Quase 70% das pessoas com doenças crónicas em Portugal pedem mais profissionais de saúde no acompanhamento destas patologias, enquanto 53,5% pedem mais consultas de rotina dedicadas a este tipo de doenças. Estas são as principais conclusões de um estudo realizado junto de 2 mil portugueses com doenças crónicas e apresentado hoje, 30 de novembro, na cerimónia de entrega do Angelini University Award.
O inquérito realizado pela Spirituc Investigação Aplicada para a Angelini Pharma, com o envolvimento da Ordem dos Médicos e da Ordem dos Farmacêuticos, foi implementado entre setembro e novembro de 2022 e pretendeu avaliar o impacto da pandemia da covid-19 nas pessoas com doenças crónicas.
Durante o período pandémico os doentes crónicos mostraram-se preocupados com a sua saúde, nomeadamente no contexto da sua doença crónica, com mais de metade dos inquiridos a responder com 8, 9 ou 10 numa escala em que 10 significava “Muito preocupado”. Foram os inquiridos mais novos os que se mostraram mais preocupados.
Pouco mais de 1/3 dos doentes crónicos inquiridos tiveram dificuldades de acesso a cuidados de saúde relacionados com a sua doença crónica durante a pandemia, sendo a realização de consultas de rotina no Centro de Saúde e no Hospital os aspetos que levantaram mais problemas, para metade dos inquiridos. No caso de quem teve dificuldades no acesso às consultas, as principais consequências foram o adiamento ou mesmo o cancelamento das mesmas pelos serviços de saúde. E ainda que apenas uma pequena parte dos inquiridos tivesse uma cirurgia que foi adiada ou cancelada devido à pandemia, este adiamento/ cancelamento teve um impacto relevante na qualidade de vida destes doentes crónicos.
Quem teve dificuldades no acesso a cuidados de saúde relacionados com a sua doença crónica durante a pandemia tentou contorná-las de diversas formas, tendo sido as mais frequentes o recurso à telemedicina, ao médico de família, à farmácia e a médico no sistema privado. A experiência com a telemedicina parece ter sido um recurso com bons resultados, já que a mesma é avaliada em termos médios com 6,87, numa escala em que 1 significava “Experiência muito negativa” e 10 “Experiência muito positiva.”
Os cuidados de saúde primários continuaram a ser, durante o período pandémico, a entidade de excelência no acompanhamento e gestão da doença crónica dos doentes inquiridos. O top 3 fica completo com os hospitais públicos e as farmácias. No caso dos mais novos, as farmácias ganham relevância face aos cuidados de saúde primários.
Os cuidados de saúde primários não só foram considerados como os mais relevantes para o acompanhamento e gestão da doença crónica, como são também o local de eleição caso os doentes tenham um problema de saúde relacionado com a sua doença crónica. Mais de metade dos inquiridos considera que as doenças oncológicas são as que representam um maior peso/encargo para o SNS, seguidas de doenças infectocontagiosas e cardiovasculares.
É importante ainda realçar que o período pandémico teve um impacto relevante na qualidade de vida dos doentes crónicos, o que é claro, não só pelo valor médio da escala, mas também pelo facto de mais de 1/3 dos inquiridos ter avaliado este impacto com um nível de 8, 9 ou 10, numa escala em que 10 significava “Impacto muito grande”. É interessante notar que tendencialmente o impacto diminui à medida que o escalão de rendimento aumenta.
Para a realização deste estudo foram feitos 2000 questionários a portadores de doença crónica entre a população portuguesa, com idade superior a 18 anos. A maior parte dos inquiridos tinham doença cardiovascular (27,7%), doença autoimune (26,3%) ou doença respiratória (23,7%).