A próstata é o principal alvo das doenças que afetam os homens. Este órgão, estrategicamente posicionado abaixo da bexiga e pelo qual passa a uretra, permanece muitas vezes despercebido até os 45 ou 50 anos, quando surgem problemas significativos, como a hiperplasia benigna da próstata e o cancro da próstata.

Artigo da responsabilidade do Dr. David Subirá. Coordenador de Urologia no Hospital CUF Tejo

HIPERPLASIA BENIGNA DA PRÓSTATA

Muitos desconhecem que a principal função da próstata está ligada à fertilidade. O crescimento gradual do seu tamanho, conhecido como hiperplasia, é um fenómeno que ocorre em todos os homens ao longo da vida, impulsionado por estímulos hormonais, estando associado ao envelhecimento natural.

Embora todos os homens experimentem um aumento no tamanho da próstata, nem todos necessitam de tratamento, uma vez que existem diferentes graus que podem resultar em sintomas variados, desde a obstrução da bexiga até ao aumento da frequência ou de urgência urinária, especialmente à noite.

AVALIAÇÃO PELO UROLOGISTA

Os urologistas avaliam a hiperplasia benigna da próstata através de ultrassonografia vesical e prostática, permitindo determinar o tamanho e a forma da próstata – e avaliar o impacto da obstrução na bexiga. A fluxometria é também um exame simples e eficaz, que mede o grau de obstrução. Além disso, a avaliação dos sintomas do doente e o seu impacto na qualidade de vida, juntamente com outros exames, ajudam a determinar a necessidade de tratamento.

Para uma mesma situação urinária, dois homens podem precisar de soluções diferentes. Por exemplo, um aumento na frequência urinária, como a de ter de se levantar uma ou duas vezes à noite e urinar a cada duas horas, pode ser encarado de maneira distinta por um homem de 50 anos com vida profissional ativa e por um homem aposentado de 75 anos: o primeiro pode querer ver o seu problema tratado, enquanto o segundo pode não o considerar necessário.

QUAL É O TRATAMENTO?

O tratamento da hiperplasia benigna da próstata é dividido em duas etapas. A primeira consiste em adotar medidas higiénico-dietéticas, como evitar álcool, dietas ricas em proteínas e praticar exercícios físicos regulares. A segunda inclui o tratamento farmacológico, que facilita o esvaziamento da bexiga e, geralmente, é bem tolerado, embora possa ter efeitos colaterais na esfera sexual, como a chamada ejaculação retrógrada.

Quando o tratamento farmacológico não é eficaz ou há progressão dos sintomas, recomenda-se uma correção cirúrgica, que é o procedimento mais eficaz, já que reduz o tamanho da próstata e realiza uma desobstrução eficaz da bexiga. Existem diferentes técnicas cirúrgicas que permitem personalizar o tratamento de acordo com o tamanho da próstata e as expectativas de qualidade de vida de cada doente.

De forma simplificada, a cirurgia para hiperplasia consiste na remoção do tecido hiperplásico da próstata que comprime a uretra e dificulta o esvaziamento vesical. É importante destacar que esses procedimentos cirúrgicos não afetam a continência urinária nem a função erétil, uma vez que os mecanismos responsáveis por essas funções não são comprometidos durante a cirurgia.

DIFERENTES TÉCNICAS CIRÚRGICAS

Basicamente, existem duas abordagens para o tratamento cirúrgico: a via endoscópica pela uretra e a chamada via retropúbica abdominal, especialmente indicada para próstatas de grande tamanho.

A evolução das técnicas cirúrgicas baseia-se em diferentes fontes de energia para reduzir o tecido prostático, como a energia bipolar para a ressecção transuretral (RTU próstata) ou o laser de Holmium (Enucleação Prostática HoLEP), que permite tratar próstatas maiores por via endoscópica.

Outra técnica recente é a Aquablation, um procedimento robótico realizado por via endoscópica, que remove o tecido prostático com jatos de água em alta pressão, preservando a ejaculação na maioria dos casos.

A cirurgia indicada para grandes próstatas é a adenomectomia (técnica de Millin). Quando realizada por cirurgia robótica, proporciona bons resultados com a mínima “invasão” e a rápida recuperação pós-operatória, além de possibilitar a realização de um exame histológico da próstata extraída.

