a velhice pode ser entendida a diversos níveis: a nível biológico, que diz respeito ao envelhecimento dos órgãos, onde estes diminuem a sua capacidade de funcionamento e eficácia; a nível psicológico, que se caracteriza por um conjunto de comportamentos adotados pelos indivíduos e que lhes permitem integrar a sociedade. As pessoas conseguem adaptar-se ao meio através das suas características psicológicas, como a aprendizagem, a memória e a inteligência. E a idade social que diz respeito ao papel que o indivíduo tem no relacionamento com os seus pares. Esta idade é muito influenciada pelo seu contexto social.

COMO É A SEXUALIDADE NA TERCEIRA IDADE?

Sim, na terceira idade também há vida sexual. A sexualidade é transversal a qualquer fase da nossa vida e acompanha-nos do início ao fim. Nesta fase, a atividade sexual é igualmente importante e tem uma influência bastante significativa na saúde física e mental dos indivíduos. Como referi anteriormente, a sexualidade não se resume ao sexo e nesta fase passa muito pelo carinho, pelo afeto e pelas emoções. Não é apenas uma relação física e passa muito mais pelo envolvimento emocional, pela construção e manutenção de uma relação estável e pelo companheirismo.

A velhice não deve ser encarada como uma fase da vida onde não existem experiências a este nível – os idosos continuam a ter relações íntimas, desejo e necessidades sexuais. Como em qualquer fase da vida, terão de se adaptar às mudanças inevitáveis da idade, mas podem continuar a desfrutar de todas as experiências que lhes tragam prazer e satisfação. Existem obstáculos e dificuldades fisiológicas, que são normais na idade, mas que podem ser ultrapassadas com a ajuda de um médico, se a pessoa conseguir expor abertamente estas questões.

 Leia o artigo completo na edição de setembro 2019 (nº 297)