Quando envelhecemos, o coração tenta muitas vezes enviar-nos mensagens cruciais que, por vezes, passam despercebidas. A propósito da Semana Europeia da Sensibilização para a Doença da Válvula Cardíaca, que se assinala entre os dias 12 e 18 de setembro, a organização Global Heart Hub incentiva todos os portugueses a ouvirem o seu coração. Com o apoio da Associação Portuguesa de Intervenção Cardiovascular (APIC), o objetivo passa por aumentar a conscientização da população para a doença valvular cardíaca e os seus sintomas, promovendo a melhoria do diagnóstico, do tratamento e da gestão desta na Europa.

Para alertar a população portuguesa para este problema e a importância da avaliação médica regular a partir dos 50 anos, a campanha #OuçaOSeuCoração une-se assim à iniciativa Valve For Life e à campanha “Corações de Amanhã”, da APIC. Conta ainda com o apoio das plataformas SiosLife, presente em 361 instituições seniores, e Tonic App, uma aplicação móvel exclusiva para médicos, para o lançamento de materiais informativos sobre o tema.

“Alertar para a importância do diagnóstico precoce é a primeira ação a realizar quando falamos de estratégias a adotar para evitar desfechos mais graves em relação à doença valvular cardíaca”, alerta Rui Campante Teles, coordenador da iniciativa Valve For Life. “Esta é uma doença frequente e que pode ser grave, mas é tratável. Fazer regularmente uma simples auscultação com estetoscópio e manter-se atento a sintomas como falta de ar, fadiga e tonturas são os primeiros passos para que esta seja detetada de forma atempada”, acrescenta.

A doença valvular cardíaca tem sido descrita como a próxima epidemia cardíaca1, estando a aumentar rapidamente devido ao envelhecimento da população. Atualmente, afeta uma em cada oito pessoas com mais de 75 anos2, mas estima-se que este número duplique até 2040 e triplique até 20603.

“Com o aumento da esperança média de vida, as pessoas contribuem de forma crucial para a sociedade e a economia durante mais tempo. A falta de tratamento da doença valvular representa assim uma barreira para o envelhecimento ativo”, explica Rui Campante Teles, acrescentando: “Por outro lado, a deteção precoce e o tratamento oportuno resultam num aumento da longevidade e da qualidade de vida”.

A doença da válvula cardíaca é causada por desgaste, doença ou dano de uma ou mais válvulas do coração. Estando ligada ao envelhecimento, pode também estar presente desde o nascimento (doença cardíaca congénita). É uma condição comum, que pode ser grave, mas tratável, e representa qualquer mau funcionamento ou anormalidade de uma ou mais das quatro válvulas do coração, afetando o fluxo de sangue através do coração.

Os sintomas da doença valvular cardíaca podem incluir aperto ou dor no peito, falta de ar, fadiga, batimentos cardíacos irregulares, desmaios e atividade física reduzida. No entanto, estes são sintomas comuns em pessoas acima dos 65 anos, sendo muitas vezes desvalorizados.

O coração tem quatro válvulas cardíacas que têm como função controlar o fluxo de sangue que entra e sai. Quando as válvulas do coração não funcionam corretamente podem surgir dois tipos de doença: a estenose aórtica (estreitamento da válvula aórtica) ou a regurgitação mitral (degenerescência da válvula mitral).

No caso da estenose aórtica não tratada, grave e sintomática, por exemplo, a taxa de mortalidade varia entre 25% e 50% por ano4,5. Um valor que pode facilmente ser revertido através do tratamento adequado, que passa pelo implante de uma nova válvula cardíaca, que pode ser feito através de uma cirurgia convencional ou de tratamento percutâneo (TAVI).

Como tal, a campanha tem como foco educar a população para estes sintomas, que não podem passar despercebidos e, desta forma, aumentar o número de pessoas tratadas atempadamente. Assim, é possível evitar desfechos mais graves, como a morte, sendo que mais de metade dos pacientes sintomáticos com estenose aórtica grave morrem dentro de dois anos após o desenvolvimento dos sintomas se não forem tratados.

No entanto, alguns doentes com doença valvular cardíaca não apresentam sintomas durante muitos anos ou nunca chegam a apresentá-los, mesmo que a doença seja grave, o que pode dificultar o diagnóstico. Avaliações médicas regulares, através da auscultação do coração com um estetoscópio, são por isso cruciais para que o doente possa ser encaminhado de imediato para um cardiologista, que poderá realizar exames complementares para confirmar o diagnóstico inicial.

A propósito da campanha, a SiosLife disponibiliza nas suas plataformas, que chegam a um universo de mais de cinco mil utilizadores seniores, informações-chave sobre a doença valvular cardíaca. A Tonic App junta-se também à campanha através da divulgação de materiais dirigidos aos profissionais de saúde.

Referências:

  1. d’Arcy J, Prendergast B, Chambers J, et al. 2011. Valvular heart disease: the next cardiac epidemic. Heart: 1136/hrt.2010.205096
  2. Nkomo VT, Gardin JM, Skelton TN, et al. 2006. Burden of valvular heart diseases: a population-based study. The Lancet 368(9540): 1005-11
  3. Danielsen R, Aspelund T, Harris TB, et al. 2014. The prevalence of aortic stenosis in the elderly in Iceland and predictions for the coming decades: The AGES–Reykjavík study. Int J Cardiol 176(3): 916-22
  4. Lange R, Beckmann A, Neumann T, et al. 2016. Quality of life after transcatheter aortic valve replacement: prospective data from GARY (German Aortic Valve Registry). JACC Cardiovasc Interv 9(24): 2541-54
  5. Leon MB, Smith CR, Mack M, et al. 2010. Transcatheter Aortic-Valve Implantation for Aortic Stenosis in Patients Who Cannot Undergo Sur­gery. N Engl J Med 363(17): 1597-607