Quando a maternidade é um desafio, a resiliência e a ciência podem abrir caminho.
Artigo da responsabilidade da Dra. Catarina Godinho. Ginecologista. Vice-diretora do IVI Lisboa
O sonho da maternidade pode ser um caminho longo e desafiador para muitas mulheres e casais. A espera pela conceção, quando prolongada, pode gerar sentimentos mistos de esperança e frustração, o que exige força emocional e resiliência.
No entanto, é importante lembrar que, embora o percurso possa ser árduo, a ciência tem evoluído de forma notável. Com o apoio médico adequado, mudanças no estilo de vida e um acompanhamento emocional adequado, é possível superar os obstáculos e alcançar o tão desejado sonho de ser mãe.
PROBLEMA COMUM
A infertilidade é um problema mais comum do que se pensa, embora nem sempre se fale dele abertamente. Cerca de 300 mil casais em Portugal são inférteis e há uma tendência de crescimento destes números em ambos os sexos.
O stress, o sedentarismo, o consumo de álcool e tabaco, o excesso de peso ou obesidade, e uma alimentação pouco variada e equilibrada são alguns dos fatores que podem ajudar a explicar esta tendência.
É fundamental acabar com este tabu, pois só assim poderemos promover a compreensão, o apoio emocional e um acesso mais célere às soluções médicas disponíveis.
IDADE DA MULHER É FATOR DETERMINANTE
Nem sempre a Medicina encontra uma explicação para a infertilidade. De acordo com estudos, a infertilidade estará relacionada com causas femininas em 30% dos casos, outros 30% com causas masculinas, 20% com causas mistas e outros 20% inexplicados.
Alguns conselhos de alteração de estilos de vida, associados à Ciência, têm permitido intervir com sucesso, mesmo nos casos em que há patologia.
Por outro lado, convém lembrar que a idade da mulher é um fator determinante. Por razões económicas ou profissionais, as mulheres tentam ser mães cada vez mais tarde, o que traz consequências para quem anseia por uma gravidez. A quantidade e a qualidade dos ovócitos diminuem muito a partir dos 35 anos. Por isso, é aconselhável procurar apoio médico especializado de forma atempada quando não é alcançada a tão desejada gravidez, para aumentar as hipóteses de sucesso.
RECURSO À CONSULTA ESPECIALIZADA
Mas, afinal, quando é que estamos perante um caso de infertilidade? Quando não há uma gravidez após 12 meses de tentativas sem recurso a qualquer meio anticoncecional. Como a fertilidade feminina diminui com a idade, recomenda-se uma consulta especializada após um ano de tentativas para as mulheres com menos de 35 anos e após seis meses para aquelas com idade superior.
Em Portugal, as mulheres podem aceder aos tratamentos de Procriação Medicamente Assistida (PMA) até aos 50 anos. Não é permitido fazê-lo após os 49 anos e 365 dias (366 dias, no caso dos anos bissextos), seja no SNS ou em clínicas privadas. O limite fixado teve em conta o facto de, a partir dos 35 anos, a probabilidade de se engravidar de forma natural diminuir, caindo a pique a partir dos 40 anos, passando para 1% ou menos quando a mulher atinge os 48 anos.
GESTÃO EMOCIONAL
Em todo o caso, convém sublinhar que a gestão emocional, a par de hábitos de vida saudáveis, desempenha um papel fundamental neste percurso, pois a saúde reprodutiva está intimamente ligada à vida social e à realização pessoal.
A frustração diante de tentativas sem sucesso pode gerar tristeza e apreensão, tornando essencial alinhar expetativas com o médico e compreender os custos e benefícios das opções disponíveis.
Além disso, manter interesses e atividades diárias, dedicando-se a momentos de prazer e realização pessoal, ajuda a reduzir a ansiedade e a preservar o equilíbrio emocional, promovendo a resiliência necessária ao longo do processo.
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