Em Portugal, o tempo entre o surgimento dos primeiros sintomas de perda auditiva e a decisão de procurar ajuda especializada é, em média, superior a sete anos.
Contrariamente ao que a maioria pensa, a perda auditiva não é uma consequência do avançar da idade: na realidade, pode acontecer em qualquer altura da vida. A maior parte das pessoas vai perdendo a audição de forma gradual, o que explica a elevada incidência do problema nos mais seniores. Quando começam a “ouvir mal”, a evidência não é imediata, o que facilita o arrastamento até estados mais graves.
A população afetada por perdas auditivas já começa a abranger uma faixa etária mais jovem, especialmente devido à exposição excessiva de ruído. No entanto, a maioria dos jovens é incapaz de relacionar o efeito indesejado do som alto à perda auditiva.
Causas diversas
A exposição prolongada a ruído elevado e/ou constante, medicação tóxica, infeções e ferimentos do tímpano, bem como predisposição genética, são algumas das causas da perda auditiva. No entanto, o ruído é bastante importante, pois pode ser evitado, sendo necessária grande atenção ao nível e tempo de exposição ao ruído. Por exemplo, se tivermos de levantar a voz para sermos ouvidos por alguém que está a uma distância de três metros, o ruído à volta pode ser prejudicial.
SINAIS DA PERDA AUDITIVA
As pessoas com perda auditiva sofrem, essencialmente, de uma redução significativa no volume do som. Colocar a televisão ou a rádio muito altos, pedir constantemente para as pessoas repetirem o que foi dito, aproximar um ouvido da pessoa que está a falar ou demonstrar dificuldade em compreender conversas ao telefone, recusando-se muitas vezes até a atender, podem ser sinais deste tipo de perda auditiva.
Em casos mais graves, a pessoa não compreende conversas, apresenta uma enorme dificuldade de audição na presença de ruído, coloca todos os aparelhos num volume altíssimo e fica confuso com a falta de perceção da direção do som.
Consequências sociais
Para além das consequências físicas, a pessoa com perda auditiva cria um isolamento social muito grande e um distanciamento do seu círculo social e, consequentemente, começa a tornar-se inativo e dependente.
Por exemplo, se uma pessoa com problemas auditivos não consegue compreender as conversas e interagir com as outras pessoas, quer ao vivo quer por telefone ou videochamada, é bastante provável que comece a recusar os contactos sociais.
E, por vezes, as pessoas mais próximas não compreendem que existe um problema auditivo, o que, por sua vez, leva a situações de conflito. Estas situações geram constrangimento e problemas de sociabilidade.
ESTIGMA DA NEGAÇÃO
A perda gradual de audição vem acompanhada, muitas vezes, por um estigma de negação bastante enraizado. Pessoas com perda auditiva acreditam, e defendem, que são as outras pessoas que falam demasiado baixo. Encaram o problema como sendo de terceiros e não seu. E, na maioria dos casos, não conseguem ultrapassar esse sentimento sozinhos: tem de existir, geralmente, uma influência social por partes dos seus pares ou uma situação induzida que faça surgir a necessidade de procurar aconselhamento especializado.
Avaliação e diagnóstico
O diagnóstico de perda de audição deve ser sempre iniciado com a avaliação esclarecedora de um profissional de saúde, que permita determinar a capacidade auditiva de cada ouvido. É essencial a visita a um centro especializado em audição ou a um otorrinolaringologista, como primeiro passo na avaliação e tratamento.
E, como a perda é, muitas vezes, identificada por amigos ou família, recomenda-se que o paciente vá fazer os exames acompanhado por uma pessoa mais próxima, que pode contribuir com informações valiosas sobre os seus sintomas e efeitos, bem como prestar apoio no início do processo de tratamento.
Leia o artigo completo na edição de março 2021 (nº 314)