CANCRO DA PRÓSTATA

Nos países desenvolvidos, o cancro da próstata já é o mais comum, atingindo um em cada cinco ou seis homens. Estima-se que sejam cerca de 6000 o número de novos casos anuais, em Portugal. Só na CUF, entre 2022 e 2023, foram diagnosticados 1652 casos.

Embora alguns fatores de risco tenham sido associados ao cancro da próstata, como a origem africana e o histórico familiar, as causas exatas ainda não são conhecidas. Por isso, o diagnóstico precoce é fundamental para garantir as melhores opções de tratamento.

Nos estadios iniciais, o cancro da próstata não apresenta geralmente sintomas específicos e pode coexistir com sintomas de hiperplasia prostática. É necessário realizar um rastreio em todos os homens a partir dos 50 anos, ou a partir dos 40 a 45 anos se existir histórico familiar.

COMO É FEITO O DIAGNÓSTICO?

O diagnóstico do cancro é confirmado por meio de uma biópsia. Para determinar quais os doentes que devem realizar a biópsia, utilizamos diversas ferramentas de rastreio: análise de sangue para identificar o PSA, exames de imagem como ressonância magnética multiparamétrica e ultrassonografia com micro-ultrassons – e, em menor medida, o exame físico por toque retal. Quando qualquer uma dessas ferramentas indicar, procede-se à biópsia da próstata.

A biópsia não apenas confirma a presença de cancro, mas também identifica o tipo e o grau de agressividade, na escala de Gleason, informações que são essenciais para estabelecer uma decisão de tratamento individualizada, juntamente com a avaliação do desenvolvimento do tumor noutras áreas.

CENÁRIOS POSSÍVEIS

É importante diferenciar três cenários básicos: cancro localizado na próstata, localmente avançado e metastático.

O cancro localizado apresenta melhor prognóstico e existem diferentes tratamentos para cada situação. Apesar do impacto emocional que a palavra “cancro” pode causar, é importante ressaltar que a alta incidência do cancro da próstata possibilitou o desenvolvimento de múltiplas opções de tratamento e uma constante pesquisa médica, permitindo tratar a doença de forma eficaz e reduzir efeitos colaterais, como incontinência e disfunção sexual, que têm um impacto significativo na qualidade de vida do homem.

As Diretrizes Europeias de Urologia (EAU) estabelecem várias opções de intervenção com base no perfil do doente, nas suas expectativas de qualidade de vida e no tipo de cancro – baixo, intermediário ou de alto risco – e o seu estadio, ou seja, se é localizado, localmente avançado ou metastático.

A maioria dos cancros da próstata diagnosticados são localizados, graças aos programas de rastreamento sistemático. E as opções para o localizado variam desde a vigilância ativa até ao tratamento ativo.

A vigilância ativa é uma opção restrita aos tumores de baixo risco, com condições rigorosas de acompanhamento para identificar os casos que podem progredir e devem ser tratados.

O tratamento ativo é baseado no uso de radioterapia nas suas diversas modalidades: externa ou intraprostática (braquiterapia); ou cirurgia, que envolve a remoção da próstata.

INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS

A cirurgia, como um dos principais tratamentos para o cancro da próstata, foi a que mais beneficiou das inovações tecnológicas nos últimos anos. O uso de robot cirúrgico permite realizar intervenções com alta precisão e a mínima agressão, individualizando o tipo de cirurgia conforme as características do tumor e do paciente. Isso revolucionou favoravelmente os resultados funcionais, como a continência e a função sexual, que tanto impacto têm na qualidade de vida do homem, enquanto se trata a doença.

Na tentativa de minimizar ao máximo o risco de efeitos colaterais do tratamento radical do cancro da próstata, têm sido desenvolvidos, há alguns anos, procedimentos de tratamento dirigidos aos focos tumorais identificados por exames de imagem e confirmados por biópsia de fusão da próstata. O que, em doentes selecionados, permite oferecer um tratamento individualizado do foco tumoral, a terapia focal, com um internamento hospitalar de 24 horas e a preservação, na maioria dos casos, da continência e da potência sexual.

Leia o artigo completo na edição de novembro 2024 (nº 354)