No âmbito do Outubro Rosa, mês dedicado à prevenção do cancro da mama, reforçamos a importância vital do rastreio nacional, sendo importante louvar e chamar a atenção para as medidas que visam tornar o acesso a este programa nacional ainda mais equitativo e eficaz.

Artigo da responsabilidade da Dra. Ana Paula Vasconcelos. Especialista em Radiologia e Imagiologia Mamária, da ULS de Lisboa Ocidental; e

Dr. José Carlos Marques. Especialista em Radiologia e Imagiologia Mamária, do IPO de Lisboa, membros da Sociedade Portuguesa de Senologia.

 

Nos últimos anos, com base na evidência e discussão científicas decorridas nos seus eventos, a Sociedade Portuguesa de Senologia (SPS) tem defendido o alargamento etário do rastreio ao cancro da mama. De forma reiterada indicou e propôs o seu alargamento, passando a incluir os grupos dos 45 aos 49 e também dos 70 aos 74, fundamentada em estudos internacionais como o UK Age trial e o Pan Canadian American, e em consonância com outras das sociedades científicas europeias e americanas. Também as European Guidelines on Breast Cancer Screening and Diagnosis reviu e alargou os grupos etários, em 2021.

É com grande satisfação que vemos concretizada a norma da Direção-Geral da Saúde (DGS) que veio corresponder à nossa posição de alargamento, desde janeiro de 2025. Com esta medida, a faixa etária elegível para o rastreio foi alargada dos 45 aos 74 anos, um passo crucial para garantir um acesso mais abrangente e contribuir para a redução da mortalidade e a melhoria do diagnóstico precoce.

Esta norma prevê igualmente outras alterações, como a introdução e implementação progressiva da tomossíntese como método primário de rastreio, melhorando a acuidade diagnóstica. Em 2022, na publicação do X Consenso Nacional de Cancro da Mama, produzido pelos grupos de peritos da SPS, já as recomendações de rastreio e diagnóstico precoce estabelecem que a mamografia demonstrou ser um método de rastreio eficaz, efetivo e eficiente na redução da mortalidade por cancro da mama.

Um avanço significativo é a introdução progressiva da tomossíntese como método primário de rastreio. Estudos demonstraram um aumento da taxa de deteção de cancro da mama com a aplicação da tomossíntese, contribuindo para a redução de falsos positivos e de biópsias negativas.

Fora do âmbito do rastreio organizado de base populacional e nas mulheres com mais de 40 anos, idade a partir da qual se verifica um aumento da incidência do cancro da mama, os especialistas recomendam a realização de mamografia, preferencialmente tomossíntese associada a imagem sintetizada, complementada por ecografia, dado que esta associação permite um aumento da taxa de deteção de cancro da mama.

No entender da SPS, é também importante que as mulheres sejam informadas sobre o seu padrão de densidade mamária, pois esta afeta a deteção do cancro. O rastreio do cancro da mama tem como objetivo detetar lesões malignas antes do aparecimento de sintomas, permitindo um diagnóstico e tratamento precoces, com impacto direto na redução da mortalidade, aumento da esperança e melhoria da qualidade de vida, e redução do recurso a tratamentos agressivos e invasivos.

O Serviço Nacional de Saúde estabelece que o rastreio se destina a mulheres sem sinais nem sintomas de doença mamária, com idade entre os 45 e os 74 anos, e inscritas numa unidade de saúde de cuidados de saúde primários. Mesmo sem alterações visíveis ou palpáveis na mama, é crucial realizar a mamografia de 2 em 2 anos a partir dos 45 anos.

O sucesso deste programa é, por isso, um esforço coletivo, com a participação da sociedade civil, no seu conjunto, aliada à comunidade de profissionais de saúde. É muito importante que os colegas, nomeadamente da Medicina Geral e Familiar e outros especialistas envolvidos na saúde da mulher, incentivem as mulheres a participar no rastreio, explicando em que consiste e as suas vantagens. Ao fazê-lo, estarão a contribuir diretamente para a deteção precoce de lesões, permitindo tratamentos mais eficazes e menos invasivos, e, em última instância, a salvar vidas e a melhorar significativamente a qualidade de vida das mulheres em Portugal.

O cancro da mama continua a ser o tipo de cancro mais comum entre as mulheres e a principal causa de morte por cancro neste grupo. Pelos dados divulgados pelo Global Cancer Observatory, em 2022, em Portugal registámos cerca de 9 mil novos casos e mais de 2 mil óbitos, números que sublinham a urgência de uma participação massiva das mulheres abrangidas por esta poderosa arma de deteção de novos casos de cancro de mama, permitindo assim um tratamento adequado aumentando, largamente, os prognósticos favoráveis.

A SPS mantém-se atenta às necessidades das mulheres com cancro de mama, dedicando este ano a primeira sessão das suas Jornadas Nacionais SPS25 à temática do sobrediagóstico e subdiagnóstico, no dia 9 de outubro, abordando aqui as novas técnicas de imagem e o rastreio individualizado.