No âmbito do Dia Mundial da Consciencialização do Autismo, que se assinala a 2 de abril, o laboratório português BebéVida alerta que o sangue do cordão umbilical representa uma esperança no tratamento de crianças com perturbações do espetro do autismo (PEA), de acordo com vários estudos recentes.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, estima-se que, em todo o mundo, uma em cada 160 crianças apresente PEA . Já em Portugal existe apenas um estudo que aponta para uma prevalência estimada de cerca de uma em cada 1 000 crianças em idade escolar.
Nos últimos anos, vários ensaios clínicos têm demonstrado que a utilização do sangue e dos tecidos do cordão umbilical é não só um procedimento seguro como apresenta benefícios terapêuticos em crianças diagnosticadas com autismo, já que promove a redução de sintomas clínicos de PEA, melhorias comportamentais, incluindo capacidades sociais e de comunicação, e melhorias fisiológicas, ao aumentar a conetividade neuronal.
É o caso do ensaio clínico realizado pela equipa de Joanne Kurtzberg, especialista de renome internacional em hemato-oncologia pediátrica e pioneira no uso do sangue do cordão umbilical em transplantação hematopoiética como alternativa aos transplantes de medula óssea. Em 2018, este ensaio clínico revelou que a infusão intravenosa de sangue autólogo (do próprio doente) do cordão umbilical em crianças com PEA era segura, viável e bem tolerada uma vez que, ao longo dos 12 meses, não se registaram quaisquer efeitos adversos. Foi também possível observar uma diminuição da gravidade geral dos sintomas de autismo, uma melhoria em medidas padronizadas de vocabulário e em medidas de atenção sustentada. Os pais das crianças envolvidas no estudo relataram ainda melhorias significativas no comportamento e em habilidades de comunicação social.
Simultaneamente, outros ensaios clínicos, que avaliaram o efeito terapêutico específico das células mesenquimais no autismo, sugerem melhorias dos sintomas em crianças com PEA. Destaca-se que a infusão repetida de células mesenquimais do tecido do cordão umbilical (alogénico) reduz a desregulação inflamatória presente nestes pacientes através da diminuição dos níveis de citocinas inflamatórias . É de sublinhar que esta terapêutica é segura e viável em crianças com autismo, devendo sempre a infusão ser realizada por médicos competentes e qualificados .
As células mesenquimais, provenientes do tecido do cordão umbilical, são consideradas um produto de terapia avançada com utilidade terapêutica. De acordo com Andreia Gomes, responsável pela unidade de Investigação e Desenvolvimento (I&D) do laboratório português de tecidos e células estaminais BebéVida, “estas células estão cada vez mais presentes e próximas de serem consideradas uma ferramenta poderosa na medicina regenerativa e reconstrutiva devido à sua capacidade de auto-renovação e diferenciação. Apresentam também uma baixa imunogenicidade, propriedades imuno-modulatórias, capacidade de ‘homing’ (capacidade de migração para os locais de inflamação após infusão), produção e libertação de várias moléculas bioativas que auxiliam na reparação e/ou regeneração de, por exemplo, tecidos cardíacos e tecidos cerebrais”.
Embora sejam necessários mais estudos para que os tratamentos com recurso ao sangue do cordão umbilical em crianças com autismo sejam implementados na prática clínica, Andreia Gomes explica que “é já certo que o sangue do cordão umbilical é uma fonte disponível para transplante de células hematopoiéticas, apresentando várias características benéficas como baixa imunogenicidade, não exigindo uma correspondência rigorosa do antigénio leucocitário humano como acontece com outras fontes de células hematopoéticas. Uma vez criopreservado, os tecidos e células estaminais ficam prontamente e facilmente disponíveis, o que representa grandes vantagens face a outras fontes de células mesenquimais, como por exemplo a medula óssea, em que é necessário encontrar um dador compatível e disponível para se submeter a um processo invasivo”.
De acordo com a Associação Americana de Psiquiatria, as PEA são consideradas uma síndrome neuro-comportamental com origem em alterações do sistema nervoso central que afeta o desenvolvimento normal da criança . A designação de espetro foi atribuída pela variabilidade dos sintomas, desde as manifestações mais leves até às formas mais graves, podendo ser distribuídos em três grandes domínios de perturbação: social, comportamental e comunicacional. Habitualmente, os sintomas ocorrem nos primeiros três anos de vida, no entanto, podem não se manifestar inteiramente até as interações sociais excederem o limite das capacidades da criança.